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Sunday, February 27, 2011

Os Sentidos da Paixao

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Os Sentidos da Paixao

Conceito do Leitor:  Seja o primeiro a opinar
Coleção: COMPANHIA DE BOLSO
Organizador: NOVAES, ADAUTO
Assunto: FILOSOFIA



FISIOLOGIA DA PAIXÃO

FISIOLOGIA DA PAIXÃO
  
FISIOLOGIA DA PAIXÃO
O ENCÉFALO, OS NEUROTRANSMISSORES E A PAIXÃO
 O chamado diencéfalo ou cérebro primitivo, comum a todos os mamíferos, intervém, através do hipotálamo, no desejo, no interesse sexual e também recolhe as informações que chegam do exterior e dos hormônios, controlando-os e dando as respostas da excitação sexual, ejaculação, sensações de prazer e regulando as respostas emocionais e afetivas no comportamento sexual.
O sistema límbico discrimina e seleciona os estímulos, reconhecendo os sinais de saciedade (estar satisfeito) e inibindo o comportamento sexual.
A nossa sexualidade apresenta-se não apenas em nível dos estímulos (visuais,fantasias ,etc) ,como também na participação muito importante da emoção e sobretudo na aprendizagem. Algumas partes do nosso cérebro relacionam o ambiente e a cultura às nossas respostas sexuais. O resultado pode ter maior ou menor eficácia dando aos parceiros, maior ou menor prazer.
Razão, fantasia, emoção e aprendizagem se misturam em nosso cérebro dando respostas curiosas no dia a dia sexual do ser humano.
Os neurotransmissores cumprem uma função indispensável na ativação do impulso sexual, como por exemplo, quando as carícias e beijos levam a lubrificação vaginal e à ereção peniana.
Os cientistas conhecem a feniletilamina (um dos mais simples neurotransmissores) há cerca de 100 anos, mas só recentemente começaram a associá-la à paixão. Ela é uma molécula natural semelhante à anfetamina e suspeita-se que sua produção no cérebro possa ser desencadeada por eventos tão simples como uma troca de olhares ou um aperto de mãos.
O “affair” da feniletilamina com a paixão teve início com uma teoria proposta pelos médicos Donald F. Klein e Michael Lebowitz, do Instituto Psiquiátrico Estadual de Nova Iorque. Eles sugeriram que o cérebro de uma pessoa apaixonada continha grandes quantidades de feniletilamina, e que esta substância poderia responder, em grande parte, pelas sensações e modificações fisiológicas que experimentamos quando estamos apaixonados.
 PAIXÃO X TEMPO
Existe um limite de tempo para homens e mulheres sentirem os arroubos da paixão? Segundo a professora Cindy Hazan, da Universidade Cornell de Nova Iorque, sim. Ela diz: "seres humanos são biologicamente programados para se sentirem apaixonados durante 18 a 30 meses". Ela entrevistou e testou 5.000 pessoas de 37 culturas diferentes e descobriu que a paixão possui um "tempo de vida" longo o suficiente para que o casal se conheça, copule e produza uma criança.
A pesquisadora identificou algumas substâncias responsáveis pelo amor-paixão: dopamina, feniletilamina e ocitocina. Estes produtos químicos são todos relativamente comuns no corpo humano, mas são encontrados juntos apenas durante as fases iniciais do flerte. Ainda assim, com o tempo, o organismo vai se tornando resistente aos seus efeitos - e toda a "loucura" da paixão desvanece gradualmente - a fase de atração não dura para sempre. O casal, então, se vê frente a uma dicotomia: ou se separa ou habitua-se a manifestações mais brandas de amor - companheirismo, afeto e tolerância, e permanece junto. "Isto é especialmente verdadeiro quando filhos estão envolvidos na relação", diz a Dra. Hazan.
Os homens parecem ser mais susceptíveis à ação dessas substâncias. Eles se apaixonam mais rápida e facilmente que as mulheres. E a Dra. Hazan é categórica quanto ao que leva um casal a se apaixonar e reproduzir: "graças à intensidade da ilusão romanceada, achamos que escolhemos nossos parceiros; mas a verdade é conhecida até mesmo pelos zeladores dos zoológicos: a maneira mais confiável de se fazer com que um casal de qualquer espécie reproduza é mantê-los em um mesmo espaço durante algum tempo".
Com base em outras pesquisas desenvolvidas pela Dra. Helen Fisher, antropologista da Universidade Rutgers e autora do livro The Anatomy of Love, pode-se fazer um quadro com as várias manifestações e fases do amor e suas relações com diferentes substâncias químicas no corpo:
Manifestação
Conceito
Substância mais associada
Luxúria
Desejo ardente por sexo
Testosterona (aumento da libido – desejo sexual)
Atração
Amor no estágio de euforia, envolvimento emocional e romance
  • Altos níveis de dopamina e norepinefrina (noradrenalina): ligadas à inconstância, exaltação,  euforia, e a falta de sono e de apetite.
  • Baixos níveis de serotonina: tendo em vista a ação da serotonina na diminuição de fatores liberadores de gonadotrofinas pela hipófise, quanto mais serotonina menos hormônio sexual.
Ligação
Atração que evolui para uma relação calma, duradoura e segura.
Ocitocina (associada ao aumento do desejo sexual, orgasmo e bem-estar geral) e vasopressina (ADH), associada à regulação cardiovascular, atuando no controle da pressão sangüínea.
OS SENTIDOS E A PAIXÃO
 VISÃO
A visão é, provavelmente, a fonte de estimulação sexual mais importante que existe.
No homem, existem numerosos estímulos visuais envolvidos na atração sexual, que vão muito além da visão dos genitais do sexo oposto. A forma de mover-se, um olhar, um gesto, inclusive a forma de vestir-se, são estímulos que, enquanto potencializam a capacidade de imaginação do ser humano, podem resultar mais atraentes que a contemplação pura e simples de um corpo nu.
Segundo o neurobiólogo James Old, o amor entra pelos olhos.

Imaginemos duas pessoas que não se conhecem e se encontram em uma festa:
è Ambos se olham e imediatamente se avaliam, o que ativa neocórtex, especializado em selecionar e avaliar.
è O primeiro nível de avaliação de ambos será o biológico (tem orelhas, duas pernas etc) e enfim, geneticamente saudável.
è Depois a análise continua por padrões baseados na experiência de cada um: tipos físicos reforçados como positivos pelos pais, amigos e meios de comunicação.
è Simultaneamente se avaliam dentro de seu tempo e cultura: numa sociedade propensa a sucumbir a pragas e escassez de alimentos, mulheres mais cheinhas eram sinônimo de saúde e fortaleza.
Elas são mais seletivas
O neurobiólogo aponta que no caso feminino também existe um fator adicional e mais abstrato: o poder (também ocorrem mudanças com o tempo e cultura)
Segundo o pesquisador, como as mulheres geneticamente têm menos oportunidades para procriar (o número de gametas femininos é menor do que o de espermatozóides), elas buscam no selecionado a capacidade de prover e proteger seus filhos.
AUDIÇÃO
No homem, a aparição da linguagem representa um passo muito mais avançado como meio de solicitação sexual. Em praticamente todas as sociedades humanas, o uso de frases e canções amorosas constitui uma das preliminares mais habituais. Libertado o cérebro da carga social, uma frase erótica, sussurrada ao ouvido, pode resultar tão incitadora quanto um bramido de elefante na imensidão da selva.
De acordo com investigações do Krasnow Institute for Advanced Study of George Mason University, não só as primeiras palavras, mas também os tons de voz deverão responder aos padrões de saúde e genética desejados na escolha do(a) parceiro(a).
TATO: a pele com a qual amamos
A superfície do corpo humano, com aproximadamente dois metros quadrados de extensão é, poderíamos dizer, o maior órgão sexual do homem. Mais do que simplesmente um dos sentidos, o tato é a resultante de muitos ingredientes: sensibilidades superficiais (epidérmicas e dérmicas), profundas - como a proprioceptiva, ligada a movimento -, vontade de explorar e atividade motora, emoções,  memória, imaginação.
Existem cerca de cinco milhões de receptores do tato na pele - as pontas dos dedos tem uns 3.000 que enviam impulsos nervosos ao cérebro através da medula. O tato é provavelmente o mais primitivo dos sentidos. É a mais elementar, talvez a mais predominante experiência do ser humano, mesmo naquele que ainda não chegou a nascer. O bebê explora o mundo pelo tato. Assim, descobre onde termina seu corpo e onde começa o mundo exterior. Esse sentido é seu primeiro guia.
  
Imagem: BEAR, M.F., CONNORS, B.W. & PARADISO, M.A. Neurociências – Desvendando o Sistema Nervoso. Porto  Alegre 2ª ed, Artmed Editora, 2002.
 O sentido do tato proporciona um contato imediato com os objetos percebidos e, na relação humana, é uma experiência inevitavelmente recíproca: pele contra a pele provoca imediatamente um nível de conhecimento mútuo. Na relação com o outro, não é possível experimentá-la.
  
Imagem: BEAR, M.F., CONNORS, B.W. & PARADISO, M.A. Neurociências – Desvendando o Sistema Nervoso. Porto  Alegre 2ª ed, Artmed Editora, 2002.
 Encontramos homens com problemas sexuais que não beijam, não abraçam e nem acariciam sua parceira. Para quê? Pensam eles. Este modelo de comportamento impede que muitos casais desfrutem do prazer que pode proporcionar o simples fato de dar e receber carícias.
A estimulação tátil é uma necessidade básica, tão importante para o desenvolvimento como os alimentos, as roupas, etc.. O contato físico é a forma de comunicação mais íntima e intensa dos seres humanos, segundo alguns estudos, até os mais insignificantes contatos físicos tem notáveis efeitos.
Nós realmente "sentimos com o olho da mente" - Uma região do cérebro envolvida no processamento do sentido da visão é também necessária para o sentido do tato. Resultados da Universidade de Emory, que confirmam o papel do córtex visual na percepção táctil (toque), foram publicados na edição da revista Nature de 06/10/1999.
As conclusões do estudo são relevantes para o entendimento de não apenas como o cérebro normalmente processa a informação sensorial, "mas também como o processamento é alterado em condições como cegueira, surdez ou torpor e, principalmente, para melhoria dos métodos de comunicação em indivíduos que sofrem de tais desordens", de acordo com Krishnankutty Sathian, Ph.D.
Até recentemente, cientistas acreditavam que regiões separadas do cérebro processavam a informação advinda de vários sentidos. Essa idéia está sendo, agora, desafiada. As descobertas recentes de que o córtex visual de deficientes visuais é ativado durante a leitura em Braille não são tão surpreendentes se apreciadas por este contexto. Os resultados obtidos pelo grupo de pesquisa demonstram que uma região do córtex cerebral, associada à visão, é ativada quando os humanos tentam distinguir a orientação através do tato.
Juntamente aos depoimentos subjetivos da imagem visual e a ativação cortical parieto-occiptal associada, as descobertas levam a crer que o processamento visual facilita a discriminação tátil normal de orientação. Isso, provavelmente, está relacionado ao fato de que geralmente confiamos no sistema visual para nos orientarmos.
PALADAR
   Desde muito cedo, a boca é a primeira fonte de prazer. Com 16 semanas de vida, além de fazer caretas, levantar as sobrancelhas e coçar a cabeça, as papilas gustativas já estão desenvolvidas. A experiência tem demonstrado que o feto faz careta e para de engolir quando uma gota de substância amarga é colocada no líquido amniótico. Por outro lado, uma substância doce provoca a aceleração dos movimentos de sucção e deglutição.  
Aliás, o prazer do paladar continua na fase em que o bebê se amamenta através do mamilo da sua mãe. Daí para frente, o paladar fica cada vez mais apurado.
A boca é uma das partes que compõem o rosto de qualquer pessoa. Quanto a isto, não restam margem para dúvidas. Mas o que se calhar não sabe, é que a zona bocal é a última parte a adquirir todas as formas e recortes finais, embora seja a primeira a sentir as emoções iniciais da vivência.
A língua é a base de todo o paladar e a boca é uma das partes mais sensíveis do corpo e mais versáteis. Um beijo combina os três sentidos de tato, paladar e olfato. Favorece o aparelho circulatório, aumenta de 70 para 150 os batimentos do coração e beneficia a oxigenação do sangue. Sem esquecer que o beijo estimula a liberação de hormônios que causam bem-estar. Detalhe: na troca de saliva, a boca é invadida por cerca de 250 bactérias, 9 miligramas de água, 18 de substâncias orgânicas, 7 decigramas de albumina, 711 miligramas de materiais gordurosos e 45 miligramas de sais minerais. As terminações nervosas reagem ao estímulo erótico e promovem uma reação em cadeia. Ao mesmo tempo, as células olfativas do nariz – mais próximas da boca – permitem tocar, cheirar e degustar o outro.
OLFATO
   O amor não começa quando os olhares se encontram, mas sim um pouco mais embaixo, no nariz. "Há circuitos que vão do olfato até o cérebro e levam uma mensagem muito clara: sexo", explica Maria Rosa García Medina, especialista em sentidos químicos do Laboratório de Pesquisas Sensoriais do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet), da Argentina.
Alguns pesquisadores afirmam que exalamos continuamente, pelos bilhões de poros na pele e até mesmo pelo hálito, produtos químicos voláteis chamados ferormônios.
Estudos têm demonstrado que a maior parte das espécies de vertebrados tem um órgão situado na cavidade nasal denominado órgão vomeronasal (OVN). A finalidade do OVN parece ser exclusivamente a de detectar sinais químicos – os ferormônios - envolvidos no comportamento sexual e de marcação de território.
Atualmente, existem evidências intrigantes e controvertidas de que os seres humanos podem se comunicar com sinais bioquímicos inconscientes. Os que defendem a existência dos ferormônios baseiam-se em evidências mostrando a presença e a utilização de ferormônios por espécies tão diversas como borboletas, formigas, lobos, elefantes e pequenos símios. Os ferormônios podem sinalizar interesses sexuais, situações de perigo e outros.
Os defensores da Teoria dos Ferormônios vão ainda mais longe: dizem que o "amor à primeira vista" é a maior prova da existência destas substâncias controvertidas. Os ferormônios – atestam – produzem reações químicas que resultam em sensações prazerosas. À medida em que vamos nos tornando dependentes, a cada ausência mais prolongada nos dizemos "apaixonados" – a ansiedade da paixão, então, seria o sintoma mais pertinente daSíndrome de Abstinência de Ferormônios.
Com ou sem ferormônios, é fato que a sensação de "amor à primeira vista" relaciona-se significativamente a grandes quantidades de feniletilamina, dopamina e norepinefrina no organismo. E voltamos à questão inicial: até que ponto a paixão é simplesmente uma reação química?
Um tradicional exemplo do estreito vínculo entre olfato e desejo é a síndrome de Kalman, um quadro genético de alteração hormonal que prejudica a puberdade e que está acompanhado por uma ausência congênita do olfato. Com a ajuda de tratamento, esses pacientes chegam a ter níveis normais de hormônios, mas não recuperam o olfato e isso têm efeitos diretos em sua vida afetiva.
O laboratório canadense Pheromone Sciences Corp. isolou e caracterizou os diversos ferormônios extraídos do suor. Uma primeira pesquisa revelou que o composto pode estimular a libido em homens e mulheres. Os pesquisadores esperam que, em um futuro não muito distante, esse derivado de ferormônios possa servir como tratamento efetivo e seguro para determinadas disfunções sexuais. Inclusive como complemento de remédios como o Viagra.
"Alguns derivados dos ferormônios já são usados para casos de frigidez feminina e ajudam na primeira etapa da sexualidade, que é o desejo", afirma García Medina. "Isso pode ter um grande potencial em outros tipos de disfunções sexuais, mas ao mesmo tempo, reacende questões éticas: É lícito interferir dessa forma no comportamento de uma pessoa?"
Não há duas pessoas que possuam exatamente o mesmo cheiro, embora haja algumas semelhanças entre membros de uma mesma etnia. O odor corporal é fortemente influenciado pelo tipo de alimentação e influencia nossas preferências por certos aromas. Pessoas que gostam de comidas muito temperadas também preferem fragrâncias fortes e penetrantes, como as que contêm patchuli, sândalo ou gengibre. Aquelas que consomem mais laticínios preferem fragrâncias florais, como lavanda e néroli (flor de laranjeira). A alimentação branda porém saudável dos japoneses, baseada principalmente em peixes, verduras e arroz, em conjunto com os banhos freqüentes e meticulosos, é uma das razões pelas quais seu odor corporal é praticamente inexistente, ao menos para o olfato de outras etnias. Os japoneses são atraídos por fragrâncias delicadas. E, enquanto os esquimós são tidos como tendo cheiro de peixe e os africanos cheiro de amoníaco, o resto do mundo concorda que o cheiro azedo dos europeus é o mais nauseante (neste caso não seria pela conhecida carência de banho?).
Há duas décadas atrás, cientistas europeus conseguiram reproduzir os ferormônios em laboratório. Alguns anos mais tarde, empresários americanos compraram a fórmula, fabricaram o produto em quantidades industriais e o engarrafaram em belos vidrinhos. Agora, os tais ferormônios estão à venda na Internet. O representante brasileiro do perfume americano The Scent promete: "É garantido! Você vai conquistar a mulher dos seus sonhos pelo cheiro". No site da empresa, o extrato de ferormônios é promovido como um "afrodisíaco natural", uma "química revolucionária", um "grande segredo vindo da natureza"; em síntese: "um estimulante sexual da mulher", que foi "inteligentemente mascarado como uma colônia masculina".  Segundo seus fabricantes, este produto mágico age diretamente no subconsciente da mulher, despertando seu desejo sexual sem que ela saiba o porquê de se sentir loucamente atraída pelo galã perfumado. Mesmo sem explicações válidas, o site jura que "ela ficará totalmente a sua mercê". Ficou curioso? As belas promessas continuam: "você usa, é invisível, não tem cheiro, ninguém ficará sabendo, só você. É a ciência médica interferindo na nossa vida sexual, uma arma que ajudará nas suas conquistas". Segundo os responsáveis pelo produto, o sujeito que utilizar a poderosa colônia atrairá todos os olhares femininos, gerando "mais contatos imediatos e, sem dúvida, uma vida sexual mais ativa do que poderia um dia imaginar, não importa a sua aparência, não importa o nível social. Onde quer que você esteja, passará a chamar muita atenção, como um imã". Mas será que funcionam mesmo? Como você já deve ter percebido, o mesmo perfume ou loção após a barba, exala diversos cheiros em diferentes pessoas, especialmente naquelas do sexo oposto. À medida que a fragrância vaporiza e interage com nossa química própria, várias mudanças do aroma tornam-se perceptíveis.
Finalizando
Apesar de todas as pesquisas e descobertas, existe no ar uma sensação de que a evolução, por algum motivo, deu-se no sentido de que o amor não-associado à procriação surgisse – calcula-se que isto se deu há aproximadamente 10.000 anos. Os homens passaram realmente a amar as mulheres, e algumas destas passaram a olhar os homens como algo mais além de máquinas de proteção.
A despeito de todos os tubos de ensaio de sofisticados laboratórios e reações químicas e moléculas citoplasmáticas, afinal, deve haver algo mais entre o céu e a terra...
De qualquer forma, quando decidimos que temos química com alguém, o mais provável é que estejamos literalmente certos

Referências Bibliográficas sobre Paixão e Psicanálise

II Bienal sobre Psicanálise e Cultura -- Referências
Sociedade Brasileira de Psicanálise de R. Preto, SP 

Referências Bibliográficas sobre o tema Paixão e Psicanálise


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O que será: indagações da paixão

O que será: indagações da paixão


Estudos de Psicanálise

versão ISSN 0100-3437

No.33 Belo Horizonte jul. 2010

 


O que será: indagações da paixão

What will it be: investigations of passion


Miriam Elza Gorender 1
Círculo Psicanalítico da Bahia



RESUMO
Este trabalho é a transcrição da fala de abertura da Jornada do Círculo Psicanalítico da Bahia sobre a Paixão, reunindo e organizando diversos conceitos e questões sobre o tema.
Palavras-chave: Paixão, Psicanálise, Filosofia

ABSTRACT
This paper is the transcription of the opening speech for the Symposium held by Círculo Psicanalítico da Bahia about Passion, collecting and organizing several concepts and questions on the theme.
Keywords:Passion, Psychoanalysis, Philosophy.



Qual joia polifacetada, o que percebemos da paixão muda de acordo com o ângulo pelo qual a olhamos. Filosofia, Psiquiatria, Psicanálise, cada campo de saber tem para ela diferentes visões. Palavra de múltiplos sentidos, conceito de múltiplas formas, este trabalho busca arrolar algumas das muitas indagações que seu estudo suscita.
Se parecer que pergunto demais, argumento antecipadamente, que acredito que, mais do que fatos ou respostas, é nossa capacidade de questionamento que nos faz avançar.
Também não afirmo ser capaz de formular, em apenas uma fala, todas as dúvidas que se pode ter dentro deste tema, mas procurei fazer aqui uma síntese de pelo menos algumas das áreas que, acredito, serão debatidas aqui por todos nós. Senão vejamos: é no mínimo interessante notar que a Psicanálise, ao tratar da paixão, não se ocupa primariamente do afeto em si, de seus efeitos imediatos ou da questão do que fazer diante dela, ou se seria melhor dominá-la ou extirpá-la, questões mais bem tratadas pela Filosofia. Já a Medicina biologicista, que não será tratada aqui, quer saber como surgiu, qual seu papel na sobrevivência e evolução da espécie humana, e seu objetivo é o poder, ilusório, de provocá-la ou anulá-la. A Psicanálise quer compreender, entre outras coisas, não apenas qual o mecanismo da paixão, mas o que se quer com ela e ainda se, neste querer, é isto mesmo o que se quer.
Paixão, num primeiro significado, tem o sentido de tendência - e mesmo de uma tendência bastante forte e duradoura para dominar a vida mental. Ora, é interessante para nós que este significado da palavra paixão traga em sua franja o sentido etimológico de passividade (paschein, pathos), sentido lembrado por Descartes no começo do Tratado das Paixões: "Tudo o que se faz ou acontece de novo é geralmente chamado pelos filósofos de paixão relativamente ao sujeito a quem isso acontece, e de ação relativamente àquele que faz com que aconteça" (LEBRUN, 1987, p. 17).
Descartes remete aí à definição aristotélica do agir e do padecer, sendo o primeiro considerado superior, uma vez que o padecente é mudado por algo de fora, e, para ser mudado, é preciso que haja movimento, e os gregos consideravam o imutável superior.
E mais: podemos pensar a paixão como impulso que nos leva, malgrado nosso, a praticar uma ação (externo, alienado, outro), ou como algo constitutivo de nosso ser?
Os estoicos defendiam que as paixões deviam ser extirpadas, não dominadas, transformando a sabedoria numa cirurgia das paixões. Essa posição era, aos olhos de Nietzsche, uma fraqueza, uma incapacidade de enfrentar as perturbações da alma. A paixão é aí uma tendência a ser domada ou um mal a ser extirpado?
Compreendido como um afeto mórbido que posso vir a controlar, o pathos carrega originalmente dois conceitos bem diferentes: o passional, que faz surgir a ética, e o patológico, que remete ao diagnóstico médico. Por exemplo, o conceito de crime passional como circunstância atenuante. O ato provocado por impulso demasiado forte é resultado da fraqueza de um indivíduo que, responsável por suas paixões, não consegue controlar-se, ou doença que o coloca fora de si mesmo?
Ao desconsiderar os conceitos de vontade e responsabilidade, renuncia-se à distinção entre passional e patológico. É o que a Medicina atual procura fazer com seu novo fatalismo científico, considerando patológica a paixão, algo a ser curado. O indivíduo não deve mais ser sábio ou virtuoso, mas sadio e adaptado. A paixão não é mais um componente do caráter que deve ser governado, mas um fator perturbador, a ser eliminado como queriam os estoicos. A Medicina ocupa cada vez mais o lugar da ética. Será isto desejável? Os biologicistas defendem que a mudança é benéfica, mas acredito que devemos pesar os possíveis benefícios contra a constituição, não apenas possível mas em pleno curso, de um novo totalitarismo. É possível um meio-termo?
Já Rouanet (1987) fala da distinção entre a razão louca e a razão sábia. Fundamenta-se aí na correlação entre razão e paixão, e entre Ego e Id em Freud: "O Ego representa o que chamamos a razão e a reflexão, enquanto o Id, pelo contrário, é dominado pelas paixões" (FREUD, 1923).
Na razão louca, o Ego seria dominado, e a percepção do mundo passa a ser colorida e determinada pela lógica dos processos internos. Na razão sábia, haveria uma renúncia e um afastamento da influência perturbadora dos afetos. Seria isto possível? Trata-se de uma imparcialidade verdadeira ou, como no conceito lacaniano de desejo do analista, que aqui a paixão pelo conhecimento se superponha a qualquer outra?
Na fronteira entre Filosofia e Psicanálise, encontramos a questão do amor como paixão e da busca da felicidade.
Ganha aí realce a força do mito do amor, força essa sustentada pela promessa de felicidade plena nas chamadas "histórias de amor", mas também é possível apontar a estratégia desse mito: manter essa promessa de felicidade, afastando o impossível, uma das denominações do real para Lacan, ou transformando-o em proibido. Freud já observara que o amor tende a funcionar como modelo de busca da felicidade e reconhecera sua natureza ilusória no sentido de consolar e tornar tolerável o mal-estar próprio do desejo humano.
Boa parte dos textos psicanalíticos sobre a paixão trata dela sob o signo do narcisismo. As paixões do amor e ódio aparecem aqui como lados de uma mesma moeda, moeda essa cuja ocorrência é o englobamento, imaginário. Assim, no amor, o objeto engloba o eu para aumentá-lo, no ódio o eu incorpora o objeto para aniquilá-lo.
Segundo Maria Rita Kehl, o modelo principal seria a fusão narcísica inicial com o corpo da mãe, na qual (assim como em momentos privilegiados da paixão...) "o mundo desaparece, eu sou o mundo, o mundo é uma extensão de mim" (KEHL, 1987, p. 475).
A primeira fantasia que surge nas relações apaixonadas da vida adulta é a da restauração de nosso narcisismo primário; a primeira esperança do (a) apaixonado (a) é encontrar no ser amado sua total completude. As fantasias do início de uma relação apaixonada não concedem existência própria ao outro, que se torna um depósito das fantasias mais arcaicas, um representante da possibilidade de restauração do narcisismo ferido. O apaixonado pode escolher, então, quando das primeiras desilusões, entre a morte da paixão ou sua própria.
Kehl (1987) fala do destino do excesso de energia das paixões. Não estará ela aí igualando paixões a pulsões? E é possível ou mesmo aconselhável trabalhar com essa relação como sendo de equivalência? Freud se refere a Eros e Tanatos como paixões do id, mas em que sentido teria usado a palavra? Ainda, o conceito de pulsão é o de pulsão parcial. Qual a relação entre a parcialidade das pulsões e a ilusão de totalidade das paixões?
Ainda segundo Kehl (1987), a repressão, dissociando o desejo de seu objeto original, aliena a pessoa que fica cega para seus desejos, presa fácil de líderes totalitários. Fala da matéria burra das paixões. Ou seja, seria possível usar esse mecanismo para chegar a uma melhor compreensão de fenômenos como o nazismo? Sendo o ser humano um animal político, essa certamente é uma das principais arenas para as paixões. Pode o melhor entendimento dessas fornecer uma ferramenta para a política? Pessoalmente, creio que o máximo a que se poderia aspirar tomaria a forma de uma arma, uma melhor forma de manipulação das massas e indivíduos, mas mantenhamos a questão.
Neste tornar equivalente pulsão e paixão, Kehl (1987) chega ao conceito de sublimação, que seria a possibilidade de expressão simbólica desses desejos. Assim, a paixão bem-sucedida costumaria ser silenciosa. Daí a passagem ao que chama amor sublime, no qual "o desejo, longe de perder de vista a carne que lhe deu a luz, tende em definitivo a erotizar o universo" (PERET apud KEHL, 1987, p. 485). É possível uma paixão bem sucedida? Ou, para o efeito desejado, seria necessária uma desidealização e dissolução da paixão com a transformação desta em amor, como quer Roberto Coura (2000)? Seria a ideia de uma paixão bem-sucedida algo utópico?
Nos dias de hoje, a repressão tem como aliada a sedução do mercado, que veio a substituir, por exemplo, os rituais da corte francesa, criados por sua vez para substituir e moderar a violência que imperava e fazia com que muitos nobres e soldados perecessem em brigas, assassinatos e duelos. Troque suas paixões pelo desejo de possuir um objeto.
Kehl (1987) afirma que, hoje, a Psicanálise não luta contra a histeria, mas contra o narcisismo.
Nesse caso, quais as relações entre paixão, narcisismo e gozo? Seria verdadeiramente na paixão que mais se aproximam, via narcisismo, o ser e o ter?
À busca dessa completude perdida, Lacan chamou de Paixão do ser, que são paixões da relação com o Outro. Diz ele: "A ignorância, de fato, não deve ser entendida aqui como uma ausência de saber, mas tal como o amor e o ódio, como uma paixão do ser: porque ela pode ser, à semelhança deles, uma via em que o ser se forma" (LACAN, 1998, p, 360). A falta-a-ser determina a paixão da busca de completude no Outro. Trata-se aí do grande Outro ou de um outro imaginário? As paixões dão também consistência ao Outro, buscando o ideal no amor, o apagamento no ódio e o saber na ignorância.
Freud já havia relacionado essas três paixões no seu ensaio sobre Leonardo, sobre quem escreve:
Seus afetos eram dominados e submetidos à pulsão da pesquisa; não amava ou odiava, porém se perguntava acerca da origem e do significado daquilo que deveria amar ou odiar. Parecia assim forçosamente indiferente ao bem e ao mal, ao belo e ao horrível. Durante esse trabalho de pesquisa, o amor e o ódio se despiam de suas formas positivas ou negativas e ambos se transformavam apenas em objeto de interesse intelectual. Na verdade, Leonardo não era insensível à paixão; não carecia da centelha sagrada que é direta ou indiretamente a força motora -iI primo motore- de qualquer atividade humana. Apenas convertera sua paixão em sede de conhecimento; entregava-se, então, à investigação com a persistência, constância e penetração que derivam da paixão e, ao atingir o auge de seu trabalho intelectual, isto é, a aquisição de conhecimento, permitia que o afeto há muito reprimido viesse à tona e transbordasse livremente, como se deixa correr a água represada de um rio (FREUD, 1980[1910], p. 83).
Há, na transferência, uma relação entre o amor ou ódio ao analista e o pacto entre o não querer saber de si e a suposição de que o outro detém esse saber? Ou seja, a ignorância seria uma paixão derivada das duas primeiras, como sugere Freud, ou originária e desde sempre constitutiva do ser, como afirma Lacan?
A outra referência maior de Lacan à paixão se deve ao conceito de paixões da alma de São Tomás de Aquino, como este último escreve no seu Comentário ao De Interpretatione:
Se o homem fosse naturalmente um animal solitário, ser-lhe-iam suficientes as paixões da alma, pelas quais se conformaria às próprias coisas, de tal modo que, por meio delas, tivesse em si a notícia das coisas. O Filósofo inicia o Livro sobre a Interpretação por um tratado sobre a significação das vozes, dizendo: "As coisas, portanto, que estão nas vozes, são sinais das paixões que estão na alma; e as coisas que se escrevem são sinais das coisas que estão nas vozes". O Filósofo propõe aqui três coisas, de uma das quais pode-se inferir uma quarta. Propõe, de fato, a escritura, as vozes e as paixões da alma. Das paixões da alma, porém, podem inferir-se as coisas ou a realidade, pois as paixões da alma procedem da impressão de algum agente e assim devemos dizer que as paixões da alma têm sua origem das próprias coisas ou realidade (AQUINO, 2010).
Na primeira modernidade, diferentes discursos sobre os afetos difundem a ideia de que o prazer e a dor fariam parte conjuntamente da maioria das atividades dos seres vivos e, no caso dos seres humanos, estariam diretamente relacionados às paixões da alma.Essa noção orienta, por exemplo, o De l'usage des passions, publicado em 1641 por Jean-François Senault, um dos mais célebres pregadores franceses de seu século. Esse tratado, oferecido formalmente ao cardeal Richelieu, está fundamentado, sobretudo, na noção de alma e corpo aristotélico-tomista. Em sintonia com São Tomás de Aquino, Senault afirma que a paixão é um movimento natural necessário, que nasce do fato de a alma estar engajada na matéria. Dentre todas, a dor seria a mais incômoda e a mais comum das paixões humanas. Isto, sobretudo, ao se comparar com o prazer. Segundo Silva,
Luca Tozzi (1638-1717), professor da universidade de Nápoles, que se tornou também médico oficial do Reino e substituiu Marcelo Malpighi na função de médico do pontífice Clemente XI, sintetiza os efeitos nocivos e dolorosos das paixões da alma: de fato, é evidente que do amor nascem a confusão, a loucura, a febre, a insônia, a inquietude e, por vezes, a morte. [...] do mesmo modo, mais de uma vez, o ódio gerou febres e furores. Do medo derivam o resfriamento do corpo, o desfalecimento, e a perda de todos os membros; da alegria, o exaurimento das forças e a síncope. Enfim, da inveja nascem angústias, deterioração, delírios melancólicos, suspiros lamentosos e outros acidentes do gênero, sobretudo quando tais perturbações são excessivas, imprevistas e persistentes (DINI, 1681 apud SILVA, 2007, p. 58).
Como vemos, as paixões da alma têm suas raízes e frutos entranhados no corpo.
A partir de Tomás de Aquino, Lacan (2005) irá dar como exemplo contrário a tristeza e a mania. A tristeza é por ele qualificada não como estado d'alma, mas antes como falta ou covardia moral, um pecado contra o bem-dizer, no inconsciente. Pecado sem perdão ou absolvição, fundado na manutenção do gozo e ao qual todos são condenados, para sermos redimidos apenas breve e fugazmente pela emergência do simbólico. Vinicius de Morais nos diz que 'tristeza não tem fim, felicidade sim'. Concordaria Lacan com Vinicius?
Eis a citação de Lacan (2003, p. 524) sobre as paixões da alma:
Será que a simples ressecção das paixões da alma, como São Tomás denomina com mais justeza esses afetos, a ressecção, desde Platão, dessas paixões segundo o corpo - cabeça, coração, ou até, como diz ele, sobrecoração - já não atesta ser necessário, para abordá-las, passar pelo corpo, que afirmo só ser afetado pela estrutura?
Indicarei por onde poderia se dar uma sequência séria, a ser entendida como serial, ao que prevalece como inconsciente nesse efeito.
A tristeza, por exemplo, é qualificada como depressão, ao se lhe dar por suporte a alma, ou então a tensão psicológica do filósofo Pierre Janet. Mas esse não é um estado de espírito (état d'âme), é simplesmente uma falha (faute) moral, como se exprimiam Dante ou até Espinosa: um pecado, o que significa uma covardia moral, que só é situado, em última instância, a partir do pensamento, isto é, do dever de bem dizer, ou de se referenciar no inconsciente, na estrutura.
O que se segue - bastando que essa covardia, por ser rechaço (rejet) do inconsciente, chegue à psicose - é o retorno no real daquilo que foi rechaçado: é a excitação maníaca pela qual esse retorno se faz mortal.
Esse trecho se refere a uma pergunta sobre o afeto como energia natural, e seu objetivo é contrapor-se a esse ponto de vista, mostrando, ao contrário, o corpo como afetado pela estrutura. A tristeza ou a mania, tidos como pecados da manutenção do gozo não simbolizado, se sustentam ainda aí enquanto paixões?
Entre os autores pesquisados, haveria pelo menos mais um a destacar: Marcus André Vieira, que propõe um modelo dos afetos fundado na ética lacaniana.
O autor supracitado considera que a paixão, fora do registro energético e vinculada a uma reflexão ética, é a contribuição essencial de Lacan à questão. Vejamos o que diz (2001):
Inicialmente a emoção. Postulemos que a emoção é o termo reservado para Lacan a tudo aquilo que situa o afeto no registro da agitação de um corpo concebido como anterior à estrutura e não secundário a ela. Sob essa rubrica, vamos reservar tudo o que se propõe como pura expressão do animal no homem, seu lado orgânico, genético, tudo que se refere à herança da raça, o atávico e o ancestral, o arcaico, enfim, o Outro em seu aspecto imaginário de inimigo ou amigo mais íntimo, o outro do espelho, por vezes cara-metade, por vezes perseguidor. Aqui se inserem os afetos de ódio e amor no que eles se situam no nível especular (evidentemente estamos definindo um sentido de emoção que não é o do uso comum, normalmente se utilizaria o termo "paixão" para designar esses estados de fascinação e arrebatamento, lugar da captação imaginária; contudo, mesmo utilizando-a vez por outra nesse sentido, Lacan reserva um outro lugar para a paixão, razão pela qual estamos autorizados a efetuar essa partilha que tem muito de artefato).
No vértice do sentimento, vamos localizar tudo aquilo que do afeto se articula em palavras, aquilo que vem nomear um indizível e que, justamente por ter sido colocado em palavras, passa a doer como se fosse anterior a elas. Como diz Lacan, o afeto vem ao corpo e não provém dele.
Finalmente, a paixão. Colocar em evidência o papel da paixão, ao lado do sentimento e da emoção, teria sido, segundo Lacan, a contribuição propriamente freudiana para o tema do afeto. Por compreender essa revolução, ele descarta toda a literatura sobre o afeto na Psicanálise, que tinha basicamente optado por um lado ou por outro do abismo, ou ainda buscado um compromisso entre suas bordas. De fato, as seguintes alternativas sempre tinham atormentado os psicanalistas: o afeto seria um fenômeno de descarga (emoção) ou de investimento (sentimento)? Mais dependente e mais próximo da energia pulsional ou da representação? Lacan vai buscar suas referências em Spinoza e Dante e insistir que se trata de uma articulação entre o psíquico e o somático, ou melhor, entre significante e gozo, que só é apreensível se nos referirmos à reflexão ética, que tradicionalmente conjuga pensamento e ação. Deslocar o debate de "representação e energia" para "pensamento e ação" é o que o direito de cidadania dado neste campo à paixão torna possível.
Na emoção, o real é figurado como um ser supremo, um significado fundamental que determina e justifica todos os outros. No sentimento, ele é o silêncio desagregador que nada diz, só dispersa os sentidos estabelecidos. Na paixão, ele será o paradoxo de uma escrita que não é comunicação, uma mensagem fora do sentido. O modo mais imediato de apreendê-lo é através da imagem do escravo mensageiro que carregava, escrita a ferro e fogo, uma mensagem em seu couro cabeludo.
Ou seja, o autor equipara aí a paixão à Letra, como suporte do significante e como provinda do Outro. Assim os estigmas, passando de Cristo a São Francisco e daí se espalhando por imagens e corpos como emblemas da paixão.
Assim Édipo, seguidor involuntário das marcas deixadas em seu corpo perfurado, trespassado nos pés ao nascer e nos olhos no ápice de sua paixão. Não seria de admirar que terminasse a vida como andarilho e vidente, pré-vendo em Colono a hora e forma de sua morte.
São dois modelos distintos de afeto para falar de paixão, um originado no narcisismo e no domínio do imaginário, outro fundado no corpo e no real da estrutura. Um tem como representante o fogo que aquece e destrói, outro traz a marca do signo que, fora do sentido, é produtor de significações. É possível manter, simultaneamente, estes dois modelos de afeto no mesmo campo da Psicanálise?
Para terminar, quais as relações entre paixão, repressão e inibição? Nossa época é marcada em relação à paixão, pelo menos no que podemos observar na clínica, acima de tudo por sua falta. A superabundância de gozo barra, por seu próprio excesso, o surgimento e exercício da paixão. Assim como a paixão falta, a inibição domina uma parte importante de nossa clínica atual. A impossibilidade de amar, de fazer, de pensar é lugar comum nos analisandos dos nossos dias. O preço do gozo é, então, não a ação e satisfação contínuas, mas a sua paralisação? No Admirável Mundo Novo, de Huxley (1932), os habitantes de uma utopia planejada e medida, com seus prazeres obrigatórios e cotidianos, tomam regularmente, além do soma, um "substituto de paixão violenta". Quais os nossos substitutos regulares da paixão violenta?
Enfim, com tantas perguntas e outras mais à espera de quem as formule, espero que tenhamos, até o final de nossa jornada, apresentações apaixonantes e debates apaixonados. Que a paixão pelo saber nos una nessa empreitada!

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Endereço para correspondência
Rua Marques de Caravelas, 217/901 - Barra
40140-241 - Salvador/BA
Fone: (71)3264-2523
E-mail: miriamgorender@gmail.com
Recebido: 24/03/2010
Aprovado: 01/07/2010


1 Psicanalista, membro do Círculo Psicanalítico da Bahia, professora adjunta do Departamento de Neurociências e Saúde Mental da UFBA, doutora em Psicanálise pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ.