Total Pageviews

Showing posts with label Paraguaçu. Show all posts
Showing posts with label Paraguaçu. Show all posts

Friday, January 28, 2011

Paixão: Uma conversa com o Prof. José Luiz Foureaux



Caro colega e amigo Zé Luiz Foureaux,
Obrigado pelo toque. Concordo com você: a poesia de Vinicius passa por muitas fases, mas as últimas são de uma simplicidade que, à primeira vista, engana, pois nelas o poeta se despe de pretensões eruditas. Porém, ele quase sempre carrega em si indagações que nos remetem a um dos maiores mistérios da condição humana, a paixão – a paixão (ou a inexplicável ausência dela) diante dos amigos, dos amores, dos familiares, da natureza, do álcool, do sexo, da comida, da poesia, da música, da arte em geral e de alguns outros hobbies; aliás, a mesma paixão desenfreada pela liberdade, pela adrenalina e pelo imponderável êxtase da própria paixão, e pela própria vida em si.
É como você mesmo disse: “a paixão é um universo vasto de referência cultural e existencial”. Tantos (mas tantos mesmo) são os seus elos com outras disposições, emoções, e motivações humanas, inclusive aquelas mais veneradas por uns, como a espiritualidade, ou mais prestigiadas por outros, como a razão! É curioso como que nem podemos genuinamente odiar nada ou ninguém se não for por causa de uma forma ou outra de paixão. Que loucura esse mistério humano, pois onírico como a própria demência, obscuro como a morte, poderoso como nosso instinto a preservar a vida, o que faz nosso coração bater até debaixo d’água, maravilhoso como o mais belo ocaso, e renovador como uma leve chuva de primavera.
Paixão é um mistério de muita seiva, que nos nutre e nos prende, que se agarra em nós como as raízes de árvores centenárias (visto aquela acima, que fotografei no Parque Inhotim de Belo Horizonte), mas é mistério também potencialmente assassino, como o fogo, embora na queima de uma paixão o “fogo” seja tantas vezes "bem-visto". Pode ser penosa e desconcertante a paixão, como a solidão, mas doce e irresistível como a jaboticaba de minha terra, Paraguaçu. Por tudo isso, suponho que a paixão seja mais ambivalente e contraditória que qualquer outra possível aventura nesse mundo. O legado de Vinicius me faz pensar desse modo, sem me redimir e sem me afastar dessa aventura. Muito pelo contrário.
*     *     *     *     *
O documentário é delicado e sensível. Sem apelo comercial gritante e sempre desnecessário. Consegue pintar um retrato abundante em detalhes e nuances do poeta, sem sensacionalismo. Houve um tempo em que não dava conta de ler Vinícius: ele era "pegajoso" demais para o meu cérebro pouco desenvolvido. Poeta do detalhe contundente e da nuance gritante, por mais antitéticas que estas características possam parecer. Há de se ter sensibilidade e delicadeza para apreciar suas imagens um tanto... obviamente inusitadas. Penso que ele se aproxima, em certo sentido, de Mário Quintana, pela aparente ingenuidade. Cada um na sua, claro. Estou na torcida pelo sucesso (que penso garantido) de seu seminário!

Paixão é universo vasto de referência cultural e existencial. Parabéns! -- JLF
Maria Bethânia tem um depoimento lindo sobre Vinícius num documentário rodado por um tal de Grachot ou GRanchot (Falha a memória visual do nome do francês). Gigantesca, a figura da bahiana. Delicada e ousada a imagem que ela faz do poeta. Vinícius não pode ser abordado com parâmetros estereotipados da "academia". Concordo com a "diva", ele é um poeta da "alma brasileira" (ênfase da cantora)! Evoé  -- JLF