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Sunday, February 27, 2011

Os Sentidos da Paixao

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Os Sentidos da Paixao

Conceito do Leitor:  Seja o primeiro a opinar
Coleção: COMPANHIA DE BOLSO
Organizador: NOVAES, ADAUTO
Assunto: FILOSOFIA



32 comments:

  1. A história dos pais de Tristão é uma desdita amorosa, ou seja, da paixão que não tem lugar, da paixão como lugar sem lugar. Esta é, “a lei de todo o Romance” (224).

    Será que podemos atribuir a lei de todo o romance à vida de Vinícius?

    Penso que sim, porque em Vinicius, a paixão também não tem lugar. Vinicius não é estável. Ele salta de paixão em paixão. Esta é a lei de sua vida, se possível, a lei do seu romance, desde o seu primeiro casamento ao nono. A sua busca da paixão, do novo, transferiu Vinicius de lugar para lugar, de casamento em casamento, quer no aspecto terral quer no emocional.
    Wisnik fala-nos de um contraponto antitético que está relacionado directamente com a lei do romance anteriormente mencionada. Segundo seu parecer, este contraponto antitético é a relação entre os amantes. Estes, “quando se encontram, não se casam, e, quando se casam, não se encontram” ou seja, “há um contraponto antitético entre paixão e casamento que faz com que estas duas coisas estejam sempre no lugar oposto” (224). Em Tristão e Isolda o ensejo ao casamento pressagia um dos enigmas do sentido da paixão. O indigite/auge brota desse enigma, e o encontro em que é concebido prevê a futura morte dos amantes.

    Os amantes “o que eles amam é o próprio acto de amar e tudo o que se opõe a isso exalta o infinito” (240). Tendo em conta que a paixão nesta história é uma paixão baseada no uso de uma poção /filtro da paixão, também sabemos que esta paixão termina assim que o filtro perder o seu efeito.

    Tendo em conta, que a paixão terminará após seu efeito, até que ponto consideramos esta paixão, uma paixão autêntica?

    A certa altura o narrador diz que “o que interessa, e de facto chama a atenção, é que a essa altura a relação dos amantes muda de intensidade, ou de qualidade” (232). Ao fazer tal afirmação só demonstra que a “poção ou veneno da paixão, é a causa da magia da paixão.” Doravante, é de realçar que a magia da paixão, não está no máximo da traição em si, mas sim na poção mágica. A prova está na desaparição do resultado mágico. “A situação dos amantes é apaixonadamente contraditória, eles se amam mas não se amam, são vítimas de uma poção mágica” (240).

    A febre da paixão, a febre passional. O fogo ardente. A chama. O vermelho.

    O fogo da verdadeira paixão é percebível neste conto?

    Segundo Wisnik, o “verdadeiro fogo da paixão” entre Tristão e Isolda dá-se quando esta regressa à Cornualha. Justifica-se que, fora da poção mágica da paixão, a paixão é natural entre os dois.
    “Acende-se entre eles a paixão e o desejo do encontro secreto” (233). E, paixão é isso, quanto mais impossível mais intensa. Como diz o provérbio: “o fruto proibido é o mais apetecido.” O obstáculo remete a desejo.

    Podemos no entanto apurar, que, a afirmação de Wisnik: “se estão juntos, separam-se, mas ao se separarem, querem estar juntos,” faz parte do desejo incendiador do estar em perigo?

    Com certeza que faz. A paixão é assim, como as brasas. As brasas só se mantêm ateadas se o fogo que as ate-a for forte, persistente e dominador. Penso que, não há dúvida em asseverar, que a paixão é um fogo ardente e que como tal este ferve quando está no auge do perigo, do contraditório, do fora da lei, do segredo, do clandestino.

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  2. Será que os amantes que vivem no auge de uma paixão ameaçada são felizes? Até que ponto os amantes não vivem angustiados de não poder usufruir dessa paixão livremente?

    De acordo com Winisk, no momento em que essa paixão se declara ao mundo, o “fogo da paixão” começa a decair. Porque paixão é isso. Saudade, prazer. É viver no auge, é secrecidade. É viver, “renunciando à luta contra o desejo e abandonar-se no amor” (228). Se são felizes os que praticam desta paixão, sabendo que a sociedade os reprova, talvez, à sua maneira. Segundo Winiski existe infelicidade. Note-se: “Sua felicidade era frágil e sempre ameaçada.” Refere-se a Tristão e Isolda. “Apesar da embriaguez da vingança, só experimentaram nessa manhã um prazer misturado com inquietação e amargura” (234).

    Sem paixão não há prazer, e sem música não há dança.

    Há, doravante, uma relação: musica - paixão?

    Certamente que há, e Winisk ajuda-nos evidenciando claramente, como e quando essa relação atua. Há uma relação extremamente forte entre estes dois. Pois, na impossibilidade de praticar a paixão pessoalmente, a música passa a ser o meio de comunicação dos apaixonados. A música e a paixão completam-se e avivam as vicissitudes do desejo da paixão. “A paixão só se diz, em última instancia, pelo canto, pela música” (235). Wagner irá levar às últimas consequências o principio musical, incluso no romance Tristão e Isolda.

    Rosas vermelhas e videiras são mencionadas ao longo do texto.
    As rosas, símbolo da paixão, do fogo ardente, da dor, do sofrimento, do sangue (os espinhos). Da sensibilidade da suavidade, do toque aveludado das suas pétalas.
    A videira, símbolo da inseparação, união.

    Podemos associar Vinicius a estas duas plantas?

    Tem uma ligação sim, à roseira. Sua paixão era visível e foi essa paixão que fez dele um poeta tão especial. Ele era dependente da paixão. Paixão para Vinicius era a descoberta de um sentimento novo. Quanto à videira, tenho minhas dúvidas. Vinicius era desapegado de tudo e todos como Chico Buarque o afirmou no comentário de Farias. “Vinicius não retinha sucesso, dinheiro ou mulher, ou coisa alguma. Ele criava e largava como tudo na vida.” Não se unia nem era inseparável, era sim, insaciável. Um sedutor que viveu a sua vida à procura da felicidade.


    Renato Ribeiro: A paixão revolucionária e a paixão amorosa em Stendhal.

    Segundo Ribeiro, Stendhal vai investigar como se geram sentimentos. Como e porque me enamoro? Uma paixão chamada amor. A paixão “é o que de dentro de nós revela dimensão secreta e rica. Essa paixão é uma vitória da intimidade” (480).

    O que é que o apaixonado faz aos olhos de Stendhal?

    “Basta ele pensar em uma perfeição, para vê-la no objeto a quem ama” (481). Os provérbios: “o amor é cego” e “quem feio ama bonito lhe parece,” ajudam a compreender as atitudes do apaixonado. Por conseguinte o amor paixão não é senão uma ilusão? Precisamente, para que o amor paixão dure, é preciso “nascer a dúvida, haver frustração” (482). É nessa incerteza, medo, esperança, fracasso e êxito que se darão as sucessivas “cristalizações” (imagem que Stendhal celebrizou usando exemplos das minas de sal de Salzburgo), que eventualmente dão sequência ao amor apaixonado. Stendhal ao usar o termo cristalização fa-lo inteligentemente, pois estas cristalizações não deixam de ser senão uma ilusão. Estas manifestam meramente que a felicidade se edifica sobre assentamentos imaginários, sobre as fantasias que ideamos na pessoa amada, e não em cima de dados reais. Tentamos sempre fazer uma associação à pessoa amada. No fundo a paixão é uma cristalização “momentânea,”porque a cristalização não é duradoura. Retirando-a de seu ambiente, a cristalização sofre transformações ou seja, simplesmente desaparece. Esta teoria da “cristalização” aplica-se ao amor apaixonado. Se essa “cristalização,” se infiltra num ambiente real, tudo desmorona, pois fantasia não faz parte de um mundo real. “Conhecer é dizer adeus a ilusões” (482).

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  3. Como produzir paixão na pessoa a quem amo? Necessito da teoria para me elucidar ou guiar na produção da paixão?

    Obviamente que não. Não necessito de mapeamento na produção da paixão. A paixão produz-se facilmente. O jogo da sedução (Vinicius). É tudo uma questão de estratégia.

    Calculo no amor?
    Talvez. Calculo e predestinação. Digo no amor, porque este cálculo, não se aplica à paixão. Paixão não é calculável nem predestinavel. Paixão simplesmente acontece.

    Não virgem porém “honesta” (486).
    As técnicas para possuir uma mulher de sociedade. Uma espada ferrugenta que atiçou o fogo do desejo e da paixão!
    “Entre o amante e a sociedade não há convívio possível” (487). A paixão é uma riqueza íntima e não da sociedade.

    Se as técnicas falham, quem se apaixona então?

    Segundo Ribeiro, “os apaixonados, e os incapazes de amar, vão-se distinguir conforme o tipo de medo que cada qual sentir, porque no mundo de Stendhal é impossível não ter medo. O medo é, experiencia universal e decisiva que marca os homens, e ao mesmo tempo os divide em dois tipos” (488). O medo de perder e o medo de amar.
    O medo é um sentimento que predomina no núcleo da paixão. (É este medo que dá azo ao perigo). Medo é o temer não ser amado. É entregar-se à paixão. É por a felicidade na dependência do outro. “O medo se elevou a paixão por excelência” (490).

    A paixão de Clarice Lispector: Benedito Nunes

    Vicissitudes históricas e culturais da paixão.
    Phatos, Logos, Fedro, Eros, Phobus, Eleos.

    A força da paixão.
    Segundo Aristóteles e Platão, as tendências, apetites e desejos movem a inteligência e a vontade. Ora, novamente estamos batendo na mesma tecla. A paixão provoca o desejo e a vontade.
    Aristóteles em seu livro de Retórica, dá grande importância à “arte de persuadir” através do discurso. A arte no uso da palavra. O saber cativar o outro. Chamamos nós na linguagem corrente, “um homem cheio de lábia.”

    O que é que a obra de Clarice tem de passional?

    A primeira marca do Phatos encontra-se na recorrência de certos sentimentos fortes. (Cólera, ira, raiva, ódio, nojo, náusea, alternando-se com o amor e a alegria. “Verdadeiros núcleos afetivos” (312). “O amor traz uma vontade de ódio, e o ódio traz uma vontade de amor” (313).
    Não é preciso ser génio, ler todos os romances, pesquisar e inquirir para chegarmos a essa conclusão. Faz parte do ser humano dizer que odeia ou desdenha, quando de fato o sentimento é o oposto. Vejamos o provérbio: “Quem desdenha quer comprar.”

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  4. A segunda marca de Phatos em Clarice é a “sofreguidão do desejo, espécie de hybris, de insaciabilidade” (313). Estas referências, estou convencida, que não são uma novidade para o leitor. Talvez por experiencia própria ou por terem sido lidas em outros textos, é sabido que o ser insaciável ate-a a paixão. Acredito que, todo o ser humano, já experienciou alguma forma de paixão, nem que mais não fosse uma compaixão. Um Pathos “compassivo, solitário que se converte em simpatia” (314).

    Paulo Leminski: Poesia, a paixão da linguagem.

    Leminski começa seu texto com uma questão pertinente. A paixão está na moda?
    Segundo ele, não é a paixão que está na moda, mas sim a palavra paixão. Mantendo este raciocínio, Leminski perfaz, que estamos num período que não é muito apaixonado. Ou seja, “se há tanto livro, tanta referência à paixão, é porque há falta dela. Paixão está faltando.” (322)
    Leminski, a meu ver, está correcto. Concordo com sua teoria. Uma teoria simples e aplicável ao mundo actual. Um mundo de stress e agitação, não há tempo disponível para se dedicar à paixão. Por isso, todas as referências à paixão são um grito de socorro, para que haja mais paixão.
    “Dentro do quadro da nossa sociedade só se fala do que está faltando não do que está sobrando” (322). Estamos vivendo uma época de sensação não de paixão. Isto é, a paixão é incompatível com o tempo urbano - industrial. Em suma, Leminski afirma que há falta de paixão, e que estamos desesperadamente à espera que ela chegue.


    “A poesia é o amor entre os sons e os sentidos” (331).

    “Poesia é um ato de amor, por isso não vende. O amor não se vende no quiosque. A poesia resiste ao ato de se transformar em mercadoria. O amor não se pode transformar em mercadoria, por isso poesia não vende. Pode-se comprar sexo mas não amor. O amor resiste à transformação em mercadoria. O amor não se estuda pela psiquiatria, nem pela psicanálise, nem pela psicologia social. “O amor não cabe dentro do quadro das ciências. Na há ciência que tenha o amor como objeto” (333). Como tal, “poesia é um ato de amor” (336). O amor passa na mente do poeta na hora em que ele cria e assim se pratica um ato de amor. A poesia.
    Segundo Leminski, a paixão do poeta pela linguagem e vice-versa, é coisa que tem amplas implicações sociológicas, históricas, transcendentais.

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  5. 1. No artigo de Renato Ribeiro chamado, “A Paixão revolucionária e a paixão amorosa em Stendhal,” o amor é construído como a origem da paixão. Mas, isso é verdade?

    Um pouco sim e um pouco não. Sim, muita da nossa criatividade está cultivada pelas pessoas que nós amamos. As pessoas perto de nós, são nossas musas. Se um instrutor gosta dos seus alunos, ele/a vai ser mais criativo com o planejamento da aula (espero?). Acho que em geral, não seria possível que ninguém não tivesse escrito, pelo menos alguma vez na vida, um poema, uma música, ou uma carta romântica para o seu amor. É claro que os nossos amores ajudam a nossa criatividade, mas também há um outro sentimento que influencia a nossa paixão? A nossa criatividade? Eu acho que sim e eu acho que este sentimento é o nosso medo, como já dito pelos autores anteriores que nós lemos. Mas medo de que? Talvez nós escrevamos estes poemas, estas cartas, por causa do medo de perder os nossos amores se nós não fizéssemos estes atos românticas. Talvez os instrutores tenham medo de ter uma aula maçante. É possível que, dentro dele, Vinícius tivesse medo de quase tudo: de amar, de ser amado, de enfrentar a realidade e por causa disso ele foi capaz de escrever tão bem. Também, possivelmente, nós seguimos uma paixão tão fortemente por causa da nosso medo de mediocridade. No qualquer caso, eu acho que o medo é uma grande parte da nossa gravitação à paixão.

    2. No mesmo artigo, Ribeiro diz, “a paixão stendhaliana não é o sentimento de alguém que quer se apaixonar, de adolescentes amando o amor; ao contrário, é um sentimento maduro que somente surge naqueles que, antes, romperam com as ilusões da sociedade. São esses céticos, esses indiferentes à ambição que o amor irá colher,” (483). Isto significa que VM não realmente tinha paixão do ponto de vista de Stendhal?

    De novo, sim e não. É claro que o consumo excessivo de bebidas dele foi indicativo de alguém que não era muito maduro e o ato dele se casar nove vezes também não significa que tinha muita maturidade nem estabilidade. Foram muitos aspetos da vida de Vinicius que significariam à pessoa comum que este homem não é muito maduro na sua busca de uma vida apaixonada. Contudo, ele está em concordância com um aspeto da teoria stendhaliana: sua indiferença em relação à sociedade. Ele nunca pensou mais de uma vez sobre o que outros pensaram dele. Ele viveu totalmente livremente. Não queria mais ser casado? Deixá-la. Não pensou nas consequências, apenas continuou a sua vida. VM viveu além das fronteiras estabelecidas pela sociedade e por isso no mesmo tempo concorda com o conceito de paixão stendhaliana.

    3. No artigo, “A paixão dionisíaca em Tristão e Isolda,” Wisnik descreve amor e paixão como uma, “curva, como um transporte que descreve um arco e declina, como febre de ressonância narcísica que arrefece: este é o momento delicado em que os amantes, colocados pela flutuação das vontades diante da imperfeição do outro, e cessado o mágico encanto dado pela potência divina do entusiasmo passional, ou se desiludem, ou convertem a paixão numa relação amorosa baseada na aceitação do limite e da carência” (233). Isto é uma interpretação realista dos conceitos de paixão, especificamente pelo outro?

    Como já disse nos meus últimos comentários, minha teoria sobre o amor e também sobre a paixão pela outra é que vai durar só se uma pessoa soubesse todas as imperfeições do outro e ainda quisesse ficar com essa pessoa. Isto acontece depois do fogo de paixão diminuir ou apagar e a pessoa está deixado com alguém com quem já investiu o tempo, os sentimentos e talvez o dinheiro. E agora que acontece se o fogo intenso apagar totalmente? Vale a pena ficar ou não? Esta questão determinaria se o que tem é realmente paixão ou não. E eu acho que é isto que o Wisnik está falando nesta citação com o “cessado [...] mágico”, “febre [...] que arrefece” e uma “curva” com um “arco” e depois uma “declina”. Neste momento é quando o casal se apaixona, “na aceitação do limite e da carência.” E por isso eu acho que a interpretação de Wisnik é realista.

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  6. 4. Paulo Leminski no seu artigo, “Poesia: A paixão da linguagem,” comece por dizer que nossa obsessão com a paixão não é porque nós temos um monte de paixão nas nossas vidas para analisar mas é porque “está faltando,” (322). É verdade que a paixão é um tópico tão interessante para discutir porque é algo que nós estamos sempre em busca?

    Agora que eu li esta teoria, eu acho que faz muito sentido pensar da paixão nesta maneira. Por que VM sempre estava seguindo as suas paixões? É provavelmente porque ele pensasse que não tinha bastante paixão na vida e por isso foi sempre em busca de mais paixão para satisfazer a carência que sentia. Quando nós pensamos em paixão e como nós seguimos nossas próprias paixões, é fácil compreender que nós seguimos estas paixões porque acreditamos que o que temos agora não é o suficiente. Por isso, procuramos mais cumprimento no campo das nossas próprias paixões.

    5. No mesmo artigo Wisnik faz uma pergunta, “[...] exist[e] um amor sem sadismo nem masoquismo?”. Mas ele responde que não sabe. Há uma resposta a esta pergunta?

    Eu acho que sei a resposta. E a resposta é que o amor não existe sem alguma forma de sadismo nem masoquismo. Quando uma pessoa entra numa relação, é obrigatório ter a expectativa que em algum momento haverá dor. Mesmo que a relação dure para sempre, é completamente inevitável que esta pessoa acabará por desapontar o outro e vice-versa. Mas, isto é parte do caminho, não é? Alguém não pode apreciar verdadeiramente a felicidade sem o conhecimento de sofrimento. Podemos concluir que o sadismo e masoquismo não apenas existem, mas também que suas existências são necessárias para o amor e para a relação.

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  7. 5. No seu ensaio “Poesia: a paixão da linguagem”, Leminski escreve que “a poesia seria cúmplice, desde o começo desse sentimento que se chama amor “(331). O que teria pensado Vinicius de Moraes desta declaração quando lembramos o episódio relatado por Castello em O Poeta da Paixão em que à pergunta dum apresentador sobre a origem do seu talento poético, VM responde que “roubara um poema do pai para oferecer à namorada, mas depois-envergonhado-decidira tornar-se poeta de verdade para jamais precisar roubar versos dos outros” (41)?

    Embora esta resposta possa ter sido uma graça de VM, a verdade é que para VM a poesia se ergue sobre emoções (Castello 13). No seu prefácio de O Poeta da Paixão, Castello cita Carlos Drummond de Andrade como tendo dito: “Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão” (11). Segundo Castello, o próprio VM disse um dia: “A poesia é tão vital para mim que ela chega a ser o retrato de minha vida” (17). Quando lemos os poemas que Castello decidiu incluir no seu livro O Poeta da Paixão e especialmente os poemas que VM escreveu para as mulheres por quem se apaixonou é mais do que evidente que a poesia é de facto cúmplice desse sentimento que se chama amor.

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  8. 1. No debate que segue o seu ensaio “Poesia: a paixão da linguagem”, Leminski declara que ser poeta é ter nascido com um erro de programação genética que faz com que, em lugar de você usar as palavras pra [sic] apresentar o sentido delas, você se compraz em ficar mostrando com elas são bonitas, tem um rabinho gostoso, são um tesão de palavra (347). Leminski conclui depois que “a prosa estaria a serviço do princípio da realidade, a poesia, basicamente, do princípio do prazer” (347). Será que esta definição se pode de facto aplicar a todos os poetas e a toda a poesia? Que pensar em relação a Vinicius de Moraes?

    Em primeiro lugar, a leitura da biografia O Poeta da Paixão de Castello deixa claro que no caso de VM existe uma interligação entre o princípio da realidade e o princípio do prazer. Se pela sua formação VM começa como poeta metafísico, Castello mostra a sua metamorfose e escreve: “O poeta metafísico, apesar de lançar suas últimas sombras sobre os versos que escreve, luta contra um outro poeta que busca os pés bem fincados no chão” (117). Castello explica também que o poema “Os bens imóveis” “serve como excelente exemplo da relação compulsiva que Vinicius de Moraes tinha com o ato de escrever. A poesia, para ele, está cada vez mais conectada diretamente com o mundo real, com as circunstâncias servindo como reflexo-mas não só reflexo, motor também, a fornecer energia vital-da vida” (210). Existe em Vinicius de Moraes uma fusão entre o princípio da realidade e o princípio do prazer.
    No que diz respeito a um erro de programação genética, talvez os poetas que ficam para a eternidade sejam os poetas cuja programação genética os leva além da demonstração da beleza das palavras. Um poema pode até tocar o leitor pela beleza das palavras e das rimas mas se não tiver nenhuma mensagem, nenhuma “realidade” talvez o poema não fique para sempre. Por outro lado é evidente que todos temos a nossa própria subjectividade e nem todos procuram mensagens, “realidade” na poesia. Porém, talvez o segredo dos nossos grandes poetas (Vinicius de Moraes, Pessoa, Shakespeare...) seja esta fusão que leva o leitor não só a usufruir da beleza do poema mas também da realidade que ele transpira e que nos toca.

    2. No ensaio de Renato Janine Ribeiro, “A paixão revolucionária e a paixão amorosa de Stendhal” , deparamos com o conceito da cristalização de Stendhal. Ao ler a explicação do processo em que é necessário “nascer a dúvida, haver a frustração-e assim, na alternância de medos e esperanças, de fracassos e êxitos, é que irão ocorrendo sucessivas cristalizações, que dão sequência ao amor apaixonado” (482), não podemos deixar de pensar na vida amorosa do nosso poeta Vinicius de Moraes. A sua vida amorosa não seria ela toda uma série de cristalizações?

    Tati, a sua primeira esposa, rompeu o seu noivado para ficar com ele. No entanto logo em seguida VM obtem uma bolsa para estudar no Magdalen College e embora casados por procuração tem de partir sozinho para a Inglaterra. Como relata Castello em O Poeta da Paixão, com Regina Pederneiras VM tem de enfrentar a mentira e o ciúme (18). Lucinha é uma mulher casada quando reencontra VM e eles se apaixonam. Nelita também tem namorado quando se envolve com VM. Com Cristina, também houve pela parte de VM várias tentativas de seduzi-la que não deram em nada até que um dia ela cedeu. Com Gesse e Marta o namoro começou mais depressa mas com Gilda, Castello explica que: “A aproximação de Vinicius de Moraes com sua última musa será lenta, tortuosa, pontuada por desencontros e pequenas peças do destino. Servirá ao poeta como a confirmação derradeira de que o amor não se costura em linha reta, mas a saltos cegos, num cenário repleto de situações de dupla mensagem e de arabescos” (396). A vida amorosa de VM foi de facto preenchida de dúvidas, frustrações, medos, esperanças, fracassos e êxitos e foi sem dúvida atravessada de uma série de cristalizações. Como ele próprio escreveu: “Hei de morrer de amar mais do que pude”(Castello 159-160)

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  9. 3. No seu ensaio “A paixão dionisíaca em Tristão e Isolda” Wisnik chega à conclusão de que “A nossa herança contém a expectativa de conciliação entre a singularidade errática do amor-paixão com a estabilidade duradoura do casamento” (253). Segundo a definição do dicionário da Porto Editora, uma expectativa é uma esperança fundada em promessas ou probabilidades(716). Será possível tornar essa expectativa numa certeza?

    Antes de mais, não podemos deixar de lembrar aqui o blog de Calligaris “O ideal do amor romântico está em que filme?” em que aparece a seguinte sugestão: “Renunciem a ser o príncipe e a Cinderela, destinados a viverem felizes para sempre, e encarem as trapalhadas que vierem.” Se os nossos ideais de amor romântico se limitarem aos pares dos contos de fadas ou aos pares trágicos como Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, estaremos em muitos maus lençóis, pois esperam-nos a desilusão e/ou a morte! No entanto, Wisnik também escreve o seguinte:
    Parece-me que a questão da duração do efeito do filtro, seja qual for a história e a causa de sua inserção no romance, faz jus a uma percepção da paixão como curva, como um transporte que descreve um arco e declina, como febre de ressonância narcísica que arrefece: este é o momento delicado em que os amantes, colocados pela flutuação das vontades diante da imperfeição do outro (que implica a própria) e cessado o mágico encanto dado pela potência divina do entusiasmo (etimologicamente: endeusamente) passional, ou se desiludem, ou convertem a paixão numa relação amorosa baseada na aceitação do limite e da carência (232).
    São importantes aqui a percepção da paixão como um transporte que descreve um arco e declina assim como o uso do verbo converter. Sendo assim não precisamos de conciliação entre o amor-paixão com a estabilidade duradoura do casamento. Porquê? Porque irá existir uma conversão, uma transformação. Talvez o amor-paixão se torne simplesmente Amor e que entrem então em jogo a coragem e a generosidade de que Calligaris fala nos seus blogs.

    4. Nunes termina a primeira parte do seu ensaio “A paixão de Clarice Lispector” com este comentário: “A crítica da ilusão romântica-ilusão que não compromete a essência do romantismo-alerta-nos contra a postura ingênua que reclama da literatura o puro espelhamento das paixões. Qualquer que seja o grau de expressão literária por elas alcançado-o grito, o gesto arrebatado, o surto emocional-a paixão expressa já é paixão passada, arrefecida, recordada, medida, distanciada” (312). De facto uma paixão ou uma emoção quando chega a ser expressa e impressa no papel já pode ser considerada passada, arrefecida, recordada, medida, distanciada. No entanto, será que este é sempre o caso?

    Existem momentos na vida de Vinicius de Moraes que nos levam a achar que nem sempre a paixão expressa e impressa no papel esteja marcada pela distância, frieza ou passado. Em O Poeta da Paixão, Castello escreve que “Na primeira noite que passa com Lila, Vinicius escreve o poema “A hora íntima” [...] O poema começa-e termina-com uma declaração em que o amor e a morte se confundem: “Quem pagará o enterro e as flores/Se eu me morrer de amores?”. Os sentimentos por Lila parecem avassaladores e, se o deslumbram, também o amedrontam” (159). Castello escreve sobre os versos “Adeus, amigos meus” que são “versos esculpidos na emoção da despedida” (213). Talvez a capacidade de expressar uma paixão que já é passada (no sentido em que primeiro teve de existir aquela paixão, emoção) como se ela fosse presente e próxima de nós seja um dom que só os grandes poetas têm e por isso a sua poesia atravessa os séculos e continua a encantar e a tocar as nossas almas.

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  10. José Miguel Wisnik escreve o seguinte no seu ensaio, A Paixão Dionisíaca em Tristão e Isolda: “Durante muito tempo, de uma maneira que remonta às mais antigas relações entre a ideia de amor e a de casamento, o princípio da paixão se opõe ao do matrimónio, como o da estabilidade da órbitra dos planetas se opõe ao desgarramento e à ruptura.”(253).

    Não há dúvida de que, se analisarmos a literatura ao longo dos séculos, no que diz respeito ao romance, desde o amor cortês do século XII, passando mais tarde por Eça , Flaubert, sem deixar de lado a tragédia de Shakespeare, bem como ao lermos Tristão e Isolda, apercebemo-nos de que existe alguma veracidade na afirmação de Wisnik. De uma forma ou de outra, todos os romances geralmente envolvem paixão e morte, amor, casamento e adultério; amizade, sexo e desejo. Estamos a falar de literatura, obviamente, mas será que não existem implicações para tal na vida real? E qual seria a posição de Vinicius em relação a tal comentário?

    Na história trágica de Tristão e Isolda, existe uma série de indícios desta antítese paixão/casamento, sendo, talvez, como primeira revelação o seguinte: “Tristão é o nascido sob o signo da paixão.”… “…. Os amantes, quando se encontram não se casam, e, quando se casam, não se encontram.” (224). Curiosamente, José Castello, em O poeta da Paixão escreve, na voz de Carlos Drummond de Andrade: “Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão.” (11)
    No desenrolar da narrativa, quando se acende novamente entre os amantes a paixão e o desejo do encontro secreto, Wisnik volta a comentar: “(De novo: se estavam juntos, se separam; mas ao se separarem, querem estar juntos. (233).

    A antítese prolonga-se através da história como que se Tristão e Isolda estivessem condicionados por esta teia chamada de paixão. Wisnik chega a afirmar que, “A narração se faz da perspectiva dos apaixonados, da lei do amor contra a do casamento.” (239). O que passo a citar confirma precisamente esta condição que domina os amantes. “A impossibilidade da plena realização do encontro amoroso, que o percurso dos amantes indica, teria que ser entendida já como um extravasamento, uma excedência que os faz, mais do que se amarem um ao outro, serem presas do amor, “o amor do amor”, num grau de narcisismo para além do espelhamento pessoal. A situação dos amantes é “apaixonadamente contraditória”: “eles se amam mas não se amam” (são “vítimas” de uma poção mágica, “sofrem” tautologicamente a paixão, confessam-se mas não querem curar-se, nem buscam o perdão). “Sentem-se arrebatados para além do bem e do mal numa espécie de transcendência das nossas condições comuns, num absoluto indizível incompatível com as leis do mundo, mas que eles sentem como mais real que este mundo.” “...o que eles amam é o próprio ato de amar, o amor em si....” (240).

    Paralelamente, Vinicius confessa a Clarice Lispector o seguinte: “Que eu amo o amor é verdade. Mas por esse amor eu compreendo a soma de todos os amores, ou seja, o amor de homem para mulher, de mulher para homem, o amor de mulher por mulher, o amor de homem para homem e o amor de ser humano pela comunidade de seus semelhantes. Eu amo esse amor mas isso não quer dizer que eu não tenha amado as mulheres que tive. Tenho a impressão que, àquelas que amei realmente, me dei todo.”

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  11. Wisnik levanta ainda a questão: “É permitido dizer que o mundo é pobre para quem jamais foi doente o bastante para a paixão?” (223). Certamente que esta questão me fez pensar em Vinícius. “Quem já passou por essa vida e não viveu /Pode ser mais, mas sabe menos do que eu /Porque a vida só se dá pra quem se deu/Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu/ Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não”.

    Em Tristão e Isolda, a ideia patética da poção mágica como causa da paixão (poção essa, cujo efeito não é eterno (aliás, como nenhuma paixão o é) , deixa de ter importância, visto o cerne da questão residir no que chamarei de fruto proibido, por ser sempre o mais desejado; mas somente enquanto proibido, sublinhemos! A partir do momento que deixa de ser proibido, desvanece-se. Em Vinícius, presenciamos o constante desejo da novidade, a aspiração de uma paixão nova, assim que a intensidade da anterior começa a diminuir.

    Ironicamente, Vinicius afirma na sua entrevista com Clarice Lispector: “Na minha vida tem sido como se uma mulher me depositasse nos braços de outra”. Se bem que se encontrava numa busca constante por novas paixões, Vinícius, contrariamente à teoria de Wisnik, em que o princípio da paixão se opõe ao do matrimónio, casou-se nove vezes, como é do nosso conhecimento. No entanto, também sabemos que estes casamentos cessavam para dar lugar a novas paixões, por conseguinte novos casamentos. Em suma, admitamos---o ser humano é um ser insatisfeito!

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  12. No seu ensaio, Poesia: A Paixão da Linguagem, Pedro Leminsky traça uma interessante analogia, ou melhor, faz uma interligação entre amor/ paixão/linguagem/poesia/. Diz-nos que: “O poeta seria uma vítima da linguagem, a linguagem exerce uma violência sobre ele e ele sofre essa violência.” (324). Mais adiante, afirma:”…o poeta sofre”. Leminsky faz ainda referência ao amor entre o poeta e a linguagem: “As línguas amam seus poetas porque, nos poetas, se realizam os seus possíveis.” (329). Vai mais além afirmando que, “A poesia seria cúmplice, desde o começo, desse sentimento que se chama amor. Eu acho que é uma coisa perfeitamente lógica, natural, porque a poesia, se vocês olharem bem, ela é o amor entre os sons e os sentimentos…num sentido que a prosa não é. É por isso que a poesia não morre.”
    No entanto, Lemisnky reconhece que: “…poesia não vende. Poesia é um ato de amor entre o poeta e a linguagem.” Mas justifica logo após: “Uma coisa, porém, não pode ser transformada em mercadoria, que é o amor. Amor é dado de graça, alguém pode comprar amor?” (331) Assim é a paixão do poeta pela linguagem e da linguagem pelo poeta…algo recíproco, intrínseco….

    Quando Clarice Lispector entrevistou Vinícius e lhe perguntou o que para ele é a poesia, ele replicou: “Não sei, eu nunca escrevo poemas abstratos, talvez seja o modo de tornar a realidade mágica aos meus próprios olhos. De envolvê-la com esse tecido que dá uma dimensão mais profunda e consequentemente mais bela.”

    Para Vinícius, segundo Castello, em O Poeta e a Paixão, “…poesia sem paixão podia ser tudo – menos poesia.” (14). “Quando Vinicius fala em alma…… fala de algo absolutamente mortal – algo eterno, apenas, enquanto dura – que aparece sobretudo no amor e, ainda, em sua forma extrema: a paixão. Mas que também aparece na amizade, na música, na poesia e na morte,” (14).

    Afinal de contas, Vinicius passou a vida em estado de poesia, daí essa relação que se pode fazer entre o poeta, a linguagem e a paixão e, já agora, o amor - pois é do nosso conhecimento que Vinicius não pôde nunca viver sem um grande amor.

    Que todo grande amor/Só é bem grande se for triste/Por isso, meu amor/Não tenha medo de sofrer…/Assim como o poeta/Só é grande se sofrer/Assim como viver/Sem ter amor não é viver/Não há você sem mim/Eu não existo sem você.

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  13. 1) Na entrevista com Paulo Leminksi, o ouvinte diz, “aquele que escreve a carta de amor, na verdade não quer escrita, ele detesta a escrita, ele escreve pra dizer ‘eu escrevo para que tu ouças”. Depois, o poeta Leminski concorda com a declaração. O que é que isso revela sobre o escritor, poetas e outros artistas?

    Na situação criada pela ouvinte sobre o escritor de uma carta de amor, aprendemos que não é o processo de fazer uma carta de amor que o escritor gosta. O escritor não escreve a carta de amor pela paixão de escrever. O que é importante, o objetivo da carta, é que ele comunica uma mensagem para a receptora. É importante que a receptora entenda a carta, que ela ouve o que ele escreve. O escritor não escreve pelo amor de escrever. Ele escreve porque ele quer comunicar algo, e a sua melhor ferramenta para comunicar a mensagem é pela escrita. Um poeta pode comunicar pelas palavras porque ele sabe fazer poesia. Por exemplo, será que Vinícius escrevia “para que nós ouvíamos?” O objetivo da poesia dele foi mais importante do que a arte? Leminski também fala que “a música popular também é um veículo de tradução e expressão desse sentimento único (amor total).” Como Vinícus sabia, a música pode ser usada no mesmo jeito do que a poesia. As duas são ferramentas que podem comunicar uma mensagem. De amor, de paixão, de liberdade. Será que Vinícius teria escrito sem a fome para paixão?

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  14. 1. Na leitura “Poesia: A Paixão da Linguagem” Leminski diz que “a poesia é o amor entre os sons e os sentimentos”, “a poesia é um ato de amor entre o poeta e a linguagem”. Gostei muito da maneira que ele falou sobre a poesia. Eu acho que os poetas precisam de palavras e sentimentos para construírem um poema, palavras sozinhas tornam-se só letras num papel e sentimentos sozinhos sem palavras são difíceis de exprimir. A poesia une os dois (as palavras com os sentimentos) e daí nasce o amor entre os dois. Esse amor em que Leminski fala, torna-se numa paixão da linguagem. Mas eu acho que não é só paixão pela linguagem mas também uma paixão que existe dentro do poeta. Para mim, a paixão tem que existir primeiro dentro do poeta, depois de existir lá, pode criar-se em outra paixão, a paixão da linguagem. Podemos ver a paixão da linguagem em Leminski quando ele diz “a línguas amam seus poetas como se fossem seus filhos.” A metáfora que ele usa aqui é bonita e isto não é uma poema, ele aqui só está referindo-se aos poetas famosos que “conduzem sua língua aos extremos limites de expressão.....”. Aquilo que o poeta faz no poema não passa de ser uma coisa extraordinária, a manipulação do som das palavras, o sentido das palavras juntamente com os sentimentos que ele está a sentir, é simplesmente amor e paixão tudo enrolado.

    2. Leminiski fala que encontra-se nos poetas gregos e latinos “a paixão, aquele aluguelzão mesmo, era como uma espécie de feitiço....com ligação entre magia e bruxaria... ” é interessante esse conceito porque na história de Tristão e Isolada, o filtro preparado pelos dons mágicos é que fez Tristão e Isolada apaixonados. A paixão é vista muitas vezes como algo misterioso, místico ou mágico. Será porque não sabemos bem explicá-la? Num certo ponto acho que sim, porque é mais fácil e talvez mais romântico dizer que ficamos apaixonados de resultado duma coisa fora do nosso controlo. Eu já ouviu dizer que a paixão é como uma droga, uma droga que espalha pelo corpo e nos enche com emoções incontroláveis. Esse conceito será mais fácil de aceitar ou de explicar a razão porque é que nós cedemos aos nossos desejos.

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  15. 3. Na leitura de Nunes, ele faz referencia ao Dodds que comenta “a própria palavra pathos o testemunha; do mesmo modo que seu equivalente latino passio, significa aquilo que acontece a ”um homem, aquilo de que ele é a vítima passiva.” É interessante esta referencia do homem ser vítima porque geralmente usamos esta palavra num sentido negativo. O dicionário defina vítima como” Pessoa que sofre por culpa sua ou de outrem” e já lemos ou falamos que a paixão faz nos sofrer, em casos amorosos mas em outros casos também. O Sofrimento parece que está sempre ao redor da paixão. Na obra da Clarice Lispector “A paixão segundo G.H.” a paixão dela não é uma paixão amorosa como temos visto em outros textos mas é o sofrimento. No caso dela até é um pouco estranho porque não sabemos bem a qual é sua paixão, acho que poderia ser o seu desejo para descobrir a si mesmo. Ela parece que esta a sofrer porque não gosta de si ou não se conhece mas quer conhecer-se. O caminho que ela passa para chegar lá traz-lhe sentimentos fortes como ódio e nojo. No primeiro dia da nossa aula o professor pediu-nos para definir paixão, eu escrevi “um sentimento forte/intenso para qual quer coisa ou pessoa”, os sentimentos que G.H. está a sentir são intensos, na forma que ela come a barata em desespero de renacer, é assim que ela torna-se vítima das suas paixões.

    4. Ribeiro diz que “estudar o amor-paixão é estudar como ele nasce: o apaixonamento.” A cristalização em que ele fala é como dizemos em inglês “the spark”, a paixão não pode existir sem ela. Mas tudo o que nasce também tem que morrer. Será por isso que o Vinicius se apaixonou tantas vezes? Será que as suas paixões eram tão fortes que ao cabo de tempo elas morriam e depois nasciam de novo em paixões novas. Depois das mulheres se entregaram a ele, a paixão morria. Nesse ponto ele terminava a relação e procurava outra cristalização. Quando ele terminava as suas relações ele não levava nada consigo simbólico a morte onde não podemos levar nada connosco. Talvez era a única maneira que ele poderia começar de novo.

    5. Segundo o Ribeiro “a paixão stendhaliana é revelação, é mudança na vida, e por isso implica um novo começo ou fim da vida.” Podemos aplicar isto às paixões todas da vida. As nossas paixões podem levar-nos a sucessos na vida pessoal ou na vida profissional e esse sucesso pode trazer-nos felicidades mas só se “entregarmos e pomos a felicidade na dependência do outro” (Ribeiro). Temos que nos entregar totalmente se não, não vai dar certo não podemos ter sucesso. O acto de nos entregar e depender de outro não vem sem sacrifícios e sofrimentos algo que eu mencionei antes, todo que está relacionado com paixão tem haver com sofrimento.

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  16. 2) No seu artigo, Leminski fala “amor entre os sons e os sentidos, esse ato de amor se passaria na mente do poeta na hora em que ele cria, naquele lugar os sons e os sentidos praticam um ato de amor. Poesia é isso, um ato de amor, intrinsecamente, substancialmente.” Será que poesia tem tanto a ver com amor mesmo?

    A boa parte da poesia deste mundo deve falar bastante do amor. Então faz sentido insinuar que quando Leminski fala que poesia é um ato de amor, ele está falando sobre o objetivo da poesia, que poderia ser mostrar a emoção do escritor. Ora, Leminski também fala que “poesia é um ato de amor entre o poeta e a linguagem”. Nesse caso, mesmo que o assunto da poesia seja amor e paixão por uma mulher, o ato de amor tem a ver com a paixão que o poeta tem por palavras. Ele cria poesia por amor da linguagem. Então, uma teoria propõe que o poeta usa a poesia como uma ferramenta para fazer um ato de amor. A outra propõe que o ato de amor é a criação das palavras pelo amor da linguagem. Agora eu quero trazer à tona um poeta metafísico que foi mencionado no reading da última aula. John Donne é um dos poetas ingleses mais famosos. Ele é também um dos meus poetas preferidos. Não porque ele falava tão elegantemente de amor, ou porque eu admiro a sua relação com a língua inglesa, mas porque eu sempre achei John Donne um dos maiores malandros deste mundo. Dá uma olhada na poema “The Flea”. Na poema, ele fala compara a picada de uma pulga com sexo. Isso é muito comum na sua poesia e a poesia dos poetas metafísicos. Ele criam idéias complexos, e ele usa uma linguagem bonita e inteligente, só para convencer uma mulher ficar intima com ele! Num lado, sim ele deve gostar bastante da linguagem para criar uma poema tão genial assim. Mas eu acho o objetivo da poema mais importante do que o amor pela linguagem. No outro lado, o objetivo da poema não exatamente tem a ver com amor. A maioria do artigo do Leminski fala da poesia sobre um grande ato de amor. Mas eu achei muito melhor a sua ver da poesia como “um tesão da palavra... a palavra como objeto sexual, como um objeto erótico.” Eu acho que o jovem John Donne concordaria com isso!

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  17. 3) Leminski menciona na sua entrevista que “não existe nenhuma disciplina científica que tenha o amor como objeto.” Ele continua falando que “o amor é uma coisa que você vai ter que procurar nos artistas, na televisão, no cinema, e, principalmente, na poesia.” O que é que essa declaração insinua sobre poetas?

    Nessas citações, Leminski compara o amor com áreas de estudo que podem ser aprendidas (numa universidade por exemplo). Áreas assim, como engenharia, psicologia e matemáticas, têm especialistas que sabem mais sobre o assunto. Leminski continua falando que, como amor não é disciplina científica, é alguma coisa que tem que ser entendido pelas obras de artistas, especialmente na poesia. Ou seja, poetas são os especialistas de amor. Mas isso pode ser verdade? Faz sentido que a carreira de poeta é uma que mais tem a ver com a contemplação de amor. Mas vamos considerar alguns poetas. Muita poesia dos poetas metafísicos fala mais de sexo do que amor. Vinícius mesmo, embora que a sua poesia seja famosa para o conceito de paixão, se casou muitas vezes e não deve ser considerado um especialista de amor. Malandragem talvez, mas não amor.

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  18. 1- O amor, a paixão e o medo em Stendhal. Poderemos compará-lo com o que sucede com Vinicius de Morais?
    Tal como Ribeiro indica, estamos a falar de um autor do século XIX, influenciado pelas correntes literárias da época, mas que cria uma categorização muito interessante destes três sentimentos (amor, paixão e medo) que, na minha opinião, são todos sentimentos que alimentam a vida sentimental de cada uma de nós. Se a início nos apresenta o amor-gosto (o do mundo cor-de-rosa) e o amor-paixão, questiono-me se é o último aquele que constantemente se intromete na vida de Vinicius? Sem dúvida, pois estamos perante um sentimento de tal maneira forte que coloca em causa a posição daquele que dele sofre na sociedade, e Vinicius foi tantas vezes questionado e julgado pelas suas escolhas e pelas suas paixões.
    Mas o autor faz-nos uma outra chamada de atenção: a paixão é em si um problema para o homem, pois provoca uma idealização do amado e, é com base nessa idealização que a felicidade é construída. Esta última afirmação é de facto muito interessante se aplicada ao poeta da paixão, pois poderemos inferir que a cada vez que ele idealizou uma nova felicidade encontrou um novo amor/paixão. Foi, muito provavelmente, um processo em tudo semelhante ao que Stendhal apresenta, mas foi também muito mais que isso, uma vez que Vinicius foi o homem que nunca parou de racionalizar as suas relações, na busca do verdadeiro e puro amor, mas esse de tão impossível que é de atingir, provocou no poeta uma simples adaptação a cada momento, vivendo-o cada com a devida intensidade, contrariamente ao que Stendhal nos propõe.
    O medo e o amor são dois sentimentos que são indissociáveis e este é um facto que não podemos negar ou sequer contrariar e que podemos observar a partir de dois exemplos: Vinicius tinha medo da morte, medo de ficar sozinho e, penso que em cada conquista ele teria (talvez sem saber) medo da rejeição; para Stendhal o medo é o que marca os homens, dividindo-os em seres capazes ou incapazes de amar, conduzindo a sociedade para uma interessante forma de abismo, ou seja, o medo de perder um estatuto social para aqueles que serão incapazes de amar e, para os outros, o medo de amar dos seres mais sensíveis que os conduz a uma desvalorização deste sentimento. Vinicius era uma pessoa extremamente sensível, pelo que podemos ler da sua poesia, das letras das suas músicas e até por aquilo que nos é retratado na sua biografia, mas ele não tinha medo de amar e muito menos desvalorizava tal sentimento que era para ele a essência da vida, o que nos leva a pensar se Stendhal não estaria aqui a fazer uma generalização de tal forma abrangente, esquecendo-se de ver muito para além daquilo que à partida seria normal acontecer, tendo em conta o que se conhece do Homem.
    Talvez esteja totalmente errada nesta minha leitura de Stendhal, mas penso que embora deveras interessante a forma como relaciona amor, paixão, felicidade e medo, esta sua generalização não serve na sua totalidade para pessoas tão diferentes e sensíveis como um Vinicius de Morais.

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  19. 2- A paixão de Clarice Lispector é em tudo semelhante à paixão de Vinicius ou estamos perante dois géneros de paixão totalmente distintos?
    Benedito Nunes para poder elucidar o leitor sobre a paixão nos textos de Clarice Lispector recorre à antiguidade e dá-nos a conhecer como era vista e como foi evoluindo com a sociedade este conceito ao longo da história da humanidade, aspecto interessante, embora não seja importante expor aqui para responder à questão. Relevante é o facto de o autor fazer uma interessante afirmação: “Estamos diante de uma ficção que pensa, de uma ficção indagadora, reflexiva, a que não falta, como em toda a literatura, um intuito de conhecimento.” Aparentemente é em tudo, o que acompanhámos com Vinicius, uma viagem pelo interior do “eu”, reflectindo em tom quase que confessional o que lhe vai na alma, sobretudo relativamente aos sentimentos (note-se que para cada nova paixão, Vinicius iniciava uma nova fase a nível pessoal e artístico e chegava mais longe, despedindo-se e encerrando cada uma dessas fases) e, é neste sentido que o romance de Clarice Lispector se pode aproximar da poesia de Vinicius: a arte através da vida.

    3- “(…) a gente tá vivendo uma época da sensação, não da paixão. A paixão me parece incompatível com o tempo urbano-industrial.”
    Paulo Leminski, Poesia: A Paixão da Linguagem


    Poderemos considerar esta afirmação como absoluta e verdadeira?
    Não acredito que tal seja possível, pois embora o autor tenha razão quando afirma que o tema da paixão é um tema em moda nos dias de hoje e que o ser humano tem uma incontrolável tendência para valorizar aquilo que lhe falta, não consigo imaginar que a vida humana sem a paixão pura e simples seja concebível. É um facto de que estamos a falar de uma paixão através da palavra em que para Leminski, fazer poesia é um acto de loucura, quase de insanidade mental, pois a poesia não nos dá nada em troca e nem é uma boa forma de vida (sobretudo monetária), mas não será aí que reside a beleza única do tema…fazer algo por paixão simples e desinteressada, não é o que nos dá mais alegria e sentimento de realização? Para responder a tantas questões que se podem levantar a partir de um pequeníssimo excerto de um texto, como este, temos que falar um pouco mais sobre o mesmo e, acima de tudo, daquilo que o texto define como assunto principal. Deste modo, falar aqui de paixão é falar de como a poesia reage com o mundo, com o seu autor e com quem a lê e, é deveres inquietante a forma como Leminsky coloca o dedo na “ferida” e afirma categoricamente que o poeta é primeiramente um ser diferente de todos os outros, uma vítima da linguagem que se deixa violentar por ela até a conseguir subverter e torná-la em algo activo, em tudo semelhante ao que acontece com a evolução da palavra “paixão”: começa por ser algo passivo até se que transforma numa coisa activa.
    Mas centremo-nos no tema da poesia e da paixão. Parece-me natural que o poeta seja diferente, mas não concordo com a afirmação de que é “um ser dotado de erro”, pois considero que o ser marginal revela apenas a sua grandiosidade perante o mundo e os Homens, através da criação de uma obra em que o seu todo é significado. O poeta coloca-se assim, num patamar acima de todos os outros, vivenciando e experimentando a vida através da busca de diferentes sensações, apreendendo-as e dando-as mais tarde a conhecer através da sua obra. É natural que essas suas vivências sejam condicionadas pela sociedade e pela língua em que se exprime, sendo este um acto de amor entre o poeta e a sua língua, mais ou menos conhecida.

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  20. 4- “O amor não é uma coisa que nasceu com a espécie humana (…)”
    Paulo Leminski, Poesia: A Paixão da Linguagem

    Então o que é o amor? Sentimento inato ou aprendido ao longo dos tempos? Estamos perante uma convenção exclusivamente social?
    De acordo com Leminsky estamos perante uma invenção provençal de uma das vertentes que hoje conhecemos e cultivamos: o amor idílico entre duas pessoas, mas esse amor aqui anunciado tem, na minha opinião, de ter existido sempre, pois revela-se como sentimento puro e simples na sua essência, tal como Vinicius tinha pelas suas musas inspiradoras e que não conduzia necessariamente a um amor carnal, sexual. É verdade que o amor verdadeiro não se consegue vender, dá-se como presente sublime àquele/a de quem se gosta e é acima de tudo um amor total, seja por uma pessoa ou por uma forma de arte, tal como vamos observando em Vinicius, figura incontornável deste tópico que soube sempre valorizar este tipo de amor pela sua arte, pela sua família e pelos seus amigos.

    5- É o estado da paixão é um estado de encantamento ou vai para além desse estado?
    Olhemos atentamente para a história que nos conta Wisnik, a história de amor vivida entre Tristão e Isolda. Nesta história que atravessou o tempo, a paixão surge primeiramente como acto de magia que passa pela existência de uma poção mágica que leva dois estranhos a se apaixonarem e a colocarem as suas vidas em risco para fazerem prevalecer esse amor secreto, sempre apoiados, diria eu, pelos anjos protectores que os salvam continuamente da descoberta e da trágica consequência de tal pecado.
    É interessante analisar esta lenda do ponto de vista do profano e do religioso: a poção mágica que acaba, mas deixa nos dois um sentimento de amor incontrolável; e o lado religioso da traição e do casamento como um acto sagrado.
    Estes dois lados são interessantes do ponto de vista da definição de amor e paixão até hoje, pois reflectem os dois estádios destes sentimentos: para alguns a paixão é o sentimento avassalador que irrompe entre duas pessoas, mas que de alguma maneira as afasta do casamento (pelo menos na sua fase inicial) por ser extremamente avassalador (Tristão e Isolda) e o amor, o sentimento que fica para além da paixão e que assenta no fim desta e na aceitação do outro tal como ele é, mas também na falta que esse outro pode fazer. Para Wisnik a paixão é deste modo um sentimento de transgressão, condenada pela Igreja, pois seria sobretudo um impulso sexual no qual a mulher desempenhava um importante papel: ela era simultaneamente ser “divino” e “profético” e consequentemente a responsável pela materialização destes sentimentos, o que é uma conceptualização interessante de como ainda hoje as histórias de paixão são contadas, mas não me parece que para poetas como Vinicius esta institucionalização importasse assim tanto, uma vez que por amor ele se casa legalmente e de forma menos convencional num terreiro, numa cerimónia conduzida por uma actriz.
    Em suma, a paixão é para todos um sentimento mais arrebatador e fugaz, pelo menos daquilo que eu consigo apreender de todas as leituras, mas atrás dela surge um outro sentimento, mais pacificador e estável (talvez?) entre duas pessoas que se pode materializar através da partilha de uma vida e de uma instituição: o casamento. Mas continua em tudo por responder o que fazer com as paixões por outras coisas, pela profissão, por uma cor, por um aspecto que por mais insignificante que possa parecer, modifica a vida de uma pessoa e de todos aqueles que a rodeiam. Não é esta a paixão de Vinicius, não só a do coração, mas a paixão da vida, da arte pela arte? Penso que sim e essa é para mim a verdadeira paixão, pois revela acima de tudo o amor extremo que se sente pelas coisas mais simples, sem as complicar ou sem a necessidade de criar fábulas e histórias para explicar a sua existência.

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  21. 1. Paulo Leminski refere-se ao termo "paixão" como uma mania dos nossos dias. Não terá a palavra paixão tomado outros rumos que não o original?

    Depois das leituras desta semana tendo a concordar com Leminski. De facto a palavra paixão está na moda e já não é mais um sentimento. E isso porque nas sociedades de hoje o que conta é o parecer ter e não o "ser". De outro modo, se a paixão não tivesse decaído, não haveria a necessidade de a explicar. Paixão não se explica, paixão sente-se. Nessa medida concordo com leminski quando diz que a poesia é o expoente máximo da paixão onde ela se materializa através da linguagem. E nesse sentido "o poeta é um fingidor. Ele finge sentir a dor que deveras sente".

    2. Amor e paixão são compatíveis?
    Segundo Stendhal existe dois tipos de amor: o amor -gosto e o amor-paixão. O primeiro nasceu em Paris e seguia as "regras". O segundo "sempre nos arrasta contra nossos interesses" (p.477). Esse amor prejudacaria o homem porque ele não o controlava. Depois ele tenta explicar como as paixões nascem e aqui temos o exemplo de Tristão e Isolda. A paixão deles nasceu de algo exterior e por isso não vingou. Então perguntou: não será a paixão um sentimento interior que surge quando menos esperas? Não foi o que aconteceu a Tristão e Isolda quando o efeito da poção terminou? Eles continuaram a desejar-se mas um desejo feito de antagonismos já que recusarem sempre o casamento. Isso leva-me a outra pergunta também referida nas leituras que é a seguinte: o casamento mata a paixão? O casamento, enquanto instituição, não, mas enquanto acto, sim. Como foi referido, a monotonia, a falta de novidade leva á ruptura ao desencanto dos amantes. Mas isso não quer dizer que a relação esteja teminada pois o que fica muitas vezes depois desse arrebatamento inicial é o companheirismo uma cumplicidade que se vai conquistando ao longo da vida.A este respeito Stendhal defende que é "na alternância de medos e esperanças, de fracassos e êxitos, é que irão ocorrendo sucessivas cristalizações, que dão sequência ao amor apaixonado." Com isso ele quer nos dizer que o amor precisa de criatividade para renascer e florescer a cada ano que permanece. Por isso a paixão de Stendhal é um sentimento maduro que surge naqueles que são capazes de romper com o amor-gosto, o amor que obedece às regras da sociedade. O verdadeiro amor não tem fronteiras nem se compadece com as ilusões da sociedade. por isso muitas vezes somos julgados quando infringimos essas regras. Vinicius teve a coragem de ultrapass´-las quando casou nove vezes. Amou cada mulher como se fosse a última e assim viveu apaixonadamente.

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  22. 1. Paulo Leminski refere-se ao termo "paixão" como uma mania dos nossos dias. Não terá a palavra paixão tomado outros rumos que não o original?
    Depois das leituras desta semana tendo a concordar com Leminski. De facto a palavra paixão está na moda e já não é mais um sentimento. E isso porque nas sociedades de hoje o que conta é o parecer ter e não o "ser". De outro modo, se a paixão não tivesse decaído, não haveria a necessidade de a explicar. Paixão não se explica, paixão sente-se. Nessa medida concordo com leminski quando diz que a poesia é o expoente máximo da paixão onde ela se materializa através da linguagem. E nesse sentido "o poeta é um fingidor. Ele finge sentir a dor que deveras sente".

    2. Amor e paixão são compatíveis?
    Segundo Stendhal existe dois tipos de amor: o amor -gosto e o amor-paixão. O primeiro nasceu em Paris e seguia as "regras". O segundo "sempre nos arrasta contra nossos interesses" (p.477). Esse amor prejudacaria o homem porque ele não o controlava. Depois ele tenta explicar como as paixões nascem e aqui temos o exemplo de Tristão e Isolda. A paixão deles nasceu de algo exterior e por isso não vingou. Então perguntou: não será a paixão um sentimento interior que surge quando menos esperas? Não foi o que aconteceu a Tristão e Isolda quando o efeito da poção terminou? Eles continuaram a desejar-se mas um desejo feito de antagonismos já que recusarem sempre o casamento. Isso leva-me a outra pergunta também referida nas leituras que é a seguinte: o casamento mata a paixão? O casamento, enquanto instituição, não, mas enquanto acto, sim. Como foi referido, a monotonia, a falta de novidade leva á ruptura ao desencanto dos amantes. Mas isso não quer dizer que a relação esteja teminada pois o que fica muitas vezes depois desse arrebatamento inicial é o companheirismo uma cumplicidade que se vai conquistando ao longo da vida.A este respeito Stendhal defende que é "na alternância de medos e esperanças, de fracassos e êxitos, é que irão ocorrendo sucessivas cristalizações, que dão sequência ao amor apaixonado." Com isso ele quer nos dizer que o amor precisa de criatividade para renascer e florescer a cada ano que permanece. Por isso a paixão de Stendhal é um sentimento maduro que surge naqueles que são capazes de romper com o amor-gosto, o amor que obedece às regras da sociedade. O verdadeiro amor não tem fronteiras nem se compadece com as ilusões da sociedade. por isso muitas vezes somos julgados quando infringimos essas regras. Vinicius teve a coragem de ultrapass´-las quando casou nove vezes. Amou cada mulher como se fosse a última e assim viveu apaixonadamente.

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  23. “A história de Tristão e Isolda é fadada à música, o núcleo que a move não é ‘narrável’ verbalmente” (Wisnik 241).

    Esta passagem fez-me pensar em vários aspectos ligados à música em geral e à obra de Vinícius em particular, que me parecem interessantes. Não me lembro exactamente em que contexto Nietzsche escreveu alguma coisa como: sem música a vida não faria sentido. Eu não podia estar mais de acordo. A música sempre foi, e sempre será, a minha forma de arte predilecta. Provavelmente porque a música permite ira para além do narrável, para além da linguagem. A música permite alcançar o que não é verbalmente narrável na nossa subjectividade, na nossa experiência de vida. É por isto que Nietzshe teve razão: a vida não faria sentido sem música, como afirmou, porque há muito mais para além do narrável. E este algo mais é, muitas vezes, preciso ser dito.
    Algo que definitivamente está para além do que a linguagem pode dizer é a paixão: quer seja em relação a outra pessoa, quer seja em relação à arte em si, quer seja qualquer outra forma de paixão. Por isso a história de Tristão e Isolda, como a obra de Wagner sugere, e Wisnik reconhece, está profundamente ligada à música. Talvez também por isso a música seja parte integrante da obra e da vida de Vinícius. A poesia de certa forma está entre a literatura e a música. Há na poesia muito de música: na importância da materialidade das palavras, no ritmo, etc. Talvez a sua escolha da poesia e da música como as duas formas de arte que mais frequentemente cultivou esteja relacionada com esta dimensão da música, e da poesia até certo ponto, como as forma de expressão artística que vão para além do verbalmente narrável. O que Vinícius queria dizer estava obviamente para além do que a linguagem pode dizer. A sua vida parece mostrar isso, tal como a sua obra.


    “Veja-se que, ali onde reina a doutrina da união mística associada à ideia de um amor humano limitado e infeliz (como na Grécia de Platão), a experiência da paixão é rara e desvalorizada. Mas, ali onde a doutrina de uma comunhão (sem união essencial) entre Deus e o homem aponta para o amor ao próximo e para o casamento resignado e feliz (como no Ocidente cristão), despontam os conflitos dolorosos e o mito da paixão exaltada, que acaba por emprestar seu próprio repertório de imagens (sensuais, eróticas) ao discurso místico (que em Santa Teresa é um discurso da paixão)” (Wisnik 245).
    Esta passagem de Wisnik, quando lida comparativamente com a vida e a obra de Vinícius, remete-nos facilmente para a ideia de que este é definitivamente um homem do seu tempo e do seu lugar, ao nível de como viveu e como criou. A sua vivência, a história da sua vida amorosa, bem como a importância da religião e da paixão (não só separadamente, mas também por vezes em conjunto: principalmente nos seus primeiros anos em que a religião é vivida e experienciada com paixão por Vinícius) mostram como Vinícius reflecte de uma forma bastante clara estas características do homem Ocidental, as quais, por sua vez, emergem na sua obra e na forma como nela a paixão surge exaltada.

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  24. 1. Paulo Leminski refere-se ao termo "paixão" como uma mania dos nossos dias. Não terá a palavra paixão tomado outros rumos que não o original?
    Depois das leituras desta semana tendo a concordar com Leminski. De facto a palavra paixão está na moda e já não é mais um sentimento. E isso porque nas sociedades de hoje o que conta é o parecer ter e não o "ser". De outro modo, se a paixão não tivesse decaído, não haveria a necessidade de a explicar. Paixão não se explica, paixão sente-se. Nessa medida concordo com leminski quando diz que a poesia é o expoente máximo da paixão onde ela se materializa através da linguagem. E nesse sentido "o poeta é um fingidor. Ele finge sentir a dor que deveras sente".

    2. Amor e paixão são compatíveis?
    Segundo Stendhal existe dois tipos de amor: o amor -gosto e o amor-paixão. O primeiro nasceu em Paris e seguia as "regras". O segundo "sempre nos arrasta contra nossos interesses" (p.477). Esse amor prejudacaria o homem porque ele não o controlava. Depois ele tenta explicar como as paixões nascem e aqui temos o exemplo de Tristão e Isolda. A paixão deles nasceu de algo exterior e por isso não vingou. Então perguntou: não será a paixão um sentimento interior que surge quando menos esperas? Não foi o que aconteceu a Tristão e Isolda quando o efeito da poção terminou? Eles continuaram a desejar-se mas um desejo feito de antagonismos já que recusarem sempre o casamento. Isso leva-me a outra pergunta também referida nas leituras que é a seguinte: o casamento mata a paixão? O casamento, enquanto instituição, não, mas enquanto acto, sim. Como foi referido, a monotonia, a falta de novidade leva á ruptura ao desencanto dos amantes. Mas isso não quer dizer que a relação esteja teminada pois o que fica muitas vezes depois desse arrebatamento inicial é o companheirismo uma cumplicidade que se vai conquistando ao longo da vida.A este respeito Stendhal defende que é "na alternância de medos e esperanças, de fracassos e êxitos, é que irão ocorrendo sucessivas cristalizações, que dão sequência ao amor apaixonado." Com isso ele quer nos dizer que o amor precisa de criatividade para renascer e florescer a cada ano que permanece. Por isso a paixão de Stendhal é um sentimento maduro que surge naqueles que são capazes de romper com o amor-gosto, o amor que obedece às regras da sociedade. O verdadeiro amor não tem fronteiras nem se compadece com as ilusões da sociedade. por isso muitas vezes somos julgados quando infringimos essas regras. Vinicius teve a coragem de ultrapass´-las quando casou nove vezes. Amou cada mulher como se fosse a última e assim viveu apaixonadamente.

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  25. “A amizade parece que vem corrigir a trama mortal do amor” (Wisnik 255).
    A relação entre amizade e amor é uma das mais complexas dimensões da experiência humana. Por vezes parece impossível distinguir ambos; outras vezes a distinção acaba por parecer, mais tarde, ter sido errada. Como uma vez referi no seminário, penso que a questão da suposta distinção entre sentimentos (isto também se aplica à diferenciação entre amor e paixão) parte da premissa errada de que esses sentimentos têm uma existência real, acabada e bem definida, e que cabe a nós analisá-los para os poder distinguir. Eu penso que na verdade as fronteiras entre sentimentos são muito mais fluidas. As palavras amor, paixão, etc são meras interpretações de sensações, impostas a posteriori a determinadas formas de sentir. Uma amizade é também uma paixão e uma paixão pode ser uma amizade. Daí que não estou de acordo com esta visão demasiado definidora e delimitadora dos sentimentos, que coloca a amizade e o amor em planos diferentes.

    “Ora, como podemos desmontar as ilusões, condenar uma sociedade que funciona segundo a mentira – e, ao mesmo tempo, valorizar essa outra ilusão que é o amor-paixão? Pois as cristalizações significam, simplesmente, que a felicidade se constitui sobre bases imaginárias, sobre as fantasias que projecto na pessoa amada, e não em cima de dados reais, objectivos” (Ribeiro 482).
    Este é sem dúvida um dos paradoxos da nossa sociedade e da nossa cultura. Penso que culturalmente temos conseguido ao mesmo tempo “condenar uma sociedade que funciona segundo a mentira . . . e valorizar essa outra ilusão que é o amor-paixão” através da naturalização deste último. Isto é, ao vermos o amor-paixão como uma característica intrínseca do ser humano, perspectivamos as suas consequências como expressões naturais da sua subjectividade. Deste modo podemos aparentemente esconder o lado paradoxal do processo de condenação/valorização da ilusão que a importância do amor-paixão nas nossas sociedades revela. Por seu lado, esta naturalização das formas do amor e da paixão acaba também por esconder as origens contextualizadas do amor romântico contemporâneo: evidentes na poesia provençal e nas cantigas de amigo galaico-portuguesas. A figura do poeta, penso eu, tem tido um papel fundamental neste processo, pela forma como é conceptualizada como um ser que ao mesmo tempo está para além das constrições sociais e, simultaneamente, se aproxima do que seriam os sentimentos naturais do ser humano. Desta forma o poeta reflecte esta tentativa de eliminar o paradoxo condenação/valorização da ilusão, ao mesmo tempo que se estabelece como uma figura de certa forma à margem, uma figura da ilusão, o que não deixa de ser curioso.

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  26. “O que é mais subversivo é a indiferença às ambições, às querelas que constituem a base para a crença no Poder” (Ribeiro 491).
    Foi talvez no que esta frase significa que residiu uma das dimensões políticas mais fortes da obra de Vinícius. Para além das implicações da valorização da cultura popular, da herança afro-brasileira, etc, Vinícius, através da sua vida e da sua obra, mostrou como o poder criador do artista pode pôr em causa o poder autoritário do estado mesmo quando não o confronta abertamente. Isto não significa que não o tenha feito de forma directa; simplesmente, parece-me, o legado de Vinícius como alguém que dedicou a sua vida a algo mais, algo afastado da crença no Poder e indiferente à ambição (mesmo artística), dá-nos a todos, entre muitas outras coisas, um exemplo de paixão subversiva ao serviço de uma sociedade plural, livre e aberta, relevante também para os dias de hoje.

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  27. José Miguel Wisnik, ao falar de Tristão e Isolda, diz que a situação dos amantes é “apaixonadamente contraditória: eles se amam mas não se amam. ...Sente-se arrebatados para além do bem e do mal numa espécie de transcendência das nossas condições comuns, num absoluto indizível incompatível com as leis do mundo, mas que eles sentem como mais real que este mundo.”(240)
    Cecília cita em sua questão número 1, “a lei de todo o Romance” ou seja, da paixão que não tem lugar, da paixão como lugar sem lugar, perguntando se podemos atribuir a lei de todo o romance à vida de Vinícius.
    Discordando de Cecília, e também dessa “lei de todo o Romance”, se a entendi bem, acredito que tanto na história de Tristão e Isolda como também na história de Vinicius de Moraes a paixão teve sim lugar, aliás, ocupou todos os lugares, e para que não “morresse”era sempre renovada.
    Calligaris, no texto “Closer- Perto Demais”, fala da idealização do outro, e que ao deixar um parceiro, nos distanciamos dele renunciando assim os prazeres, companheirismo, cumplicidade, convivência.
    Durante a narração da história, Wisnik diz que numa dada ocasião, depois de dois anos vivendo juntos, Tristão e Isolda se separam, voltando ela ao seu marido. Depois da separação passam a se encontrar as escondidas novamente, pois, concordando com Calligaris, voltam a idealizarem-se e a pixão surge com força novamente.
    No caso de Vinicius de Moraes, ele não volta a idealizar suas ex-mulheres, a primeira, a Tati, talvez, já que voltam depois de um ano separados, mas não posso dizer que “pula de paixão em paixão”. Vinicius precisava estar apaixonado, a paixão o fazia viver, e o que me parece é que ele viveu uma, única e imensa paixão: a PAIXÃO. O que mudava eram as mulheres, e a paixão se transferia, se renovava, ficava mais forte. Numa entrevista Clarice Lispector pergunta a Vinicius de Moraes se ele acabava um caso porque encontrava outra mulher ou porque se cansava da primeira, e então ele respondeu: “Na minha vida tem sido como se uma mulher me depositasse nos braços de outra.”

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  28. “Nesse ponto, aproxima-se o tempo em que o filtro perderá o seu efeito, que havia sido previsto para três anos.”
    Na história de Tristão e Isolda, há um momento, depois de passarem um tempo juntos, em que o feitiço da paixão está para ser quebrado. Poderíamos dizer que esse é um caso em que a arte imita a vida, ou seja, será que assim como no romance, a paixão real também tem um tempo definido?
    A professora Cindy Hazan, no texto Fisiologia da Paixão, diz que sim. Ela diz: "seres humanos são biologicamente programados para se sentirem apaixonados durante 18 a 30 meses". Ela entrevistou e testou 5.000 pessoas de 37 culturas diferentes e descobriu que a paixão possui um "tempo de vida" longo o suficiente para que o casal se conheça, copule e produza uma criança. Ela ainda fala da existência de substâncias químicas (dopamina, feniletilamina e ocitocina) relacionadas ao amor-paixão, que são comuns no corpo humano, mas que só se encontram juntos no momento do flerte. Como toda substância química, com o tempo, estas vão perdendo o efeito no organismo - e toda a "loucura" da paixão também vai diminuindo, e com isso a pesquisadora Cindy Hazan explica a sua posição.

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  29. Stendhal acredita que o amor nasce, e para que ele se prolongue é necessário que haja dúvidas, frustrações, medos, esperanças, fracassos e êxitos para que haja dessa forma “cristalizações” que darão sequência ao amor paixão. Qual a relação que poderíamos fazer entre o amor paixão de Stendhal e a paixão de Vinicius de Moraes?
    Em seu livro Do Amor, Stendhal descreve o início do amor dizendo que o homem se impressiona com uma mulher a qual a deseja e a esperança é que ela também o ame. “Se nesse momento a mulher se entregasse, daria o maior prazer físico possível; porém o amor não demoraria a terminar, por falta do que imaginar.”
    Comparando o conceito de Stendhal sobre o amor paixão com a paixão vivida, ou a vida de paixão, de Vinicius de Moraes, penso que as mulheres que se casaram com Vinicius não ofereceram nenhuma “dificuldade”, apontada por Stendhal, para que o amor acontecesse. Como sabemos, Vinicius era um homem famoso, romântico e encantador e se entregar a ele não era tarefa difícil. Uma de suas esposas, o encontrou em um bar e dali viajaram e voltaram casados. No entanto, concordando com Stendhal, o amor fácil não tinha nada para ser “imaginado” e assim não durava.
    Mas por outro lado, Ribeiro, ao se referir a Stendhal, diz que “nada mais longe de Stendhal do que esses ‘eternos apaixonados’, hoje por uma pessoa, amanhã por outra.” Ele diz que a paixão stendhaliana é revelação, é mudança na vida e por isso implica um novo começo e o fim da vida. Entregar-se a paixão é por a sua felicidade na mão do outro, que se não corresponder fará, talvez o amor aproxima-se se seu parente, a morte.
    Está certo que Vinicius era um eterno apaixonado e que sim, se apaixonou por muitas mulheres, mas ele também se entregou de corpo e alma a cada uma dessas paixões, e cada uma delas foi uma mudança em sua vida e se ele não morreu fisicamente, morreu muitas vezes em seus poemas e suas músicas.

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  30. Aqui eu sigo a referencia a Ribeiro de Natalia:

    Vinícius não deixou a política dominar a arte dele, espalhando sua opinião desfocadamente, mas deixou a paixão o guiar principalmente. Ele sentiu uma responsabilidade de não forçar a arte para simplesmente entregar um recado:


    É um compromisso que assume consigo mesmo e com a sociedade, e ponto. Agora, o cara sentir a obrigação de expressar isso na arte dele, só quando pinta bem. Eu tenho um envolvimento político bastante grande, mas nunca o expressei em minha poesia, exceto quando surgiu como uma coisa válida. (“Grandes Entrevistas”)


    A menção da sociedade nesta citação exige uma examinação relacionada ao conceito de paixão. O filósofo Renato Janine Ribeiro também menciona sociedade num artigo sobre paixão revolucionária:


    A glória dependia das convenções sociais, das quais também dependia o amor. Ora, o arrebatamento marca a Revolução...os deputados que juram exaltados dar à França uma constituição, erguendo-se nas cadeiras, vivendo um momento que é glorioso, histórico, porque recusa o comedimento. A glória almejada, virá agora das batalhas revolucionárias, imperiais, que mudam o perfil do mundo, não mais da vida em sociedade; e mudará, também, a forma de travar batalhas. (419)


    Esta imagem de revolução jubilosa representa bem a base de paixão na política—que muitas vezes é interpretada pela sociedade como uma aberração. Somente quando as condições chegam ao nível extremo a população em massa acorda e se junta à vanguarda. Estes pioneiros têm que manter um equilíbrio difícil para convencer a grande maioria a unir forças—não podem parecer tão loucos de paixão a ponto de não serem sãos ou capazes. Vinícius argumenta que arte forçada não convenceria ninguém.

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  31. Aqui eu sigo as referencias a Leminski:

    Os temas relacionados à Segunda Guerra Mundial que Vinícius abordou (Hiroxima e campos de concentração) são casos extremos duma tendência de sentir pena e assim lutar para que a atrocidade não se repita—para restringir o mal no mundo.

    No caso da possibilidade de uma guerra nuclear e apocalíptica, a morte é praticamente garantida. Nesta profecia, ninguém tem futuro. A reação de Vinícius, publicada em 1954, representa bem esta preocupação da época. Em 1987, o poeta Paulo Leminski lamenta a falta geral de paixão daquela época:

    [N]o tempo circular do pós-moderno, não há mais lugar para a paixão. A paixão é o desejo projetado para a frente. Não há mais nada lá na frente, apenas o Apocalipse. Não há mais frente. Nosso coração e nossa inteligência têm que inventar, já estão inventando, alguma coisa para colocar em lugar da paixão. Nem que seja a saudade da paixão. (306)

    Esta visão deprimente do futuro procura um regresso nostálgico para os tempos de paixão para poder reinventar paixão de uma forma atraente para a população atual.

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  32. Não tenho certeza exatamentе por isso mas iѕto web ѕite está carregando
    muito devagar para mim. Alguém maіs eѕtá tendo este problema ou
    é um problema do meu lado? Eu ᴠoᥙ dar uma
    volta mаis tarde e veja se o problema aindɑ existe.

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