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Sunday, March 6, 2011

Nova Antologia Poética de Vinicius de Moraes

Nova Antologia Poética de Vinicius de Moraes



(EDIÇÃO DE BOLSO)

Vinicius de Moraes tinha o "fôlego dos românticos" e a "liberdade dos modernos", na expressão de Manuel Bandeira, que participou da edição da primeira antologia do autor no começo dos anos 50. Cinco décadas depois, uma outra seleção de seus poemas vem à luz. A Nova antologia poética lança um olhar renovado sobre a produção de um dos poetas que mais influenciaram a cultura brasileira do século XX, tanto na literatura quanto na música popular.
A poesia de Vinicius de Moraes (1913-1980) é comumente dividida em duas fases distintas e antagônicas. A primeira, resultante de suas convicções cristãs, costuma ser definida como transcendental, metafísica e, muitas vezes, mística. A outra representaria um "movimento de aproximação do mundo material, com a difícil mas consistente repulsa ao idealismo dos primeiros anos", segundo o próprio poeta.

Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz rejeitam as leituras cristalizadas e os lugares comuns que se formaram em torno da obra do autor. O resultado é uma seleção que servirá tanto para apresentar Vinicius aos leitores não iniciados, como para oferecer ao público familiarizado com sua obra uma nova chave de compreensão.
A pertinência da nova coletânea pode ser explicada por uma declaração de Drummond: "Daqui a vinte, trinta anos, uma nova geração julgará estética e não emocionalmente o poeta, com uma isenção que não somos capazes de ter. Eu acredito que a poesia dele sobreviverá, independentemente de modas e teorias, porque responde a apelos e necessidades de todo ser humano".
Nova antologia poética foi lançada como parte da comemoração dos 90 anos de nascimento do poeta. Vinicius chega ao século XXI como o autor de uma poesia viva e apaixonada, que, nas palavras do professor e crítico Antonio Candido, "combina de maneira admirável o requinte da fatura com a expressão íntegra das emoções".


Companhia das Letras
 http://companhiadasletras.net/detalhe.php?codigo=80005 

31 comments:

  1. Depois de lermos a Nova Antologia Poética de Vinicius de Moraes, propomos para o blog desta semana um formato diferente. As cinco perguntas tradicionais vão ser substituídas por cinco pares de facetas opostas:
    1. Posse e perda
    2. Sorriso e choro
    3. Sedução e insensibilidade
    4. Gozo e dor
    5. Destino e opção
    Estas várias facetas serão abordadas no estudo de três sonetos da Nova Antologia Poética de VM:
    “Soneto do maior amor”, “Soneto da separação” e “Soneto do amor total”.

    O “Soneto do maior amor” abre com uma descrição do amor que o poeta sente pela amada. O seu amor é o maior amor mas é também o mais singular e anormal. Pois, o poeta não consegue viver a relação com tranquilidade e entra aqui em jogo o par sorriso e choro ou até alegria e tristeza. O poeta fica triste quando a sua amada está feliz e ri-se quando ela está triste. De mais a mais, o poeta só consegue sentir paz quando há resistência pela parte da amada e prefere a sua vida de aventura a uma vida “normal” infeliz. O poeta também tem noção de que o seu amor magoa e no entanto é com essa dor que ele vibra. É um amor que prefere magoar do que acabar. Estamos aqui perante a dupla gozo e dor e também sedução e insensibilidade. Este seu amor é vivido segundo uma lei que lhe é própria. É um amor ousado, arrebatado e insensato. É um amor que não só ama a tudo mas também a si mesmo. Podemos lembrar aqui o texto de Wisnik sobre Tristão e Isolda. Wisnik escreve: “Transportados, entusiasmados, endeusados pela paixão, drogados de si e do outro, o que eles amam é o próprio ato de amar, o amor em si” (240). Em O Poeta da Paixão, Castello salienta que para VM: “A paixão é amor, mas também é sofrimento” (99).

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  2. Este sofrimento está bem presente no “Soneto da separação”. O soneto começa e acaba com a expressão “de repente”. Esta expressão é aliás repetida em todas as estrofes do poema. O sofrimento surgiu de forma subita e inesperada. Temos patente neste soneto o par posse e perda. A alegria que o poeta tinha transformou-se em pranto. Notamos aqui o uso da palavra pranto em vez de choro. Na literatura, o pranto é uma composição poética medieval em que se lamenta a perda de alguém ou de alguma coisa (Dicionário Porto Editora 1310). O poeta está claro lamentando a perda da sua amada e nada melhor do que estar a bordo do Highland Patriot para o fazer. Pois, o Oceano Atlântico o leva a inspirar-se nos elementos marítimos e na natureza. O pranto é descrito com o nevoeiro do mar e o beijo dos amantes se transforma em espuma. Aparece de novo o elemento de surpesa com o quarto verso da primeira estrofe “E das mãos espalmadas fez-se o espanto” (100). O vento vem substituir a calma e apagar o ardor dos olhos apaixonados. Instintivamente o poeta sente que o momento que ele achava imutável se vai transformar numa desgraça que é a separação. O amigo que estava perto, está agora longe e o poeta passa a vaguear pela vida. Esta vida de aventura que tinha uma conotação positiva no “Soneto do maior amor” ganha aqui uma conotação negativa e talvez possamos vislumbrar aqui o par destino e opção. Quando a vida errante é uma opção é mais positiva do que quando ela se torna errante por força do destino.

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  3. No “Soneto do amor total” temos um poeta muito apaixonado que repete a expressão “amo-te” seis vezes e usa o verbo no seu infinitivo duas vezes. O título do poema está bem presente no soneto. Estamos de facto perante um amor total. Na primeira estrofe o poeta afirma a veracidade do seu amor e define o seu amor como um amor que inclui amizade e amor, emoções da alma mas também físicas. Depois de definir o seu amor, o poeta dedica-se na segunda estrofe não só a acrescentar mais características ao seu amor com também a colocá-lo no tempo. O seu amor é útil e de uma certa forma atemporal. Passa depois nas últimas duas estrofes para uma definição mais física do seu amor. Nos dois primeiros versos da terceira estrofe podemos ler: “Amo-te como um bicho, simplesmente,/De um amor sem mistério e sem virtude/” (189). Estamos aqui perante o amor físico que o poeta no último verso da terceira estrofe define como sendo um amor com um desejo sólido e na quarta estrofe com tendo lugar frequentemente, tão frequentemente que o poeta pressente a possibilidade de morrer subitamente um dia no corpo da amante por ter amado demais. Podemos lembrar aqui o comentário de Castello em O Poeta da Paixão: “Em 51, Vinicius escreve o magnífico “Soneto do amor total”, que fecha novamente com um verso que iguala o amor extremo à morte” (159).
    Estes três poemas remetem-nos para vários episódios e comentários de Castello no seu livro O Poeta da Paixão. No que diz respeito a dupla sedução e insensibilidade, não pudemos deixar de pensar no episódio de VM com Hilda. Castello relata que o casal vai almoçar num restaurante rústico e explica que:
    Sentam-se no fundo do salão, perto de uma árvore que dá para o quintal da casa. Há um carneiro amarrado a uma árvore, esperando seu momento de morrer. O animal não pára de gritar. Vinicius pede o cardápio. Hilda não consegue se livrar do choro dissonante do animal. “Vinicius, vamos embora daqui. O choro do bichinho está me agoniando”, pede. O poeta a olha com ar indisposto e diz: Mas que bobagem! Vamos almoçar aqui mesmo”. Hilda fica abatida (298).
    Castello indica que o “Soneto do amor total” foi escrito por VM depois de ele ter tentado se suicidar depois de não só ser rejeitado por Mimi como também estar com dúvidas em relação ao amor de Lila. Castello escreve: “Quando está com Lila, o poeta vive atormentado pela paixão. A pergunta que mais faz à mulher é: “Você me ama?”. A afirmação que mais repete diante dela é: “Eu sei, você não me ama, mas não quer dizer”. A relação se torna difícil” (174).
    Achamos interessante salientar também um comentário que Castello faz em relação à crônica de VM “Para viver um grande amor”. Castello conclui que: “Fica fácil compreender, diante dessa crônica, o quão sufocante, asfixiante mesmo, é a concepção de amor defendida por Vinicius. Uma espécie de amor total, simbiose absoluta com a mulher amada, um amor perfeito, sem fendas e sem rachaduras-numa palavra: um amor sobre-humano. Pode-se entender, então, o quanto deve ser difícil, para as mulheres-por mais que o amem-saber amá-lo” (233). VM desejava viver um grande amor e o adjectivo “grande” é que torna tudo mais difícil.

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  4. Cecilia FigueiredoMarch 6, 2011 at 9:33 PM

    4. “Soneto do Amor Total” é, a meu ver, o soneto que melhor define Vinicius e sua paixão. Paixão fugas, arrebatadora, fulgurante. Um amor de “bicho,” sem termo nem medida. Aqui temos o poeta da paixão a definir-se a si e à sua paixão, seu sentimento tão forte que amam como um “bicho.” “Amo-te tanto meu amor . . . não cante/ O humano coração com mais verdade… / Amo-te como amigo e como amante / Numa sempre diversa realidade . . . Amo-te como um bicho, simplesmente, / De um amor sem mistério e sem virtude / com um desejo maciço e permanente / E de te amar assim muito e amiúde, / É que um dia em teu corpo de repente / Hei de morrer de amar mais do que pude” (193). Sem palavras. Simplesmente encantador.

    5. “Soneto da intimidade.” Um soneto diferente de todos os outros que mencionei anteriormente. No “Soneto da Intimidade,” Vinicius conjuga a forma clássica rigorosa com uma temática “baixa.” Ou seja formas tradicionalmente associadas aos temas elevados para tratar de temas cotidianos e humildes. Foi este cotidiano que fez de Vinicius um poeta cronista. Aqui o poeta sabe inteirar-se da palavra mais certa, exata. Um exemplo fascinante de intervenção de poesia. “Desço o rio no vau dos pequenos canais / Para ir beber na fonte a água fria e sonora . . . Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme . . .” (26).


    Segundo a introdução desta antologia poética, a poesia de Vinicius se dissocia em duas etapas que representam posições distintas frente à vida e à criação lírica. A primeira etapa corresponde à sua formação religiosa. Grandes “conotações místicas, desejo de transcendência, busca do mistério e um confronto entre as solicitações da alma e as do corpo impregnam esta fase de um fervor espiritual nebuloso e rebuscado.
    A segunda etapa começa a partir de 1943, com cinco “elegias,” a poesia de Vinicius começa a mudar. Nela, segundo o próprio autor “estão nitidamente marcados os movimentos de aproximação do mundo material, com a difícil mas consciente repulsa ao idealismo dos primeiros anos.” Esta vinculação à verdade mais directa dá-se esquematicamente em três planos:
    a) O canto do amor concreto e a exaltação da mulher;
    b) A valorização do cotidiano e a abertura para o social;
    c) A utilização da linguagem coloquial
    Como exemplo leiam o “Soneto da Fidelidade.”
    Resumindo, a Antologia é muito envolvente, (tenhamos ou não presentes as fases de vida ou transformações poéticas do poeta), e delicia os mais diversos gostos nem mesmo dispensando as crianças de lê-lo em “Arca de Noé” e “Casa,” tão belos e delicadas ao fazer reviver nossa meninice, principalmente o poema “Casa,” que inúmeras vezes o cantei em casa e na escola.

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  5. Cecilia FigueiredoMarch 6, 2011 at 9:40 PM

    Nas palavras de António Cândido, “Vinicius de Moraes é um dos poucos poetas que conservaram no seio da modernidade toda a força da grande tradição lírica da Língua Portuguesa. De certo porque não teve medo de ser profundamente humano em tudo o que escreveu. A poesia combina de maneira admirável o requinte da fatura com a expressão íntegra das emoções. A espontaneidade foi a sua mais bela construção.”
    Li a Nova Antologia Poética com muito gosto. Seus poemas são sedutores e belos. Impressionou-me a sua modéstia ao louvar os poetas que admirava como Manuel Bandeira, Drummond, entre outros. “Dá-me . . . um carrinho de mão de tua bosta com que fertilizar minha poesia” (sobre Drummond). A modéstia faz de Vinicius um poeta por excelência. Aqui está a sua grandeza.
    Vinicius é todo afeção. Na elegia dedicada à morte de seu pai, ele descreve poeticamente seus sentimentos de amor entre pai e filho. Um pai pobre, mas que ele muito amou. “Teu rosto tinha os sulcos fundamentais da doçura . . . deste-nos pobreza e amor. A mim me deste / A suprema pobreza: o dom da poesia, e a capacidade de amar /Em silêncio. Foste um pobre. Mendigavas nosso amor/ Em silêncio (157-58-59). Um poema muito emocional que toca o coração dos mais insensíveis. Um texto vasto quanto belo que descreve o importância de um pai.
    Vinicius é todo mulher. Encanta-me a sua forma de gostar das mulheres, de como escreve e as descreve, acima de tudo, da sua sinceridade. Em “Receita de Mulher” escreve lindamente. “As muito feias que me perdoem / Mas beleza é fundamental. É preciso / Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso / Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture . . . No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso / Que seja tudo belo e inesperado” (189).

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  6. Cecilia FigueiredoMarch 6, 2011 at 9:41 PM

    Quanto a seus sonetos, estes são de uma beleza rara. Os que mais apreciei foram:
    1. “Soneto de Véspera,” belíssimo, constituído pela ansiedade, sensibilidade, duvida, espera e paixão. “Quando chegares e eu te vir chorando / De tanto te esperar, que te direi? / E da angustia de amar-te, te esperando / Reencontrada, como te amarei?” (76).
    2. “Soneto da Separação,” maravilhoso na descrição e na simplicidade de todas os fases pelo qual um casal passa no momento da separação. Verídico, não melhor exemplo do que o próprio Vinicius para nos descrever detalhadamente as metamorfoses da separação. “De repente do riso fez-se o pranto / Silencioso e branco como bruma. / E das bocas unidas fez-se a espuma. . . E da paixão fez-se o pressentimento / E do momento imóvel fez-se o drama” (105).
    3. “Soneto do Corifeu,” um alerta para os homens que estão apaixonados. Que tomem cuidado com as mulheres porque elas os atraem. São feitas de “música, luar e sentimento . . . tão linda que só espalha sofrimento / Tão cheia de pudor que vive nua,” e “Aí então é preciso ter cuidado / Porque deve andar perto uma mulher” (164). Vinicius foi inúmeras vezes isco dessa beleza, desse perigo, mas não foi por isso que ele cessou de ir à pesca, porque a vida do apaixonado é assim, corre perigos. “São demais os perigos desta vida / para quem tem paixão, principalmente / Quando uma lua surge de repente / E se deixa no céu como esquecida” (164).

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  7. 1. Ária para Assovio pg. 25:

    Achei este poema interessante porque seu sujeito é escondido. Na segunda linha, o narrador refere à “Rosa” mas pode ser ou a cor ou o nome de uma mulher. Porque o narrador tem “R” como uma letra maiúscula pode ser interpretada como um nome em vez de apenas uma cor. Entretanto, na próxima linha, o narrador refere à “Branca” e no contexto parece ser uma descrição do passeio embora que a letra “B” seja maiúscula. Mas como nós podemos interpretar a exclamação depois de “Branca”. É óbvio que o narrador quer chamar atenção ao passeio e à palavra “Branca”. Como “Branca” aparece feminina depois de um pronome masculino, talvez seja um sujeito separado. “Branca!” também aparece na linha seguinte e não aparece na mesma linha do que “o passeio”, o que indica que “Branca!” é um pensamento separado, mas então separado e ligado com que? Talvez o narrador esteja falando sobre duas pessoas. As primeiras duas linhas referindo à Rosa e as duas seguintes referem à Branca. “Inelutavelmente tu” parece ser referindo à Rosa e as linhas parecem estar escritas com muita paixão (1). É como se o narrador fosse fixado na Rosa no passeio e depois aparece “Branca” que traz a “melancolia / na tarde do seio” (3-4). Como o poema progride, o narrador pergunta, “Porém tu quem és?” (8). O narrador diz, “Conheço o soneto / porém tu quem és?” (7-8). É possível que o narrador esteja referindo a um soneto do qual não sabemos que é o autor mas também pode ser referindo às mulheres do que o narrador está falando. O soneto é sobre quem? Eu acho que meu reposta corresponde mais com a última interpretação.

    2. A Mulher que Passa pg. 27:

    Gostei do sentido íntimo deste poema. Eu acho que este poema parece escrito pelo Vinícius do documentário. O narrador do poema ama tanto as mulheres que não ele não pode ter, sempre perseguindo as mulheres misteriosas que não são fáceis de capturar/seducir. “[...] eu quero a mulher que passa. / Seu dorso frio é um campo de lírios,” parece que alguém que ama perseguir e também gosta tanto de ser torturado, “[...] mulher que passas / Que me sacias e suplicias” (1-2, 5-6). O narrador quer uma mulher que finalmente acabará por ir embora, se ela mesmo vier. As linhas 15 e 16, “Como te adoro, mulher que passas / Que vens e passas,” me faz lembrar muito do Vinícius do documentário, não apenas por causa da música “Garota da Ipanema”, mas por causa da sua mentalidade transitória. Talvez, como nas últimas linhas, Vinícius nunca encontrasse esta mulher que só vem e passa e por isso acabaram os casamentos.

    3. Marinha pg. 53

    Depois de ler este poema, eu não pude deixar de pensar no seu tema erótica. No primeiro plano, parece que é sobre a água e o mar, mas no fundo, pode perceber que o poema tem elementos eróticos. Na primeira linha, “Na praia de coisas brancas”, as coisas brancas se aludem mais às mulheres brancas invés da areia ou da espuma das ondas. Depois, na quarta linha, “Águas-vivas”, parece referir às, “conchas brancas, coxas brancas”, das mulheres na praia. O narrador está fantasiando na vivacidade sexual das mulheres. Na segunda estrofe, o narrador segue com a fantasia, imaginando um grupo das mulheres à sua disposição. As imagens das mulheres vem à fruição, “Afloram perspectivas / Redondas, se aglutinando / Volitivas”. Entretanto, eu interpretei estas perspectivas redondas, aglutinando, volitivas como o narrador ainda fantasiando sobre os seios da mulher e também fantasiando as mulheres desejando a ele. Aqui, o narrador está festejando nesta fantasia. A fantasia progride na próxima e última estrofe referindo às “vagabundas, como frouxas / Entre vivas!” e divertindo-se na fantasia de muitas mulheres que desejá-lo, vindo e indo da cena.

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  8. 4. Mar pg. 65

    O poema “Mar” dá-nós um retrato mais íntimo da vulnerabilidade de Vinícius. Uma perspectiva diferente do que o último poema eu analisei, aqui no “Mar” nós vemos um lado mais sombrio de Vinícius, um sentimento ofuscando dos seus poemas que tem o tema de morte. No “Mar” no entanto, a morte se refere a morte do amor. Há “melancolia” nos olhos em que o narrador está olhando e pode sentir, “a noite se inclinar”, significando que o fim do amor está chegando. Não mais há paixão quente, “Nos frios espaços de teus braços” (6). O narrador cai em uma tristeza profunda, “escutando em vão / O silêncio” (8-9). Também, um sentimento de medo superá-lo e o narrador sente, “anseio em teu misterioso seio” (10). O narrador pode sentir que está perdendo a ela e talvez o anseio venha porque a mulher está com um outro. O fogo de amor está enfraquecendo lentamente, descrevendo as “ondas” com “atonia” que eventualmente lançam à praia o amor, morte.

    5. Soneto do Maior Amor pg. 73:

    Neste poema, eu acho que Vinícius dá uma das melhores explicações sobre os elementos tumultos que caracteriza a paixão. A paixão é sempre uma luta a seguir porque na busca de paixão sempre encontra momentos de felicidade extrema e tristeza devastadora. Neste soneto, VM mostra a paixão de amor e como é impossível atingir o epíteto de paixão porque sempre há um obstáculo. Neste caso, o amor mesmo é o obstáculo, “E quando a sente alegre, fica triste / E se a vê descontente, dá risada” (3-4). Quando o amor dá, uma força dá em volta em vez de apenas receber. As forças do amor neste poema são como os polares de um magneto que resistem o outro, “E que só fica em paz se lhe resiste” (5). Por causa da instabilidade de paixão, se torna intangível. É impossível a tentar de prosseguir por mais tempo e eventualmente desintegra, “desassombrado, doido, delirante / Numa paixão de tudo e de si mesmo” (13-14).

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  9. “ Vinicius de Moraes foi um grande poeta: um dos maiores que já tivemos. Ele não está entre os grandes escritores que publicaram apenas algumas páginas extraordinárias; ao contrário, encontra-se entre os raros que publicaram muitas páginas extraordinárias.” (272) A Nova Antologia Poética é testemunho desta afirmação feita pelos seus organizadores, Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz.

    São, indubitavelmente, inúmeros os poemas dignos do nosso comentário, no entanto debruçar-nos-emos em apenas alguns, cuja temática ou subtileza da escrita tenha suscitado interesse imediato, quer seja pelas suas facetas contraditórias, conexões comportamentais da paixão, ou pura e simplesmente pela sua beleza inigualável.

    Em O Poeta da Paixão, Castello revela-nos o seguinte: “…Vinicius de Moraes escreve aquele que talvez seja o mais famoso poema de sua obra: O ‘Soneto de Fidelidade’ – dedicado, naturalmente, a Tati. E que se celebrará pelo terceto final, que guarda uma das mais belas definições do amor já produzidas pela língua portuguesa: ‘Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja mortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure’. Esses versos descrevem, com precisão espantosa, a essência da visão que o poeta terá do amor ao longo de toda a vida: uma experiência avassaladora, superior, que traz a sensação de eternidade mas que necessariamente – como tudo o que é sentido pelo homem – acaba”(109).
    O primeiro conjunto de versos denota, à priori, uma declaração de amor, declaração essa que é extremamente valorizada pelo poeta, em termos de uma adoração absoluta pela amada, daí a promessa da “Fidelidade”. “De tudo, ao meu amor serei atento/Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto/Que ao mesmo em face do maior encanto/Dele se encante mais meu pensamento. / Quero vivê-lo em cada vão momento/E em seu louvor hei de espalhar meu canto/E rir meu riso e derramar meu pranto/Ao seu pesar ou seu contentamento”.

    Face a uma paixão, viva, contagiante, cheia de encanto, o poeta inspira sentimentos de esperança, esperança essa que produz uma luz, uma união forte, uma posse sedutora, uma entrega total. No entanto, estamos perante um futuro incerto, ameaçador, sabemos que nada é eterno, existe portanto a ameaça da inevitável separação . Posto isto, tornam-se evidentes, nos últimos tercetos do poema, sentimentos opostos; de medo, escuridão, perda, angústia, solidão e, ultimamente, de morte. “E assim, quanto mais tarde me procure/Quem sabe a morte, angústia de quem vive/Quem sabe a solidão, fim de quem ama./Eu possa me dizer do amor (que tive):/Que não seja imortal, posto que é chama/Mas que seja infinito enquanto dure.”
    Resignando-se a esta condição inevitável de que tudo tem um fim, o poeta, não obstante, procura uma alternativa que lhe proporciona uma certa esperança, de que “tudo vale a pena” (como escreveu Pessoa); resta o contentamento de que, ainda que o amor/ a paixão não dure para sempre, pelo menos, que seja de uma intensidade superior, que seja eterno/a, ou seja, “infinito/a”, nas palavras de Vinicius, enquanto chama viva. Por tudo o que foi mencionado, não resta a menor dúvida de que Castello não exagera ao afirmar que, Fidelidade poderá ser considerado o melhor poema da obra de VM, dada a sua bela definição de amor e, acrescentaríamos, do conceito de paixão.

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  10. A Um Passarinho, trata-se de um poema que apesar de tão singelo e súbtil, é repleto de significado e possui uma simplicidade bela. Nele, verificamos, uma vez mais, que a condição fundamental para a criação poética não é, certamente, a felicidade. É sim, a paixão, acompanhada pelo inevitável sofrimento. Tivemos oportunidades múltiplas de constatar que existe em Vinicius um paralelo entre a sua poesia e as inúmeras paixões que o mesmo viveu. Viver, para VM era amar, acima de tudo, viver um grande amor, ainda que o amor doesse - e é óbvio que dói; e fora do amor há um espaço vazio, e no fim do amor está a solidão. Daí, os seguintes versos, “Para que vieste/ Na minha janela/ Meter o nariz?/ Se foi por um verso/ Não sou mais poeta/ Ando tão feliz!” Existe ainda uma antítese, ou seja, ser poeta é sinónimo de infelicidade; é preciso viver uma grande paixão e sofrer com ela para poder-se ser poeta, ou melhor, um grande poeta.

    No poema Dialética “É claro que a vida é boa/E a alegria, a única indizível emoção/É claro que te acho linda/Em ti bendigo o amor das coisas simples/É claro que te am/E tenho tudo para ser feliz/Mas acontece que eu sou triste...”existe uma consideração que se mostra como contraditória dentro do poema. Palavras que definem a vida, como alegria/linda/ feliz contrapõem-se no final do poema ao verso, “Mas acontece que eu sou triste…”, uma realidade nitidamente observada na vida e obra de Vinicius, como, aliás já foi mencionado antes. Curiosamente, se repararmos no significado da palavra dialética, como sendo arte de argumentar ou discutir, ou por outro lado, maneira de filosofar que procura a verdade por meio de oposição e conciliação de contradições , não sera difícil compreendermos e relacionarmos o título do poema com a sua mensagem.

    Em O Poeta Aprendiz, VM fala-nos de um menino que sonha em ser poeta e através de uma descrição humorada da infância, VM não deixa de nos chamar a atenção para a condição inevitável que o poeta vive, a mesma que é aparente nos poemas acima mencionados. “Ele era um menino/ Valente e caprino/.../Amava a mulher/A mais não poder/Por isso fazia/Seu grão de poesia/E achava bonita/A palavra escrita/Por isso sofria/De melancolia/Sonhando o poeta/Que quem sabe um dia/Poderia ser”. Nestes últimos versos, deparamo-nos com essa relação intrínseca que temos vindo a abordar, entre paixão, sofrimento/poesia.

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  11. 1. No “Poema Dos Olhos da Amada”pg 177- Vinicius faz algumas referências ao mar quando fala dos olhos da sua amada. “cais noturnos”, “são docas mansas/ trilhando luzes/ que brilham longe/ longe nos breus....” Acho que essas referencias são adequadas, porque o mar em si é um pouco misterioso nunca sabemos bem o que está a passar lá por baixo das ondas. Então é como os olhos duma mulher também misteriosos, olhando direito para eles ninguém sabe bem o que está a passar com ela. Há sempre algo misterioso ligado à paixão, talvez é o desejo para descobrir o mistério por trás dos olhos ou por trás da mulher. Na segunda estrofe o poeta escreve “quanto mistério nos olhos teus quantos saveiros, quantos navios, quantos naufrágios” ele aqui está a pensar quantos outros já passaram por ali. Gostei do último estrofe “Ah minha amada/ de olhos ateus/ cria a esperança nos olhos meus/ de verem um dia/ o olhar mendigo/ da poesia/ nos olhos teus”. Ele quer que um dia ela deseja-o tanto quanto ele deseja-a.

    2.“Soneto de Separação”-pg 100- Depois de ler este poema e de saber que foi escrito durante a sua viagem à Inglaterra entendi bem o que Vinicius estava a sentir durante aquele momento da sua vida. É interessante as palavras que ele escolha para descrever como a vida trocou de repente não só para ele más como troca de repente para nós todos. As palavras/sentimentos são todos opostos “De repente do riso fez-se o pranto”. Par mim o último estrofe é a que fala muito sobre o que ele estava sentindo “Fez-se do amigo próximo o distante/Fez-se da vida uma aventura errante/De repente, não mais que de repente”, ele deve ter sentindo muito longe do seus amigos, segundo o que lemos no “Poeta da Paixaõ”, ele partiu para Inglaterra sozinho, Tati só foi ter com ele mais tarde. É possível que este poema foi escrito durante dos seus primeiros momentos de solidão. É claro que neste momento ele devia sentir-se que a vida que ele tinha antes da partida do Brasil estava transformando-se numa “aventura errante”.

    3. “Soneto do Amor Total” pg 189 -Gostei deste poema em que Vinicius declara o seu amor de varias maneiras, com sensibilidade “Amo-te como amigo e como amante” e “Amo-te afim, de um calmo amor prestante” mais depois como um apaixonado dizendo “Amo-te como um bicho, simplesmente” aqui vemos a intensidade em que ele ama. E no ultimo estrofe vemos a grandeza do amor que ele sente quando ele diz “E de te amar assim muito e amiúde,/É que um dia em teu corpo de repente/Hei de morrer de amar mais do que pude” Gostei imenso! Dos poemas todos que li neste livro para mim esta é que fala mais sobre a paixão que temos lido nas leituras, a paixão grande, o sofrimento da paixão.

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  12. 4. “A Brusca Poesia da Mulher Amada” pg 182 – Neste poema podemos ver como o Vinicius sentia-se quando apaixonava-se. Para ele a mulher amada era todo. Eu achei interessante quando ele diz “Longe no fundo plácido da noite/ Outra coisa não é senão da mulher amada/Que ilumina a cegueira dos homens” só um homem apaixonado poderia dizer isto. Ele fala da mulher amada como ela fosse uma deusa, ou uma mulher com grandes poderes que comande o mundo. No início do poema ele nos dá a impressão que a mulher amada tem algo mágico quando ele escreve “A mulher amada carrega o cetro, o seu fastígio é máximo.” É interessante que do modo que ele descreve a mulher amada parece que ela tem poder que ela é que manda, mais na verdade, ele é que sempre fez o que quis na sua vida. Ninguém o dominou.

    5. “Soneto de Véspera” pg. 67 – Com certeza foi escrita para Tati na véspera do dia que ela chegou à Inglaterra. É tão bonito, podemos ver que ele estava pensando em que ia lhe dizer. Podemos ver como ele estava sentindo-se “E da angústia de amar-te te esperando/Reecontrada, como te amarei?/Que beijo teu de lágrimas terei/Para esquecer o que vivi lembrando/E que farei da antiga mágoa quando/Não puder te dizer por que chorei?” Vemos aqui uns sentimentos fortes e a dificuldade dele de não puder dizer a ela o que ele passou ou como sentia naqueles meses antes dela vir. Vemos aqui nestes quatro estrofes como ele estava tão vulnerável devido a solidão que passou antes da chegada da Tati. É um poema curto mas forte em sentimentos, até fiquei com pena dele quando li.

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  13. A "Nova Antologia" explora a mistura estética presente nos trabalhos de Vinicius, cujo objetivo era a libertação dos preconceitos de sua classe e do seu meio. Vinicius travou uma batalha consigo mesmo em relação a tudo aquilo que o agradava, mas que de certa forma contrariava e desagradava os pensamentos da sua época. Na segunda fase de sua vida, a linguagem o coloca lado a lado as necessidades e identificação do ser humano leitor, cria espaço para o sensual erótico que se intensifica, tanto nos poemas como nos sonetos e baladas com formas e temas variados. Os poemas, assim como os sonetos e baladas passam a tomar formas e estruturas variadas. Ao rejeitar os lugares comuns que se formaram durante o tempo por meio da critica em relação as obras do poeta, a "Nova Antologia" oferece ao leitor o que é de mais importante, abre espaço para uma nova visão sobre a produção artística de Vinício, independentemente do olhar concreto da recepção critica tradicional quanto a uma fase ou outra – "como todas as coisas humanas – sujeito a influencia de inúmeras variáveis"(17). E necessário abandonar o ceticismo para podermos apreciar a arte assim como ela é apresentada. Assim como afirma Drummond: "Daqui a vinte, trinta anos, uma nova geração julgará estética e não emocionalmente o poeta, com uma isenção que não somos capazes de ter". Certamente, as obras de Vinicius se prolongarão no tempo e permitirão novas compreensões para a inquietude do ser humano.

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  14. O "Soneto do Maior Amor" parece definir melhor o que seria a dualidade do poeta em relação aos dois mundos vividos por ele: A poesia e a vida real. Este entrelaçamento de real e poesia parece tornar-se para Vinicius, uma necessidade descontrolada de entendimento desse amor "estranho"; "Numa paixão de tudo e ao mesmo tempo de si mesmo". Um amor que prefere "ferir a fenecer" - mas consciente de que no final - "viverá a esmo". Para o poeta, o que vale é a aventura, o experimentar do amor. A ferida e a dor nesse caso, são conseqüências dessa eterna aventura. Para Vinicius, ferir ou magoar lhe traziam respostas indispensáveis de comprovação e sustentação de verdadeiro amor. A paixão de Vinicius é delirante, ele ama a tudo e a todos de forma ousada e insensata, mas também sofre com a perda como qualquer outro homem apaixonado e sensato

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  15. Segundo a Dra. Hazan, a paixão avassaladora é fruto de alguns produtos químicos que correm em nossas veias, tanto no homem quanto na mulher. Infelizmente isso não dura para sempre. Assim, todo ser humano acaba tendo a responsabilidade de aceitar ou não os resultados dessa perda: alguns aprendem a viver com o final desse estimulo gerador da "louca paixão" e, passam a viver passivamente com a amada, o que pode acarretar em uma relação duradoura. No caso de Vinicius, por exemplo, a aceitação de um amor mais brando e passivo parece não se concretizar. Ao contrario, essa dicotomia o perturba e leva o poeta a travar consigo mesmo uma batalha contra a resistência da passividade em suas relações amorosas.

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  16. Caros colegas

    Ao ouvir essa música achei que vem mesmo a propósito do que temos vindo a
    ler sobre paixão, amor, amizade...enfim, sentimentos. Talvez esteja aqui
    uma definição de amor. Mas penso que amor não se define. Amor não é um
    conceito, mas um sentimento que age de forma deiferente em cada ser
    humano. Mas para quem gosta de definições, esta poderá servir, certo?

    Beijos, muito amor e paixão nesse fim de semana.


    http://www.youtube.com/watch?v=nu2Et7aiWm0

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  17. Eu não sou muito bom de analisar poesia, mas consegui retirar algumas idéias interessantes da matéria.

    Soneto de um Domingo (166)

    Nessa poema, Vinícius descreve uma cena de família. “A mulher dorme, os filhos brincam, a chuva cai...” Depois ele fala alguma coisa que me deixa pensando que ele está desconfortável com a situação naquela casa. Ele diz, “esqueço de quem eu sou para sentir-me pai.” Quem ele é não se deixa ser pai? Por que? Será que ele acha difícil se sentir pai como poeta famoso? Talvez seja estranho se sentir confortável numa situação normal (como em casa com filhos) para uma celebridade. Ou, será que Vinícius nunca se sentiu um homem de família? Parece para mim que ele tem que esquecer do seu estilo de vida louco para lembrar que ele é pai. Ele se compara com um deserto. Ser pai é o jardim. Ele fala que mesmo que a terra é ruim (ou que ele não é o tipo de pessoa que seria pai) a flor consiga florir (ele seja pai). Depois ele fala que é por causa da casa de família e a sua mulher que ele consegue ser pai. No final, ele pede ao Deus que quando ele morrer, ele leve o sentimento de ser pai.

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  18. 1- A morte é a grande força da vida de Vinicius.

    Para muitos será difícil compreender esta afirmação, à partida tão simples e redutora daquela que foi a vida repleta do “poetinha”, mas faço-a porque muitos, talvez mesmo a maioria, dos seus poemas têm a morte como pano de fundo. Para muitos este é o reflexo dos seus medos e da paixão que tinha pela vida, por tudo aquilo que vivenciava e experimentava a cada dia.
    De facto, Vinicius de Moraes recorre muitas vezes a este tema, não com o intuito romântico e bucólico que tão popular foi, mas como forma de expressar a vida como uma simples passagem, um momento efémero, aspecto que podemos ver claramente no seu poema intitulado A Morte, onde o poeta nos dá uma imagem clara e ao mesmo tempo simples daquilo que todos conhecemos da morte, aspecto do qual não poderemos fugir, aquela que será a nossa última morada, mas acima de tudo, o que ela representa para o comum dos Homens, um passo para o desconhecido que condiciona tantas vezes escolhas e maneiras de estar na vida, por se ter medo que ela chegue mais cedo. Esta visão é aquela que melhor nos define, sobretudo através da analogia morte-medo e que tornou o “poetinha” diferente, uma pessoa que viveu sem condicionar a sua existência a uma possível chegada adiantada da sua última “namoradinha” mas sobretudo como forma de viver bem consigo mesmo e com os seus receios, sonhos e intuições.
    Vinicius de Moraes foi um homem que conviveu toda a sua vida com alguns fantasmas (para muitos entendidos como simples medos) no seu espírito, tal como ficámos a saber pela leitura da sua biografia, mas esses fantasmas são, na minha opinião, um reflexo da sua sensibilidade, expressa nos seus poemas, sobretudo aqueles que podem ser entendidos como cartas, muitas delas cartas de despedida e onde dialoga com aqueles que vão partindo, como foi o caso de Mensagem a Rubem Braga ou Elegia na Morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, Poeta e Cidadão.
    O “Poetinha” foi de facto ímpar na sua maneira de escrever sobre este tema, cruzando-o com as alegrias da vida, com os seus medos e sobretudo com as saudades daqueles que partiam mais cedo, mas sempre com a certeza de que um dia também ele partiria e nada poderia fazer para evitar a morte, transformando-se num ser humano capaz de analisar com ternura esta passagem pela vida e de a valorizar a cada momento. Resta saber quantos de nós o poderemos fazer de modo tão sublime, temer e simultaneamente adorar esta visita a um mundo do qual nada sabemos.

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  19. 2- A vida e a obra misturam constantemente. A poesia será sempre um reflexo da vida do seu autor?

    A poesia é antes de mais o reflexo da vida e sempre o foi. Importa então reflectir sobre como a mesma foi ou não reflexo da vida deste poeta, autor, compositor e diplomata nas suas mais diversas facetas. Para melhor esclarecermos esta questão é necessário que olhemos um pouco para nós e que reflictamos sobre o difícil que nos é escrever um simples texto sobre um qualquer tema, para a partir daí nos questionarmos como poderão alguns escrever verdadeiras obras de arte, escrevem sobre as suas vidas e o que delas vão retirando como mais importante e relevante e, sabemos hoje, como é difícil olharmos para nós de maneira descritiva e pensada. Através da leitura desta Nova Antologia Poética organizada de diferente maneira daquela que o poeta teria organizado, ficamos com a nítida sensação que a cada nova fase da sua vida, a cada descoberta, a cada acontecimento marcante, Vinicius de Moraes recorre à poesia como forma de o eternizar, falando de si e daqueles que o acompanharam na vida, mas expondo aos outros, à leitura mais ou menos perspicaz, os seus sentimentos, medos, receios, alegrias e as novas paixões e amores – da arte, do coração ou da vida – que o foram moldando e alterando naquelas que hoje são conhecidas como as suas duas grandes fases de poemas e que tão bem explícitas estão na introdução da obra em análise.
    Mas como ver tudo isso nesta antologia? De facto, seria preciso mais espaço e tempo para o demonstrarmos detalhadamente, mas note-se que os seus poemas nos vão sempre localizando no espaço e no tempo da sua vida como é o caso de Pátria Minha onde não só nos retrata as saudades que tem do seu país como o desejo de a ele voltar ou A Bomba Atômica onde Vinicius vai mais longe na sua transposição para a arte da vida, e analisa não só o que está a acontecer no mundo, mas dá-nos a conhecer o que pensa, enquanto homem, sobre este desastre até hoje retratado na história da humanidade e que tanto modificou a maneira do Homem olhar para o outro, no qual a bomba é a perfeita personificação da guerra e da paz no mundo.

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  20. 3- Embora Vinicius seja senhor de uma estética, podemos dizer que em muitos poemas estamos perante poemas que são eles cartas poetizadas?

    Para melhor respondermos a esta questão, escolhemos o poema Elegia na Morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, Poeta e Cidadão, já citado anteriormente, mas que é aquele que nos parece representar de melhor forma esta forma de poesia que lhe é tão característica.
    Duvido que possa denominar esta poesia como prosa poetizada, mas é o que na realidade representa para mim, e na qual me parece que o poeta melhor expressa o que lhe vai na alma. Este poema que escolho é, à partida, mais exemplificativo do tema da morte na sua poesia, mas penso e entendo-o como muito mais do que o tema da morte, este é o poema da vida, da sua celebração e sobretudo recordação daqueles que nos são próximos, no momento mais triste da vida – a morte.
    Vinicius de Moraes escreve este poema naquilo que eu considero ser uma mistura explosiva de sentimentos - a morte e a distância – e, talvez saibamos ou até teremos a oportunidade de um dia vivenciar momentos como aquele que aqui retrata e como é difícil encontrar a expressão ideial nestes momentos, ous eja, dizermos o que sentimentos, sobretudo se olhado como o desafio que é estar longe e ao mesmo tempo conseguir expressar a nossa dor. O poeta recorre a esta forma de poesia, uma carta aberta onde para se despedir ele recorda o que de melhor e mais marcante essa pessoa trouxe à sua vida e à sua personalidade (sim, é de facto um poema sentido pela morte do seu pai, mas não foi caso único) e, fá-lo de maneira marcante e sublime, pois através da escrita mantêm um diálogo honesto com aquele que partiu e que tanta saudade deixa.
    Ao lermos e relermos esta Elegia ficamos a saber como foi a sua infância, como era a sua relação com o seu pai e como foi esta imagem a sua maior inspiração para a vida, tal como podemos ver através destes versos:
    “Deste-nos pobreza e amor. A mim deste
    A suprema pobreza: o dom da poesia, e a capacidade
    [de amar”
    O poeta é deste modo mais uma vez superior ao momento final, à morte, despedindo-se de quem ela leva para si de maneira pacífica e enternecedora ao mesmo tempo, uma vez que consegue articular a memória com o coração e a razão, ensinando-nos, uma vez mais, que a vida merece ser celebrada até na morte, devemos aceitá-la como parte do nosso percurso e devemos relembrar aqueles que partem, mesmo que estejamos distantes e sem a possibilidade de nos despedirmos com um simples até logo, lá nos encontraremos do outro lado!

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  21. 4- Existe paixão em Vinicius (a partir da sua poesia) como na lenda de Tristão e Isolda?
    A paixão é dos elementos centrais da vida e da poesia do poeta, mas afasta-se da visão desta lenda que atravessou os tempos, uma vez que é patente na sua poesia a paixão por um ideal de mulher que se vai repetindo em forma de poemas de amor, talvez para casa um dos amores que teve na sua vida e sobretudo aquelas que foram suas mulheres e representantes desse mesmo ideal, desempenham simultaneamente o papel de musas e o papel de mulheres amantes. Devemos nesta temática realçar o seu poema Receita de Mulher, poema onde Vinicius nos faz uma descrição (mais uma vez quase em formato de prosa) sobre a mulher e a beleza, aludindo não apenas às suas características físicas, mas também psicológicas e que nos obriga a reflectir, mais uma vez, sobre a sua vida e como este foi o poeta que embora adorasse as mulheres e as tivesse eternizado a partir da palavra, foi o representante de uma certa maneira de amor-paixão de Stendhal embora nunca tivesse chegado ao estado de amor-perfeito de Tristão e Isolda, um amor que supera tudo na vida e que tem na morte a sua morada perfeita e final, pelo menos na lenda. A mulher a paixão vão-se deste modo interligando constantemente na sua vida e na sua obra poética e não só, mas de maneira a dar-nos um pouco mais daquilo que foi Vinicius: um homem de paixões diversas (na vida e na arte) que nunca encontrou em vida o amor-paixão de Tristão e Isolda, mas que talvez o tenha encontrado no final, no seu namoro final com a ultima das suas paixões – a morte.

    5- É a poesia de Vinicius diversificada em tema e estilo? Como justificar?

    Mais uma vez teremos que dar uma resposta afirmativa, mas o que teremos dificuldade é na justificação desta resposta. Vinicius de Moraes foi, como vimos através da leitura da sua biografia, um homem que se foi reinventando ao longo da sua vida, através do convívio com novos amigos e colegas de criação artística, mas também pela forma como nunca parou de procurar aquela que seria a musa perfeita que o inspirasse na vida e na arte, chegando mesmo a renegar, tal como nos chamam à atenção os autores da obra aqui em análise, alguma da sua poesia como se esta foi o reflexo de uma outra pessoa que não aquela que era na altura em que o poeta organizou a sua antologia poética. Mas tivemos aqui a oportunidade de ler uma antologia diferente, vítima do olhar atento de outros e não do olhar autocrítico do seu autor, trazendo até nós poemas que retratam as diferentes fases e tempos que o poeta atravessou, desde uma primeira fase mais clássica repleta de claras alusões aos clássicos e aos modelos até uma fase muito mais mística, na qual o poeta analisa a vida não pelos padrões clássicos, mas muito pelos seus sentimentos e experiência de vida, ressalvando que Vinicius de Moraes foi também o autor de simples criações poéticas que parecem mais sair da mão de uma criança do que de um génio da poesia, mas que são na realidade expressão dessa mesma genialidade e onde a sonoridade é aspecto de realce, como é exemplo o poema intitulado A Casa, uma das suas criações musicais, onde através de um simples jogo de palavras o poeta nos transmite a importância de um lar, de uma casa como o lugar de mais sagrado e que todos nós desejamos.
    Em suma, estamos perante um poeta multifacetado que para além de se reinventar através da escrita, fê-lo na sua maneira de olhar a arte como reflexo do Homem e da vida e sobretudo na forma como olhou para a sua vida.

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  22. 1. Nova Antologia poética de Vinicius de Morais é compost por 112 poemas. Nesta nova antologia os poemas foram reorganizados pelos poetas António Cícero e Eucanaã Ferraz. De facto Vinvcius marcou a literatura brasileira e até hoje continuam a ser um marco na história literária e musical daquele país.
    Segundo alguns críticos da obra de Vinicius de Morais, a Nova Antologia poética divide-se em duas fases: a primeira seria uma fase mais religiosa conforme podemos ver em alguns versos como é o caso do Dia da Criação. Vinicius apresenta-se aqui de uma fomra mais mistica e podemos ver uma certa ansiedade na busca pela transcendência. Ele confronta muitas vezes a alma e o corpo. Também podemos ver isso no poema Ausência onde há uma procura entre o terreno e o transcendente. “Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado/quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados...” (p.13).

    2. O poema A rosa de Hiroxima mostra a postura humanista de Vinicius. Ele insurge-se nesse poema contra a guerra e convida-nos a reflectir sobre as atrocidades por ela causadas. A bomba atómica foi, na opinião do autor, a criação de todos os homens que permitiram que tal acontecesse. Nesse poema ele coloca em causa a sobrevivência humana.

    3. Uma das elegias que mais gostei foi aquela dedicada ao pai: Elegia na morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, poeta e cidadão. Aqui Vinivius descreve poeticamente o seu amor de filho pelo seu pai pobre mas que teve muita importãncia na vida dele. “Deste-nos pobreza e amor. A mim, me deste a suprema pobreza: o dom da poesia, e a capacidade de amar” (p. 155). Tal como vimos em outros textos, a poesia vale nada, não dá nada financeiramente. Vinicius também sabia isso, mas dava outras coisas como a capacidade de amar. E ele não teve medo de amar. Amou intensamente a sua vida e as suas mulheres e isto é visivel nas sua poesia e na forma que escreve a paixão, o amor, o mundo, os homens.
    Em todos os seus poemas e sonetos podemos ver um louvor às coisas simples da vida. Ele fala do mar, do calor, dos fatos de banho das senhoras, enfim, fala do quotidiana, fala de cada um de nós e por isso nos identificamos tanto com a sua escrita e com ele próprio.

    4. A segunda fase da escrita de Vinicius é marcada pela exaltação da mulher. Nesses poemas Vincius luta entre o eu que ama e o eu que rejeita esses amores. Ele parecia estar numa busca constante pelo amor e quando encontrava, quando conquistava a mulher desejada deixava de a querer. No Soneto de Separação, podemos ver o jogo de palavras como riso/pranto; calma/vento; triste/contente. Estas palavras revelam a sua postura nas relações amorosas. Um querer e não querer, amar e não amar. “De repente, não mais que de repente/Fez-se de triste o que se fez amante/ E de sozinho o que se fez contente” (p. 100). No soneto de Fidelidade, um dos mais conhecidos, vemos este mesmo jogo de palavras onde o autor declama o amor que é infinito enquanto dura. “Eu possa me dizer do amor (que tive):/Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure.

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  23. Soneto de Separação

    Eu acho que essa poema mostra como Vinícius era uma pessoa muito apaixonada, e descreve a transformação de Vinícius entre muito contente e deprimido. O filme que nós vimos revelou que Vinícius tinha épocas de felicidade completa e miséria absoluta. As transformações entre os extremos contrários ilustram esse jeito de ser do Vinícius. O melhor exemplo seria “e da paixão fez-se o pressentimento” ou então “fez-se de triste o que se fez amante.” É claro que essa poema descreve os sentimentos que se sentia quando se termina com um amante. Mas, é o que Vinícius se sente mesmo. Terminar com amante pode ser muito triste, mas muita gente consegue terminar uma relação sem ficar deprimido. Muita gente consegue continuar a vida com um nível de felicidade. Ou seja, para essas pessoas, paixão não vira pressentimento. A poema descreve os sentimentos extremos que Vinícius se sentia nas suas relações, mas também descreve os extremos da sua vida em geral. Vinícius era uma pessoa apaixonada mesmo, e ele tinha que ser apaixonado em tudo que ele fazia na vida. Nunca teve um “middle of the road” para ele.

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  24. Os Acrobatas

    Parece que em qualquer poema que Vinícius escrevia, ele mostrava a sua paixão. Por exemplo soneto de separação revela Vinícius como um homem apaixonado em termos de sentimentos extremos. Soneto de domingo revela a paixão para a família. A poema “Os Acrobatas” revelam mais uma paixão sexual. No final, fica claro que o autor está falando sobre mais do que dois acrobatas subindo mais e mais alto. As duas pessoas na poema estão conectadas, e eles estão se sentindo uma euforia sexual, mais também uma conexão que é spiritual e talvez maior do que a paixão sentida pela maioria das pessoas no mundo. Essa idéia é visto nas obras dos poetas metafísicas. Por exemplo, John Donne também descreve um amor e paixão que é sexual e spiritual na poema “A Valediction Forbidding Mourning”.

    Moving of th' earth brings harms and fears ;
    Men reckon what it did, and meant;
    But trepidation of the spheres,
    Though greater far, is innocent.

    Dull sublunary lovers' love
    —Whose soul is sense—cannot admit
    Of absence, 'cause it doth remove
    The thing which elemented it.

    Aqui, John Donne descreve um amor que é da terra, deste mundo. É uma paixão normal (sublunary), sentida pelas pessoas normais. Mas a paixão do John Donne e a mulher para quem ele escreve não é deste mundo. É um amor que existe no “sphere” acima da lua. É uma paixão tão forte, uma conexão tão transcendente, que tem que subir acima da lua para chegar lá. Ou seja, tem que subir para “lá onde o infinito é de tão infinito que nem mais nome tem!” No fim da poema do Donne, ele escreve:

    Such wilt thou be to me, who must,
    Like th' other foot, obliquely run ;
    Thy firmness makes my circle just,
    And makes me end where I begun.

    Então, embora que ele esteja escrevendo sobre uma paixão transcendente, também é sexual. As duas poemas falam sobre uma paixão de alto, e também terminam no mesmo jeito (sutilmente inferindo clímax sexual).

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  25. Soneto do Maior amor
    Segundo os organizadores da Nova Antologia Poética, a obra de Vinicius de Moraes dividi-se em duas fases: a primeira, que é definida como sendo “transcendental”, mística, resultante de sua fase cristã, e a segunda, que é definida como “aproximação do mundo material”. Entre estas duas fases estão as “Cinco elegias”, simbolizando um período de transição.
    No poema “Elegia Desesperada” (32,33,34), podemos ver ainda muito forte a preocupação religiosa, a angústia existencial e o desejo de superar o pecado e a culpa, mas em alguns momentos a linguagem se torna mais próxima do leitor. Penso que há uma “confusão” de pensamentos, ora aparecendo o desejo por conhecer o amor “Alguém que me falasse do mistério do amor”, ora desejando a mulher “ [...]Alguém que me beijasse e me fizesse estacar”, ora vendo a mulher como uma maldição “[...] deitariam a sua maldição!”, não sabe qual caminho seguir, a quem chamar, se a Deus, se aos homens, se ao místico, se à realidade, “[...] Gritarei a Deus? - ai dos homes! Aos homens? - ai de mim!”. Em certos momentos pode se sentir um desespero pela fuga aos seus ideais. Deus já não parece merecer tanta confiança e seu nome se confunde, já não se pode dizer se está falando de Deus ou do demônio “[...] O próprio bem tem nele a marca do gelo [...] e queima florestas só para aquecer as mãos.[...] Seu nome é terrível. [...] Desespero! Desespero! Porta fechada ao mal/loucura do bem, desespero, criador de anjos!

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  26. Vinicius também escreve vários poemas de cunho social, alguns deles descrevendo a situação vivida pela classe baixa e a vida cotidiana. No poema “O Desespero da Piedade” (35), uma das elegias, o poeta conversa com Deus, como numa oração e pede piedade às diferentes classes sociais, apontando nelas suas fraquezas e angústias. “[...] Tenha piedade das pequenas famílias suburbanas [...] mas tende piedade do ainda de dois elegantes que passam. [...] Não se esqueça ainda em vossa piedade os pobres que enriqueceram [...] Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram. Sua “fé”, resultado de sua educação cristã ainda se mostra forte, pois confia a Deus que “tenha piedade” pelas pessoas que sofrem.
    Outro poema que reflete a situação social é “Operário em Construção”(205-211), onde o poeta conta a história, em versos, sobre a vida de um operário que “ignorante”, que trabalha como uma máquina mas que não raciocina sobre sua própria vida, está acostumado a dizer “sim”para tudo e todos e nunca questiona o por quê de nada [...] Não sabia por exemplo /que a casa de um homem é um templo [...] Como tampouco sabia/Que a casa que ele fazia/Sendo a sua liberdade/Era a sua escravidão. [...] De fato como podia/Um operário em construção/Compreender como um tijolo/Valia mais que um pão? Um dia o operário começa a pensar em sua situação e resolve dizer “não” [...]e o operário disse: Não!/E o operário fez-se forte na sua resolução. [...] loucura! – gritou o patrão/Não vês o que te dou eu?/ - Mentira! – disse o operário/Não podes dar-me o que é meu.
    Os poemas de Vinicius são todos muito belos e profundos, mas esse é o meu favorito. A descoberta do operário enquanto ser verdadeiramente humano, que reconhece o seu trabalho e o seu valor como parte fundamental da nação. Podia ser somente mais uma história de operário como muitas outras que ouvimos, mas Vinicius narra com tanta sensibilidade que no fim do poema estamos tomados de emoção, estamos do lado do operário, torcendo por ele.

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  27. No “Poema Enjoadinho”, a linguagem muda, passa a ser uma linguagem mais simples, mais próxima do leitor. O poema fala de filhos e da relação amor e “ódio”, que aos que nos parece Vinicius manteve com seus filhos. Talvez o termo correto seja ausência, e não ódio, mas o poema deixa clara a relação entre Vinicius e seus filhos, que eram vistos como uma forma de prisão ou empecilho às suas paixões. Os filhos vêm como resultado de um momento bom [...]Banho de mar [...]Fica salgada [...]Que morenaço/ Que a esposa fica! / Resultado: filho. Depois desse bom momento, vem “a aporrinhação”: os filhos, e assim a paixão acaba, por não suportar as “noites de insônia e prantos convulsos.” No final do poema, deixa aparecer que nem tudo é ruim nos filhos, mas talvez isso fosse sentido quando em algum momento distante deles sentisse saudades.

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  28. Soneto de Fidelidade

    A leitura deste soneto, que quero sugerir aqui, situar-se-á à volta de dois elementos presentes no poema, que reflectem neste texto alguns aspectos das concepções de amor e paixão reiteradas, de várias formas, ao longo da obra de Vinícius, e pelo próprio autor ao longo da sua vida: (1) uma forte dimensão dicotómica subjacente à vivência da paixão – em que sentimentos e ideias opostas confluem ou entram em conflicto – que neste caso contribui para a organização do discurso ao longo do poema; (2) a conceptualização do amor e da paixão como finitos. Ambos os aspectos encontram-se neste soneto sugerindo uma síntese quase perfeita entre a poesia e a vida sentimental de Vinícius, em que esta parece moldar aquela – ou, querendo ver-se de outra perspectiva, aquela reflecte esta de forma quase perfeita. Daí a necessidade de ler este poema em diálogo com a vida de Vinícius.
    O título do soneto torna claro logo à partida qual o tema do texto. Porém, não se trata de uma mera abordagem da fidelidade amorosa, ou uma reflexão sobre esta; trata-se de facto, tal como logo a primeira estrofe evidencia, de uma declaração de fidelidade proferida pelo sujeito poético em relação à pessoa amada, a partir da qual, e da sua relação com o amor, e com a paixão, se acaba por reflectir sobre o próprio amor. Esta declaração de fidelidade começa por levar a uma outra, que podemos ler na primeira estrofe: à afirmação do projecto de se manter atento ao próprio sentimento amoroso, constituindo-se esta acção consciente do sujeito como aparentemente necessária para a própria manutenção da fidelidade. Se, por um lado, a forma como a fidelidade amorosa ao surgir no texto como algo que se conquista e reconquista continuamente através da atenção do pensamento em relação ao sentimento e ao desejo – sendo o amor capaz de ser destronado pelo encanto se o pensamento não estiver atento – estabelece, através da sugestão da ameaça constante do seu oposto, a primeira e mais fundamental dicotomia que encontramos no texto: fidelidade – infidelidade. Por outro lado, a divisão entre encanto e pensamento – perspectivados como opostos numa linha que segue de perto uma aproximação entre esta divisão e o par razão e sentimento – sendo este uma força capaz de controlar aquele, constitui a outra dicotomia subjacente à vivência do amor e da fidelidade, no contexto da relação amorosa, por parte do sujeito poético presente nesta primeira estrofe. Esta dicotomia, por sua vez, acaba por contaminar o resto do texto, e contribuir para uma aparente dimensão paradoxal do conceito de paixão neste soneto – ao que voltarei mais tarde.
    (cont.)

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  29. A segunda estrofe do poema tem subjacente a si outra das dicotomias que se revela frequentemente na poesia de Vinícius: dor – prazer. No caso concreto destes versos os opostos dor e prazer assumem a forma do “canto,” do “contentamento” e do “riso” – que apontam para o prazer – e do “pranto” e do “pesar” – que constituem a materialização da dor. Estes são, no entanto, elementos necessários da paixão, segundo o sujeito poético. Este não pretende negar nenhum dos lados da vivência do amor: não quer ter essa experiência como que truncada, privada do outro lado da dicotomia, que estabelece como própria de uma determinada essência do amor.
    O fim do amor é sugerido como aspecto incontornável da experiência humana no primeiro terceto, o que sugere desde logo uma divisão do poema em duas partes: a primeira parte – as duas quadras – mostram o amor como algo que se pode manter, mesmo que para isso seja necessária uma luta em que a razão se sobreponha aos instintos, aos “encantos;” e a segunda parte, em que o amor é caracterizado como finito. Segundo a concepção do amor presente nos versos do primeiro terceto, e continuada no terceto seguinte, o amor acabará por ter um fim: quer seja a extinção do sentimento, quer seja a morte dos amantes. Eis o aspecto aparentemente paradoxal que apontei em cima: o poder da razão para manter o amor, tal como ele é sugerido nas duas quadras do soneto, é nesta segunda parte posto em causa. Apesar da razão, das suas tentativas para fazer esquecer outros desejos, o amor acaba. Este aparente paradoxo, acaba porém por ser explicado pelos versos célebres com que termina o soneto: “Que não seja imortal, posto que é chama
/ Mas que seja infinito enquanto dure.” Isto é, o amor enquanto dura deve parecer infinito: deve dar a sensação de que pode durar para sempre. O amor enquanto dura deve dar a ideia de que a própria razão o pode controlar. No entanto, de acordo com o sujeito poético, o amor é uma chama, logo está condenado à extinção. Tudo isto apesar da razão.

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  30. Vocês poderiam me mandar o índice dessa nova antologia?

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  31. Ana Cleide, veja o URL (tb ao final da postagem).
    http://companhiadasletras.net/detalhe.php?codigo=80005
    Aqui os numeros, inclusive ISBN:
    Características
    Peso0.2200
    Altura18
    Largura12.5
    Profundidade1.3
    I.S.B.N.8535906398
    Código de referência80005
    Cód. Barras9788535906394
    IdiomaPortuguês
    Acabamento1635
    NÚMERO1

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