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Sunday, March 27, 2011

Eu te amo

Sábado, 26 de março de 2011


Eu te amo



Já ouviu essas palavras dirigidas a você, olhos nos olhos? Acreditou nelas? Tem coisa melhor? Você já disse aquelas três palavrinhas sem desviar o olhar para o canto da sala? Foram levadas a sério? O que você está esperando? Por que temos medo de expressar o amor abertamente? Deixo as respostas claras e objetivas para as psicólogas da família, Carla e Silvana. 
   Meu negócio é contar histórias, mesmo que para sobreviver eu tenha escolhido a profissão de professor e mesmo que, por graças divinas, eu tenha tido a chance de ministrar e desfrutar de um curso de pós-graduação sobre a paixão. Temos lido muitas teorias e poemas sobre aquele tema apaixonante, mas, melhor ainda tem sido aqui e ali – no corredor ou no meu escritório, por exemplo – ouvir alguns casos de amor “de arrepiar”. O assunto mexe com quase todas as pessoas.  Ao final da nossa aula inaugural, portanto, quando mal tínhamos iniciado o curso, a aluna Nélia Alves passou por mim e me disse,
“Professor, não sei quantos relacionamentos vão sobreviver a esse curso!”
Eu não sabia o que lhe dizer.
Hoje em dia as pessoas podem vivenciar uma paixão e de fato escrever ou dizer “eu te amo” de diversos modos – muitas vezes, por meios eletrônicos. As pessoas podem estar distantes, em diferentes cantos do mundo, por exemplo, ou na mesma cidade ou até no mesmo prédio. Aparentemente a mídia social e intelectual (do tipo FaceBook, MySpace, Orkut e YouTube) chegou para ficar e dominar os processos de comunicação e, em particular, de amizade e romance. A inspiração para esta crônica, aliás, veio-me de um link a um vídeo, o comercial de Yasmin Ahmad, documentarista da Malásia, vencedor do Leão de Ouro no Festival de Cannes de 2008. Disponível no YouTube, o vídeo foi postado por uma ex-aluna, uma amiga portuguesa muito querida, Sandra Sousa. Quase que imediatamente espalhei aquele link,www.youtube.com/watch?v=3fo3WJ1orvk, pela minha própria página no FaceBook. Quatro amigas se manifestaram a respeito dele: duas delas, Ana Catarina Teixeira e Débora Ferreira, lá de Utah, nas Montanhas Rochosas; a Catherine Kolar, do norte de Minnesota; e outra, de Londres, a Rosa Mignacca.
O vídeo, de um minuto e 43 segundos, primeiro mostra a pergunta: “Você tem medo de dizer ‘eu te amo’?” Depois escreve em branco sobre uma tela negra: “Tan Hong Min apaixonado,” menino que então será entrevistado em inglês por uma mulher anônima e invisível. Talvez aos seis ou sete anos de idade, ele diz,
“O nome dela é Umi. Umi Qazerina”.
“Por que você gosta dela?”
“Ela tem brincos e rabo de cavalo. Ela é bonita.”
“O que você gostaria de falar para ela?”  
Sorrindo, meio embaraçado, responde:
“Você quer sair comigo?” E acrescenta: “Para um jantar romântico”.
“Ela sabe que você gosta dela?”
“Não. Deixo em segredo.”
“Por quê?”
“Não quero que o mundo inteiro saiba.”
“Por que não?”
“Por que todos iriam rir de mim.”
“Por que eles iriam rir de você?”
“Porque ela não gosta de mim.”
Em seguida, uma garotinha de rabo de cavalo  se apresenta no vídeo:
“Meu nome é Umi Qazerina.”
A entrevistadora pergunta-lhe,
“Quem é seu melhor amigo?”
“Tan. Tan Hong Min.”
Quando a mulher lhe pergunta, “Você gosta dele?”, Umi não responde. Logo vem outra pergunta, “Você tem namorado?”
Ela faz um gesto afirmativo com a cabeça e diz, “Tan Hong Min”.
O rosto de Tan se transfigura num belo sorriso. Seu queixo literalmente cai de felicidade. Ele logo põe a mão direita no braço esquerdo de Umi. Ambos dão meia volta e saem para o mundo, abraçados. O vídeo termina com esses dizeres: “Nossa vida é definida pelo medo ou pelo amor. Ame! =)”
Lembrei-me de meu primeiro puppy-love, um amor de criança: Miriam Magda Carvalho. Acho que era correspondido, sim, mas até hoje não sei. Sei que eu morria de medo de não ser. Eu tinha entre sete e nove anos. Aquele amor nasceu e morreu platônico, mas a amizade jamais acabou. Pena que aquelas palavras mais doces nunca foram ditas. Umi e Tan, esses dois simpáticos baixinhos do século XXI, era do email e do FaceBook, tiveram mais sorte: um cupido eletrônico e internacional. Bom para eles! Você, não arrume desculpas, não. Abra o coração, sem medo e sem ilusão!

Saturday, March 12, 2011

Beijo tua boquinha gulosa (Cartas de Guimarães Rosa)


P.S.: Beijo tua boquinha gulosa
Eliane Brum
Revista Época
05/09/2008 - 22:29 - ATUALIZADO EM 10/09/2008 - 17:35
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI12009-15254,00-PS+BEIJO+TUA+BOQUINHA+GULOSA.html

 As cartas de amor de Guimarães Rosa para Aracy revelam o lado mais sensual do autor de Grande Sertão: Veredas
Reprodução arq. pessoal
MUSA Aracy Guimarães Rosa, na época em que encantou o escritor. Hoje, ela ainda vive, aos 100 anos
Olhe bem para a boca da bela mulher do retrato. Para esses lábios, um dos maiores nomes da literatura brasileira escreveu: “Antes e depois, beijar, longamente, a tua boquinha. Essa tua boca sensual e perversamente bonita, expressiva, quente, sabida, sabidíssima, suavíssima, ousada, ávida, requintada, ‘rafinierte’, gulosa, pecadora, especialista, perfumada, gostosa, tão gostosa como você toda inteira, meu anjo de Aracy bonita, muito minha, dona do meu coração”.
Sim, ele mesmo. João Guimarães Rosa, o autor de Grande Sertão: Veredas, entre outras obras-primas da língua portuguesa, o diplomata sempre refinado do Itamaraty, escreveu essas linhas condimentadas e centenas de outras para a grande companheira de sua vida, num estilo que em nada lembra a prosa de Riobaldo e Diadorim. Quando “Joãozinho” escrevia para “Ara” (era assim que eles chamavam um ao outro ), era direto, rasgado, explícito. Só pensava em “boquinha sabida”, “pintazinha do pé esquerdo”, “camisolinha cor-de-rosa”.
O acervo – grande parte dele inédito – é composto por 107 cartas, 44 postais, bilhetes e telegramas, escritos por Rosa para Aracy entre 24 de agosto de 1938 e 18 de agosto de 1960. A pesquisa da correspondência foi confiada a duas estudiosas da obra do escritor, Neuma Cavalcante, da Universidade Federal do Ceará, e Elza Miné, da Universidade de São Paulo. Elas se dedicam agora a escrever a biografia de Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, uma personagem extraordinária por motivos que vão muito além da condição de mulher de grande homem.
O livro será lançado ainda no ano do centenário de Aracy, que se encerra em 20 de abril. “Quando comecei a ler as cartas, fiquei muito tímida, como sempre acontece quando lemos a correspondência de alguém”, diz Neuma. “Fiquei muito emocionada com a vida deles. Aos poucos, senti como se fossem da família.”
A pesquisa foi iniciada no fim da década de 90. Em 2006, Neuma e Elza publicaram um artigo analisando a correspondência amorosa, nos Anais do Seminário Internacional em comemoração aos 50 anos de Grande Sertão: Veredas. Na biografia que preparam, as cartas serão reveladas e ganharão sentido no contexto da vida e da época de Aracy.
Aos 100 anos, Aracy vive em São Paulo com a família de seu único filho, Eduardo Tess. Sofre de mal de Alzheimer e esqueceu-se de quem é. Rosa a conheceu ao desembarcar na Alemanha, em 1938, para assumir o posto de cônsul-adjunto em Hamburgo. No Brasil, ele deixara a primeira mulher e as duas filhas. Aracy, desquitada e com um filho pequeno, era funcionária do consulado. Já era notável por três características: a estampa de atriz, a língua afiada e uma determinação capaz de meter medo nos SS de Hitler. Apaixonaram-se.
Aracy fez sua própria lenda ao ajudar judeus a conseguir vistos para fugir da Alemanha nazista. Ao fazê-lo, ela desobedecia à diplomacia de Getúlio Vargas. Pelas vidas que salvou, recebeu o título de “Justa entre as Nações”, conferido pelo Museu do Holocausto, em Jerusalém.
Rosa morreu praticamente em seus braços, em 1967. Nas três décadas de sua história de amor, ele publicou os livros que o tornaram imortal. A Aracy dedicou sua obra-prima, Grande Sertão: Veredas. Dedicou, não. “Deu”, como explicou ao tradutor do livro para o francês.
A correspondência revela o alcance desse romance da vida real. Aracy era a amante cujo perfume – Femme – ele sentia mesmo quando havia um oceano entre eles. E era a crítica exigente de sua obra: “Melhor ficaria se a minha mulherzinha estivesse ao meu lado, (...) revendo os meus escritos e dando a sua acertada opinião. Digo isso, porque introduzi todas aquelas alterações propostas por você”.
As cartas iluminam o lugar de Aracy nas várias dimensões da vida de Rosa. E algumas são belas. Mas a delícia dessa correspondência, como de boa parte das cartas de amor de grandes literatos, são os trechos de absoluto desatino. As frases derramadas os aproximam da carne imperfeita dos leitores. Cada excesso, uma fragilidade exposta. Como apaixonado, o gênio é um homem comum. Até mesmo Fernando Pessoa – Todas as cartas de amor são ridículas/Não fossem ridículas não seriam cartas de amor – provou a agudeza de sua poesia ao cometer algumas bem estapafúrdias. Do amor ninguém escapa: nem os príncipes de Gales, nem os gênios.
Rosa reinventou a língua em sua obra, mas, como qualquer homem, ao pegar da caneta para escrever à amada, não inventou coisa alguma. Nada de “nonada”. No amor, era só “João Babão”. É um Rosa deliciosamente prosaico que emerge dessas linhas, chamando sua mulher de “m%” (“meu cem por cento”). E disposto a tomar veredas estilisticamente arriscadas para honrar os “pezinhos” de Aracy: “Meu amorzinho, podes, claro, comprar os três pares de sapatos de que gostaste. Se sobrar algo, compra outros chinelinhos, também. E... traz, depressa, os pezinhos para mim...”.

Sunday, March 6, 2011

Nova Antologia Poética de Vinicius de Moraes

Nova Antologia Poética de Vinicius de Moraes



(EDIÇÃO DE BOLSO)

Vinicius de Moraes tinha o "fôlego dos românticos" e a "liberdade dos modernos", na expressão de Manuel Bandeira, que participou da edição da primeira antologia do autor no começo dos anos 50. Cinco décadas depois, uma outra seleção de seus poemas vem à luz. A Nova antologia poética lança um olhar renovado sobre a produção de um dos poetas que mais influenciaram a cultura brasileira do século XX, tanto na literatura quanto na música popular.
A poesia de Vinicius de Moraes (1913-1980) é comumente dividida em duas fases distintas e antagônicas. A primeira, resultante de suas convicções cristãs, costuma ser definida como transcendental, metafísica e, muitas vezes, mística. A outra representaria um "movimento de aproximação do mundo material, com a difícil mas consistente repulsa ao idealismo dos primeiros anos", segundo o próprio poeta.

Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz rejeitam as leituras cristalizadas e os lugares comuns que se formaram em torno da obra do autor. O resultado é uma seleção que servirá tanto para apresentar Vinicius aos leitores não iniciados, como para oferecer ao público familiarizado com sua obra uma nova chave de compreensão.
A pertinência da nova coletânea pode ser explicada por uma declaração de Drummond: "Daqui a vinte, trinta anos, uma nova geração julgará estética e não emocionalmente o poeta, com uma isenção que não somos capazes de ter. Eu acredito que a poesia dele sobreviverá, independentemente de modas e teorias, porque responde a apelos e necessidades de todo ser humano".
Nova antologia poética foi lançada como parte da comemoração dos 90 anos de nascimento do poeta. Vinicius chega ao século XXI como o autor de uma poesia viva e apaixonada, que, nas palavras do professor e crítico Antonio Candido, "combina de maneira admirável o requinte da fatura com a expressão íntegra das emoções".


Companhia das Letras
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