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Sunday, April 3, 2011

Livro de Letras

Livro de Letras
Livro de Letras
Categoria: Artes / Música
Nova edição da mais completa antologia das letras de música escritas pelo poeta Vinicius de Moraes. Resultado de intensa busca em gravadoras, editoras musicais, arquivos particulares e no acervo de inéditos do poeta, ela conta também com um perfil lírico-biográfico que traça a trajetória de Vinicius ao longo de suas parcerias musicais. Tom Jobim, Baden Powell, Chico Buarque, Carlos Lyra, Edu Lobo e Toquinho são alguns dos homens que ofereceram a arte de sua música como abrigo ao imenso coração do poeta, que tinha o dom de transformar o encontro com cada um desses parceiros em verdadeira aventura espiritual. Acompanhadas de farto material iconográfico, as mais de trezentas letras de música aqui contidas confirmam a imagem de um Vinicius inesgotável, até hoje capaz de surpreender. Incluindo o texto biográfico "Um poeta bem acompanhado", por José Castello.
Resenha da Livraria Ouvidor On-Line, 

27 comments:

  1. Depois de lermos o Livro de Letras de Vinicius de Moraes, propomos para o blog desta semana uma leitura de cinco letras usando para cada uma delas um par de facetas opostas.

    1. Paz e inquietude.
    “Amor em paz” abre com a repetição da expressão “eu amei” e com o grito aflitivo “ai de mim”. O autor sente que amou mais do que era necessário amar. Talvez ele tenha chegado à conclusão de que não era correspondido tarde demais, ou seja depois de já estar apaixonado. Ao se aperceber de que seu amor era demais e provavelmente não correspondido, ele chora porque percebe que este acontecimento o vai levar a sofrer e a perder a esperança. Esta tristeza que ele caracteriza de ilimitada é interrompida pelo aparecimento de um alguém que não só lhe devolve a vontade de viver como também lhe traz paz. É um amor que vai ser tranquilo e sem sofrimento. O autor é salvo por este novo alguém e convencido de que jamais irá sofrer. Ele conclui que o desvanecer do amor é a coisa mais triste.

    2. Compromisso e desconexão.
    “Chega de saudade” começa com uma personificação da tristeza que o autor manda ir falar com a pessoa amada. A tristeza está encarregada de explicar à amada que ele não consegue viver sem ela. O autor pede à tristeza que expressa este sentimento com uma prece. A tristeza terá de trazer a amada de volta para poder interromper o sofrimento dele. O autor apaixonado explica então que na verdade a vida sem a sua amada é só tristeza profunda e desgosto. Sem ela, a paz e a beleza estão ausentes e a tristeza está profundamente implantada nele. Pois, podemos ler: “É so tristeza e a melancolia/Que não sai de mim/Não sai de mim/ Não sai” (30). Deparamos então com a palavra “mas” e passamos a ter uma descrição da vida se ela voltasse. O tom passa a ser quase que infantil e lírico. Ele se entusiasma e declara que dará mais beijinhos na boca da amada do que existem peixinhos no mar (30). O uso dos diminutivos atribuem à situação uma vertente inocente e carinhosa. Ele não dará um abraço mas sim milhões de abraços (30). Ele destaca neste momento o valor do contacto físico e silencioso deixando de lado o uso da palavra. Lemos: “Apertado assim, colado assim, calado assim” (30). É evidente que existia uma desconexão entre o autor apaixonado e a amada, já que ela estava longe dele. A letra acaba com um pedido de compromisso. O autor quer que a pessoa amada venha viver com ele. Ele expressa claramente a sua vontade, exigência de a querer perto dele: “Que é pra acabar com esse negócio/De você viver sem mim/Não quero mais esse negócio/ De você longe de mim.../Vamos deixar desse negócio/De você viver sem mim...”(30-31).

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  2. 3. Eternidade e desgaste.
    “Eu sei que vou te amar” é uma lindíssima declaração de amor. O verso “eu sei que vou te amar” é repetido três vezes e “eu vou te amar” duas vezes. Embora possa parecer pouco, a letra não sendo muito longa acaba por dar força à declaração. O uso do verbo “saber” também fortalece a declaração. Existe uma certeza. Estamos perante um amor que podemos considerar de eterno pois vai durar a vida inteira mas é um amor que vai trazer muito desgaste físico e emocional. Esta relação é uma relação que vai ser caracterizada por um amor profundo mas também por afastamentos, embora temporários. A letra fala em “despedida” e “ausência”. O autor apaixonado sabe que a pessoa amada não irá estar sempre presente e isso lhe provoca dor. Todavia, o regresso da pessoa amada faz esquecer todo o sofrimento. A última estrofe é bastante negativa. Ficamos com a impressão de que a pessoa amada ou tem medo de compromisso ou já está comprometida com outra pessoa. O autor apaixonado aceita ficar com “as migalhas”. Existe a certeza de que ele irá passar a vida inteira a sofrer sentindo infelicidade por não poder viver ao lado da pessoa amada. É uma esperança que ele tem que jamais será concretizada e por isso sabe que vai sofrer.

    4. Egoísmo e dedicação.
    “Um pouco mais de consideração” abre com uma interpelação. O autor apaixonado exige um esclarecimento em relação aos sentimentos da pessoa amada. Pois, esta última não está sendo transparente. Esta falta de clareza é interpretada como uma maldade. De mais a mais, também provoca dúvidas no coração dele que acha que fez algo de errado: “Que foi que eu fiz que não se faz” (115). Estas dúvidas levam-no a perder a paz e a felicidade e a acusar a pessoa amada de ingratidão. O seu raciocínio é bastante interessante. A pessoa amada despertou nele alegria e também o seduziu. Já que ela iniciou estes sentimentos, o autor apaixonado entende que ela deveria lhe corresponder e termina o seu raciocínio com a conclusão de que: “Já que você foi quem me fez cativo/A obrigação agora é sua de cuidar de mim” (116). É um apelo a deixar de lado o egoísmo e a se dedicar aos sentimentos que despertou no outro.

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  3. 5. Romance e solidão.
    “Seule” é uma letra muito interessante porque logo desde o início deixa claro que estamos perante uma voz feminina. Encontramos uma mulher que se sente só, embora esteja nos braços de um homem. Esta solidão está com ela de noite e de dia enquanto ela sonha com o amor que não chega. Ela pede ao homem com quem está que lhe cante uma canção para ela esquecer tudo. Podemos ler: “Chante une chanson pour me bercer/Fais-moi, je t’en prie, tout oublier” (178). Não podemos deixar de notar aqui o uso do verbo “bercer” e os seus significados. Pois, este verbo tanto poder significar “embalar” como “iludir” o que aliás também se verifica em português. O verbo “embalar” tanto pode significar “baloiçar num berço” como “iludir”. Esta mulher tanto pode querer adormecer para esquecer como também ser iludida para esquecer. Ela está disposta a dar àquele homem tudo o que ele desejar. Todavia, ficamos com a nítida impressão de que tudo o que ela lhe possa dar seja o seu corpo. Lemos: “Prends, mon chéri, tout ce que tu veux/O si tu savais me faire sourire/Je pourrais t’aimer jusqu’au délire” (178). Ela expressa claramente que não o ama porque ele não tem a capacidade de a fazer sorrir e além do mais não é o amor que ela sonhou. Se ele fosse o amor sonhado e a soubesse fazer sorrir, ela poderia amá-lo loucamente.
    A leitura destas letras remetem-nos para duas declarações de Vinicius de Moraes que lemos em o Livro de Letras:

    “A mulher não é para ser entendida, é para ser amada” (21).
    “A tristeza tem sempre a esperança de um dia não ser mais triste, não” (67-68).

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  4. 1. Queria pegar nas palavras de Drummon que disse o seguinte sobre Vinicius no Livro de Letras: “ Vinicius é o único poeta brasileiro que viveu como poeta”.
    Penso que esta afirmação define muito bem Vinicius de Moraes e o que foi a sua vida. Começando pelas vezes que casou, ele afirmou sem pejo que casaria as vezes que fossem necessárias. Para Vinicius amar não tinha nada a ver com sexo e por isso quando a paixão terminava, a chama fisica apagava, ele por respeito à mulher, acabava com o casamento. Ele mesmo dizia que não estava com uma mulher pelo puro desejo sexual mas sim por amor. Então o amor sempre foi uma constante procura na vida do poeta. Eu não diria procura, eu diria que ele amou muitas vezes e quem poderá dizer que ele estava errado? Algum código que diga que temos de amar eternamente uma mesma pessoa? Ama melhor quem ama uma só pessoa? Ama melhor quem jura fidelidade eterna?
    Depois era um homem intemporal porque se dava com toda a gente, velhos e novos e acabou por compor com alguns dos filhos dos seus amigos como foi o caso de Chico Buarque.
    A religião começou por ter muita importância na sua vida, mas ele cedo percebeu que era uma religião castradora e mudou de filosofia. Também não tinha medo do que estava instituido e muitas vezes foi a voz dos que não tinham voz. Por isso ele “inquietava os conservadores por sua ousadia, os moderados por sua coragem e os progressistas por seu apego à verdade do dogma”. É esta coragem de Vinicius que eu mais admiro em tudo o que temos lido sobre ele e no seu trabalho. “Ele vivia intensamente e era de sua vida que arrancava a poesia”. Poesia herdada do pai a quem dedicou uma de suas elegias e que tão bem retrata essa admiração.
    Da parceria com Tom Jobim, lemos a determinada altura que “Vinicius sabia respeitar a cegueira, às vezes quase estupidez, que dá lastro à criação.” Isso mesmo podemos ver no poema Água de Beber. O que é a água senão fonte de vida? Ele diz que quis amar mas teve medo, quis amar mas o medo não deixou. Depois dá-se como uma espécie de rendenção no segundo verso quando ele diz: “ Eu nunca fiz coisa certa/entrei pra escola do perdão/a minha casa vive aberta/abri todas as portas do coração.” O poeta estava pronto para o amor, estava renascendo através da sua água de beber. Ele tomou consciência que a verdadeira e mais bela poesia não poderia estar nos compêndios literários mas sim na vida quotidiana de quem sofre, de quem trabalha, de quem chora, de quem bebe, de quem bate e é batido...por isso “abriu suas portas” e deixou entrar essas experiências de vida, enquanto passou a frequentar bares e clubes. E foi num destes bares que estabeleceu uma das maiores parcerias de sua vida e que resultou na peça de teatro Orfeu da Conceição. Estamos a falar de Tom Jobim, na altura um magricela de 29 anos mas que nem por isso desmereceu a atenção de Vinicius. Aqui residia a sua autoridade, a sua humildade, o génio do verdadeiro poeta. “Investiu em Tom Jobim para fugir do fausto que envolve a vida dos monstros sagrados – essa espécie inventada pelo críticos apressados para definir o indefinível em que ele estava ameaçado de se transformar.”
    Veja-se a música Garota de ipenama para se entender como a nova forma de fazer poesia de vinicius acabou por ser um sucesso e superar todos os grandes poetas. A música, segundos nos diz José Castello não passava de um cartão de visita sobre a sensualidade tropical. No entanto foi o maior sucesso da dupla Vinicius/Jobim. E porquê? Retratava tão somente a simplicidade e a sedução de uma mulher que passa e encanta. Como ele poderia escrever sobre isso se não tivesse consciência desse lado humilde e do dia-a-dia das pessoas? Nunca! E aqui uma das estrofes que me encantam: “Olha que coisa mais linda/mais cheia de graça/é ela menina/que vem e que passa/num doce balanço/a caminhar do mar”. Lindo e único!

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  5. 1. (continuação)
    Mas não se pense que essa opção pelo quotidiano significava um abandono ou mediocridade por parte do autor. Pelo contrário, Vinicius acreditava que a Bossa Nova tinha uma grande importância para a música popular, isso mesmo lemos na página 17 e 18. E aí reside a sua grandeza, a sua genialidade pois encontrou o item que faltava à música popular e engrandeceu-a tornando-a imortal! O poema Brasília, Sinfonia da Alvorada mostra como “Vinicius era ainda um poeta de estirpe, capaz de manejar metáforas dificeis e temas sinuosos.”
    A sua genialidade fez crescer seus inimigos que o criticavam por ser demasiado sentimental e até mesmo no número de mulheres que teve. Mas tal como dizia Vinicius: “A mulher não é para ser entendida, é para ser amada.”, também o poeta não é para ser entendido, mas sim admirado. Vinicius conseguiu alcançar essa consciência e isso é que o torna único, o poeta por excelência. E agora alguns exemplos de excertos de poemas dessa parceira que enaltecem esse amor e respeito pela mulher:
    “Nunca mais/porque o amor é a coisa mais triste/quando se desfaz” (Amor em paz, p.24)

    “Quero chorar porque te amei demais/quero morrer porque me deste a vida/(...)e já nem sei o que fazer de mim/tudo me diz que amar será meu fim” (Canção do amor demais p. 29)

    “Vai minha tristeza/e diz a ela que sem ela não pode ser/Diz-lhe numa prece/Que ela regresse/Porque eu não posso mais sofrer” (Chega de saudade p.30)

    “Fecha os olhos devagar/Vem e chora comigo/O tempo que o amor não nos deu/Toda a infinita espera/O que não foi só teu e meu/Nessa derradeira primavera” (Derradeira primavera, p.31
    E aqui temos a ideia das suas célebres palavras: “o amor é eterno enquanto dura”.

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  6. 2. A parceria com Baden Powell é outro daqueles exemplos que mostrem a versatilidade do poeta. “Tivessem a mesma idade, e o poeta, talvez, jamais o compreenderia.” Poderemos estrapolar e dizer que o facto de se ter apaixonado também por mulheres mais novos só foi possível devido a essa capacidade de se adaptar e entender o outro em toda a sua dimensão e context. Afinal não foi à toa que o chamavam de camaleão, certo.
    Mas voltando à parceria, ao contrário de Tom Jobim, o primeiro encontro com Baden foi um desastre: “Não consegui apertar a mão de Vinicius quando nos conhecemos.” (p.42). e isto porque, afinal, eles não eram tão diferentes e ambos seguravam na mão direita um copo de Whisky, “o amigo do homem engarrafado”, como Vinicius o chamava. O certo é que apesar de ambos admirarem os mesmos nomes a parceria funcionou com base nas diferenças de cada um. Uma vez mais a excepcionalidade de Vinicius aceitando a diferença e fazendo dela mote para o sucesso.
    A novidade desta parceria foram os Afro-sambas. Baden levou Vinicius às origens africanas do samba e isso fez com que Vinicius mergulhasse de cabeça naquelas novas composições. Trabalhavam dias e noites a fio sem serem incomodados e isolados do mundo.
    O que mais me emocionou no relato dessa parceria foi a forma como Baden, três anos depois chama por Vinicius em pleno espectáculo todo vestido de branco. Depois de lermos que ele até fizera alguma resist~encia ás comparações entre ele e Vinicius e onde até podmeos ver alguma inveja, eis que ele se verga perante o mestre, o seu Vinicius agora morto fisicamente mas vivo na memória da humanidade.
    O poeta branco mais negro, sob influência de Baden tornar-se-ia um defensor do afro-samba e imortizá-lo-ia para sempre. Exemplos dessas músicas são “Apelo”, Berimbau e Samba em prelúdio.

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  7. Depreendemos pela leitura do Livro de Letras, mais precisamente pelos textos de Castello, que, para além de parceiros, Vinicius coleccionou amigos e admiradores da sua obra. Um carioca por excelência, como o podemos definir pelo amor à sua cidade do Rio, assumiu o papel de poeta do amor e do mundo em que vivemos. Tudo isto pode ser comprovado através dos sonetos, músicas e letras que fazem parte deste mesmo livro.
    Castello cita em O Poeta da Paixão o que Carlos Drummond confessou um dia: "Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão” (11). Curiosamente, num dos textos do Livro de Letras, intitulado “Um Poeta Bem Acompanhado”, na mesma página (11), Castello fez questão de citar outra afirmação correcta de Drummond sobre o poetinha: “Vinicius é o único poeta brasileiro que viveu como poeta”. Vinicius, sem dúvida, viveu intensamente e foi da sua vida que arrancou a poesia. “ Quanto mais veloz era a vida, mais numerosos os parceiros, mais envolventes as mulheres, melhor a sua poesia. Essa multiplicidade emprestava ao poeta aquela imagem de que ele não acabaria nunca. Aquela coragem imortal” (Castello,11).

    Muitas vezes tem sido a seguinte questão levantada: Será que Vinicius foi feliz? Perante os demais livros escritos sobre Vinicius, após inúmeras análises cuidadas da sua vida e obra, permanecem, ainda, dúvidas inevitáveis sobre esta questão. Medir, ou melhor, avaliar a felicidade de outrém parece ser realmente uma tarefa impossível de concretizar. No entanto, não nos parece que felicidade absoluta, permanente e constante seja possível. Certamente que existem momentos de tristeza, de desespero, de dor no quotidiano de cada um de nós. O que não quer dizer que a felicidade seja um bem inatingível . A felicidade deve ser vista, não como uma meta, mas sim como uma série de etapas que fazem parte da jornada da vida. É um estado de espírito, uma percepção e, como tal, todos a interpretamos e definimos de forma diferente. Pensamos, porém, que ao viver intensa e apaixonadamente, ao escrever os mais belos poemas de amor e ao amar como amou, Vinicius viveu muitos momentos de felicidade. Afinal de contas, ele viveu “Um Grande Amor” (ou por outra, vários).

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  8. Castello conta-nos que um dia Vinicius perguntou ao seu grande amigo e parceiro, Tom Jobim, se ele trocaria toda a sua arte pela possibilidade de ser feliz. Tom retrucou de imediato que “Trocaria, trocaria sim…e creio que você também”. “Era tudo verdade…” conclui Castello (16).
    No poema “A Felicidade”, Vinicius escreve na primeira estrofe: Tristeza não tem fim / Felicidade sim, e logo nos apresenta várias analogias, sendo a segunda a que achei mais interessante por retratar a cultura do seu povo; o quotidiano: A felicidade do pobre parece / A grande ilusão do carnaval / A gente trabalha o ano inteiro / Por um momento de sonho / Pra fazer a fantasia / De rei ou de pirata ou jardineira / Pra tudo se acabar na quarta-feira, e conclui com a repetição do que havia escrito na primeira estrofe: Tristeza não tem fim/ Felicidade sim (33). Estas duas facetas opostas servem como uma definição de paixão. Por um lado, podemos comparar a felicidade aqui a uma paixão que é vivida intensamente como é a antecipação do carnaval para o brasileiro. Certamente que, como o carnaval, uma paixão pode ser pouco duradoura. Se bem que se tratem de duas realidades “eternas enquanto duram”, não passam de “ilusões” passageiras, mas paradoxalmente não deixam de ser vividas intensamente, fique claro. E depois segue-se a tristeza, tristeza essa que é acompanhada de sofrimento, que por seu turno também sendo intensa (a tristeza) tende a perdurar “não tem fim”. Resta-nos esperar pelo próximo carnaval, ou seja, aguardar uma nova paixão. Por isso talvez se diga que a vida são dois dias e o carnaval são três. A mensagem? Antecipemos, vivamos e amemos nunca menos do que intensamente! Lembramos, a propósito, “Como Dizia O Poeta” Porque a vida só se dá / Pra quem se deu / Pra quem amou / Pra quem chorou / Pra quem sofreu, ai / Quem nunca curtiu uma paixão / Nunca vai ter nada não (103).

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  9. Castello explica-nos que “O excesso dos sentimentos, que não pareciam caber nem num só amor, nem num só parceiro, nem numa única profissão tornava o poeta um homem exagerado e plural, que se orgulhava dos seus exageros e de seu pluralismo”.
    É engraçada e cómica a referência que Castello faz ao episódio em que nos conta o quão irritado Di Cavalcanti ficou quando foi contratado para pintar o retrato da quinta mulher de Vinicius, Nelita Abreu Rocha, em 1963 (certamente por já ter pintado o retrato das primeiras quatro). “Você tem certeza que essa é definitiva?”, perguntou Di. Como Vinicius não respondeu, o pintor retorquiu após um suspiro de cansaço, “Está bem, eu pinto mais essa. Mas fique sabendo que é a última” (20). Deveras hilariante, achei.

    Vinicius era um apaixonado pelo mundo. Obcecado pelo dom de viver, sempre procurou fazer aquilo que lhe proporcionasse prazer; viveu a vida ao máximo, passando uma metade dela a viajar, a outra a amar. Num outro poema lindíssimo, “Eu Não Existo Sem Você”, Vinicius escreve: Que todo grande amor / Só é bem grande se for triste / Por isso, meu amor / Não tenha medo se sofrer / Que todos os caminhos me encaminham para você / … / Assim como o poeta só é grande se sofrer / Assim como viver / Sem ter amor não é viver / Não há você sem mim / E eu não existo sem você (32). Sem dúvida alguma, Vinicius de Moraes foi um grande representante do lirismo amoroso dos nossos tempos. Consolação é um, entre muitos poemas, que consegue, em poucas palavras, resumir a essência do poeta: Se não tivesse o amor / Se não tivesse essa dor / E se não tivesse o sofrer / E se não tivesse o chorar / Melhor era tudo se acabar / Eu amei, amei / demais / O que sofri por causa do amor / Ninguém sofreu / Eu chorei, perdi a paz / Mas o que eu sei/ / É que ninguém nunca teve mais / Mais do que eu (55).

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  10. 1. “Eu Não Existo Sem Você” pg 32: Esta letra é mesmo bonita! Foi uma que o Vinicius fez com o Tom Jobim. Na quarta linha ele fala sobre o amor e a tristeza duma maneira interessante, “Que todo grande amor/Só é bem grande se for triste.” Quando pensamos em amor, geralmente não pensamos na tristeza, pensamos na alegria e na paixão, mas na verdade, só pudemos dá o valor a um grande amor se nós já sentimos tristeza. Para conhecer bem um sentimento é necessário conhecer o sentimento oposto. É possível sentir amor sem conhecer tristeza, mas é pela tristeza; por sentir o vazio da tristeza é que nós sentimos o que é um grande amor. No meio da letra Vinicius faz umas comparações lindas de coisas que precisam de existir juntos para serem sinceramente bonitos.”assim como o oceano só é belo com luar, assim como a canção só tem razão se se cantar.. ” e depois termina com duas linhas que parece que referem a si mesmo “Assim como o poeta só é grande se sofrer, assim como viver sem ter amor não é viver”. Eu acho que Vinicius escrevia tão bem porque ele escrevia o que sentia e nós sabemos que ele amou tanto na vida, quanto sofreu. Isto poderia explicar porque é que ele optou para casar-se tantas vezes. Ele diz nas letras “sem ter amor não é viver”, será que quando o amor já não mais estava presente nas suas relações, ele procurava outro amor para poder continuar a viver?

    2. “Canção de Enganar Tristeza” pg 53: Esta canção que Vinicius compôs com Baden, faz-nos ver a tristeza de outra perspectiva. Aqui parece que a tristeza é a vitima não a pessoa que está triste. Falando na tristeza, ele conta, “trata dela bem, Porque a tristeza quer carinho........por não ter nenhum carinho, que ela só existe....”. O ultimo verso é interessante diz “E dá-lhe um amor tão lindo, que quando ela se for indo, ela vá contente de ter tido o teu carinho.” Isto é interessante porque quando estamos tristes se ficamos sempre tristes e miseráveis nós nunca ficamos alegres. É só quando tentamos ser felizes ou quando procuramos alegria é que a tristeza vai se embora. Também quando estamos tristes e encontramos outra pessoa que também está triste muitas vezes sentimos melhor porque ajudamos outro. No ajudar talvez demos um carinho à outra pessoa e sentimos melhor, como o título da canção nota, é uma maneira de “Enganar Tristeza” enganá-la para ir embora

    3. “É Preiciso Dizer Adeus” pg 31: Quando li estas letras pela primeira vez pensei cá comigo, quantas vezes é que Vinicius pensou nestas letras? Pelos menos oitos vezes talvez. Depois de ler umas quantas vezes cheguei à conclusão que como os poemas dele e como as outras letras que escreveu, esta fala muito sobre a vida dele e no que ele sentia. Todos nós sabemos que ele amou muitas mulheres e sabemos que quando não havia mais amor numa relação ele acabava com ela. Mas acho que isto não se aplicava só às relações amorosas mas também às relações profissionais. O Vinicius parece que sabia quando era tempo para dizer adeus, ele quando não sentia mais aquela paixão no que estava a fazer ou quando sentia que um projecto estava num bom caminho, ele partia para outro projecto como vimos durante do movimento da Bossa Nova. Eu acho que estas letras são uma reflexão de Vinicius, principalmente quando ele diz “é inútil fingir, Não te quero enganar...” eu acho que apesar de ter tido muitas mulheres ele amou-as todas e que não quis enganá-las, por isso que dizia adeus e acabava com o casamento. Sabemos que ele amou-as porque ele escrevia tanto sobre amor, paixão, sofrimento e tristeza, ele não poderia ter escrito como escreveu sem nunca ter sentido estas emoções.

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  11. 4. “Garota de Ipanema” pg 34: Nesta letra vemos um lado mais lúdico do Vinicius. Vemos como uma coisa tão simples como uma garota a passar trazer-lhe alegria. A beleza dela, o balanço do andar dela basta para engraçá-lo. É interessante como uma canção tão simples foi tão popular não só no Brasil mais pelo mundo inteiro. Ele parece que tinha um olho para as garotas bonitas. Pelo que vemos nas fotografias das mulheres dele podemos ver que ele mesmo gostava das meninas bonitas e jovens! Parece que foi as coisas mais simples da vida que lhe trazia alegria, meninas bonitas, amigos, a poesia, a música e o uísque. Para ele não precisava mais nada.
    5. “Samba em Prelúdio” pg 61: Vemos aqui nesta letra como uma pessoa fica depois de perder um amor. Vinicius descreve estes sentimentos duma maneira que eu até senti pena quando ele diz,“sem você meu amor, eu não sou ninguém” são palavras fortes. É como uma admissão duma derrota. Gostou sempre das palavras que Vinicius usa para formar uma imagem visual para o leitor “Sou chama sem luz, Jardim sem luar, luar sem amor, amor sem se dar” são palavras que sozinhas no têm muita emoção mas juntas enchem o leitor com paixão, trazem o leitor perto dor autor. Quando lemos as palavras sentimos o que ele sentia, são poucos que podem fazer isto.

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  12. 1-Porque foram todas as suas relações complexas, até mesmo com os vários parceiros que teve?
    “Livro de Letras” não é mais uma antologia de poemas de Vinicius e dos seus parceiros, é a história dessas parcerias que funcionavam e eram olhadas pelos envolvidos de maneiras diferentes. Das leituras que temos vindo a fazer, ficamos a conhecer um pouco mais do poeta e de como o mesmo dialogava com a vida e com todos aqueles que o rodeavam. E é nessa forma de viver, tão diferente daquilo que estamos habituados a ver, que essas parcerias de vida e de criação funcionavam de maneira tão distinta, embora perseguissem sempre um mesmo objectivo - a recriação ou reinvenção do poeta, quer para a arte, quer para vida.
    Em cada parceria o poeta recriava-se e deste modo apresentava aos outros uma nova leitura da vida, da estética poética e das relações entre os homens, porque se assim não fosse, ele não teria procurado parceiros tão diferentes daquelas pessoas que o rodeavam diariamente e esses parceiros eram, acima de tudo, uma porta para novas formas de expressão de ideias e de sentimentos como amor, medo e tristeza. Mas em todos eles as suas musas permaneceram, sobretudo a tristeza que é apontada por José Castello como a sua eterna (167).
    Nas páginas iniciais da obra em análise, Castello chama-nos à atenção para o facto de que com Tom jobim o poeta estava atravessava uma fase de crise de identidade e como tal insatisfeito com tudo e é na parceria com Jobim que reencontra um rumo na sua vida artística e juntos compõem as músicas de “Orpheu da Conceição”. Em suma, os parceiros foram, do meu ponto de vista, mais um reflexo da sua genialidade, e com eles criou, ensinou e aprendeu numa relação de tamanha proximidade que se assemelha a um casamento, tal como Vinicius durante a sua parceria com Toquinho: “Toda a parceria é um casamento”(115). E estas parcerias foram formas especiais de casamentos, tantos ou mais que aqueles que teve na sua vida doméstica. O poeta recheou a sua vida de novidades, de novas formas de arte e de música e as parcerias representaram um rejuvenescimento do ser e do criador artístico.

    2-Porque é a tristeza uma das suas musas?
    Muito provavelmente seria mais fácil pensar que as musas de Vinicius teriam sido cada uma das nove mulheres com esteve casado e porque não, cada um daqueles que com ele formou parcerias de criação artística. Mas afirma Castello que foi a tristeza a musa que o acompanhou ao longo da vida e ao lermos a sua poesia notamos que esta é na realidade uma das notas dominantes que surgem em qualquer altura e quando escreve sozinho ou acompanhado.
    Estamos aqui a escrever sobre um poeta que tinha a sensibilidade à flor da pele e que chorava por pena do mundo ou das mulheres e nunca por um aspecto único o que nos leva a crer que este era sem qualquer dúvida um homem bastante sensível (esqueçamo-nos aqui do episódio do animal a berrar no traseira de um restaurante) e essa sua forma única de sentir as coisas e experimentar os sentimentos levam-no a acreditar que é na tristeza que melhor se cria e melhor se exprimem os sentimentos.
    Ao falarmos em Vinicius e na tristeza enquanto uma das suas eternas musas, falamos simultaneamente num catalisador de emoções e sentimentos que só ele poderia entender. A tristeza surge em muitos dos seus poemas como forma de perda, como expressão da solidão de que o poeta fugia de forma constante como podemos ver em “Canção de enganar tristeza” (71) ou em “Tristeza e solidão” (83) de forma clara e inequívoca.
    Se é a sua musa como é dito no final desta obra, é na minha opinião uma musa revestida de um receio pelo silêncio e pelos momentos passados a sós com o seu espírito e pensamentos, mas que provocaram no poeta a criação de novos poemas e músicas que não deixam de ser tão geniais como aquelas em que está acompanhado.

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  13. 3-O amor continua a acompanhá-lo em todas as parcerias. Porquê?
    Poder-se-ia dizer que o amor é a chave para a compreensão a vida e da obra de Vinicius de Moraes e como tal seria fácil definir e até escrever sobre. Este pequeno vocábulo que desde sempre deu origem a tantas conversas, discussões e obras literárias de inigualável beleza, se reveste no poeta de uma outra magia. Estamos perante várias formas de conceptualização do amor, como aquele que ele sente pelas suas mulheres e que engloba uma certa atracção física, descrita sempre através da poesia e o amor que cultiva pelos seus parceiros, moldando-o tantas vezes à luz das suas necessidades, mas enaltecendo-o através de uma constante louvação e reconhecimento perante os outros da genialidade e da beleza que cada um deles tinha para o poeta. É óbvio que estamos a falar de uma forma de amor que se poderia aproximar de um amor de pais e filhos e talvez tenha sido isso que Toquinho sentiu sempre que se colocou no papel do responsável durante a maratona de espectáculos e por isso mesmo, podemos afirmar que estamos perante uma forma de sentimento cantada na sua poesia e na vida que era a expressão de uma comunhão pela criação de poesia na sua forma mais pura e mais complexa de compreensão: a música nos seus diferentes estilos e ritmos. E foi esse amor que deu origem a perfeitas obras de arte que ainda hoje ecoam nos nossos ouvidos, poemas que exprimem o amor como um sentimento puro e belo como é o caso de “Eu sei que vou te amar” (44).

    4-O encanto e desencanto ao longo da sua vida. Consequências.
    Ao pensarmos sobre a sua vida colocamo-nos quase de imediato uma outra pergunta: será que Vinicius alguma vez sentiu desencanto pela vida? Talvez, mas se o sentiu alguma vez, dá-nos a sensação que rapidamente procurava soluções para o ultrapassar o mais depressa possível e exemplo dessa sua busca pelo encanto são visíveis nas suas parcerias com Tom Jobim, Toquinho e até com Baden Powell ou Lyra com que se encantou pela divergência que os unia de forma inexplicável. Com Baden Powell houve um encantamento que os levou a uma descoberta do samba de raízes africanas e que embora tenha sido esta uma parceria de encantamento para Vinicius por tudo o que de novo encontrou com Powell, foi este último que ficou para encantado pela personalidade de Vinicius, até depois da sua morte, tal como Castello nota: “Agora era difícil dizer quem tinha enfeitiçado quem.” (61)
    De tudo o que lemos, quer em poesia, quer nas suas peças de teatro o poeta tentou sempre encantar e a sua relação com Toquinho é um bom exemplo dessa forma de estar na vida. O encanto foi sempre a nota dominante e os pequenos momentos de desencanto foram sempre superados através de novas parcerias numa vida em que o encanto dominou o seu percurso na vida, como amigo, amante, poeta, escritor e diplomata. O poeta deixou-se encantar na sua forma peculiar de estar na vida pelo mundo, pelos animais (veja-se o exemplo das horas que ele passava a observar os quatro animais do seu quintal) e pelas pessoas.

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  14. 5-A questão da autoridade nas parcerias é uma questão válida?
    Porquê colocar esta palavra quando Vinicius parece ser uma pessoa tão liberal e tão amiga do seu amigo? De facto tudo isto é verdade, mas temos que nos lembrar que estamos a falar de um génio criador que gostava de comandar as suas parcerias e isso não era novidade, pois no livro é referido que já o era assim quando adolescente.
    A alteração de possuidor de autoridade que podemos identificar em toda a sua vida é na sua relação com Toquinho, muito provavelmente, pela forma única como os dois experimentaram toda uma comunhão de vida e de arte e como o elemento mais novo da parceria funcionou ali mais como um pai e um guia do que como um aprendiz e que tinha sido a marca de todas as outras parcerias.
    A autoridade criativa também é outro aspecto a apreender de todos os encontros relatados neste livro de Castello, uma vez que estamos a falar de uma perfeita simbiose entre Vinicius e os seus parceiros e até com as mulheres com quem partilhou a vida, sabendo-se que o poeta gostava de comandar quando perante a criação de uma obra poética e de uma música, transformando-se numa entidade desprovida de autoridade quando estava perante factos do quotidiano como a gestão das suas contas e dos aspectos mais mundanos como a relação com o seu público e com a sociedade.

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  15. 1. No primeiro capítulo, há uma citação que eu gostei muito. Tom estava falando sobre enigmas e de todos os enigmas a “mais atroz para poeta era a mulher” (27). Eu pensei imediatamente que era verdade. As mulheres são mesmo bastante complicadas. Eu sei porque eu sou mulher. Tom continuou por dizer, “A mulher não é para ser entendida, é para ser amada” e também “não há [como] entender mulheres” (27). Estas palavras me fizeram sorrir e pensar porque realmente eu gasto muito tempo em pensar sobre essa mesma questão. Por que nós somos complicadas demais, demais para não ser entendidas? Uma pergunta para os homens do blog: vocês pensam nisso também? Questionam a razão pela qual as mulheres são difíceis demais? Bom, primeiro é importante reconhecerque os homens também são muito complicados, talvez não no mesmo jeito, mas complicados mesmos. Em segundo lugar, eu cheguei a conclusão de que a solução para as mulheres não parecerem tão complicadas é simples: Dá-nos o que queremos! As mulheres brigam porque elas não estão recebendo o que elas querem, por exemplo, em um relacionamento. É por isso que Tom disse que a mulher “é para ser amada.” Não há outra solução além de nos dar o que queremos e de nos amar. Se isso acontece, a briga vai parar, eu te prometo, a mulher vai ficar feliz. E eu digo isso porque, (1) eu quero ver um mundo, que por apenas um dia, os homens sejam completamente cavalheirescos e vivam para as mulheres e (2) porque eu, secretamente, quero iniciar um debate sobre isso para ver o que os homens pensam sobre isso. Em qualquer caso, eu acho que este assunto é um tópico bom para discutir, mas provavelmente não há uma só resposta.

    2. Eu quero comentar nas letras da música, “A felicidade” porque eu sempre gostei destas palavras, “Tristeza não tem fim / felicidade sim” (1-2). Estas palavras me fazem pensar sobre o nosso tempo aqui no mundo e como nós vivemos, talvez subconscientemente, pelos momentos felizes. É fácil demais para ficar triste, há muitas tristezas no mundo. Fica difícil estar feliz enquanto há tantas tristezas que estão acontecendo neste momento em nosso mundo. Eu acho que é o nosso trabalho nesta vida reconhecer quando os momentos felizes estão acontecendo e “agarrá-los” por todo o tempo que nós pudermos. Porque, como na música, a vida é como uma montanha russa—um dia sentimos felizes, outros dias tristes. Alguns dias, tudo dá certo e alguns dias é como se uma força superior quisesse que nós soframos. O nosso humor muda muito durante o dia; é como o tempo de Curitiba. Isso dito, a beleza da felicidade é tão rara e preciosa que nós precisamos ter cuidado em não perturbar este sentido quando acontecer; é necessário ficar preparado quando ela chegar: “Em busca da madrugada / Falem baixo, por favor / Pra que ela acorde alegre com o dia / Oferecendo beijos de amor” (27-30).

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  16. 3. Eu queria chamar a atenção à foto na página 81 na minha versão deste livro. Nesta foto, encontram-se Vinícius e Baden. Vinícius está com uma camisa preta e óculos de sol escuros enquanto Baden, com a sua pele mais escura está com uma camisa clara. Esta foto me faz pensar sobre a natureza misteriosa de Vinícius. Eu acho que temos esse seminário sobre ele porque ele não é fácil de definir e essa foto representa esta parte do caráter dele. Isso não significa que ele fosse uma pessoa sombria mas que ele tinha um elemento de mistério e talvez medo de mostrar si mesmo para o mundo. Neste capítulo Castelo falou sobre o grande otimismo de Baden e eu acho que esse elemento do caráter dele é exemplificado nesta foto. A justaposição entre as cores significam que um complementou o outro. Enquanto Vinícius era, às vezes, duvidoso sobre a vida e sobre faltando a vida, por causa do seu medo, Baden complementou a amizade com seu otimismo e seu interesse na influência africana, uma cultura Baden ajudou Vinícius a descobrir. Quando Vinícius não podia ver claramente, Baden ajudou-o a ver. Por isso a amizade foi tão forte como dito pelo Castello. A amizade foi feita de opostos mas também um parceiro complementou o outro, o que era necessário para o lado de Vinícius que era distraído pela paixão.

    4. No capítulo chamado “Toquinho ou o Resgate,” Castello comenta sobre a amizade entre Vinícius e Toquinho, ao dizer que, “Toquinho funcionou como o co-piloto ideal nessa busca do absoluto” e “Vinícius voava e Toquinho o arrastava para baixo. A parceria era um exercício de repuxar extremos e medir resistências” (116, 118). Eu gostei desta descrição da amizade entre eles e me fez pensar na importância de nossos amigos. Nós, como seres humanos, precisarmos dos outros para viver e até viver bem. Ninguém gosta da solidão nem pode funcionar bem sem suas interações com as outras pessoas. Nós somos as melhores versões de nós mesmos quando estamos em boa companhia. Cada pessoa precisa de pelo menos um amigo como o Toquinho para Vinícius, alguém que nos complemente. Assim, podemos crescer emocionalmente e é isso que Vinícius fez com Toquinho até a sua morte. Pensei nisso quando li as letras da música “Amigos meus.” Esta musica fala sobre os fortes laços entre amigos. As letras mostram como os amigos podem separar por algum tempo, mas além da tristeza nas horas de separação, sempre podem recomeçar a amizade em qualquer tempo e tudo ficará igual. Esse tipo de relação são as melhores e mais fortes amizades; um tipo de amizade, tenho certeza, que Vinícius tinha com todos.

    5. Na última parte do livro, “Vinícius consigo mesmo,” há uma música chamada, “Medo de amar” que me fez pensar no vídeo de Tan Hong Ming apaixonado. O vídeo nos ensina de não ter medo de amar porque não sabemos o que estamos perdendo enquanto nosso medo ficar escondido. Na música, “Medo de amar,” é óbvio que o narrador tem medo de aceitar o amor em sua vida. Talvez o narrador esteja pensando nas conseqüências potenciais de amor—a dor, a tristeza, a confusão, o estresse, além de outras emoções. É normal sentir assim; estas conseqüências de amor nos consumem profundamente. Nessas letras, o medo do narrador faz com que ele perca a chance de ficar com esta mulher e em seu lugar, ele fica com sentimentos amargos: “Agora vá sua vida como você quer / Porém, não se surpreenda se uma / outras mulher / Nascer de mim” (9-12). Isto é só um exemplo de ter medo de amar, se nós e o narrador desta música deixarmos a vergonha e pudermos amar sem medo, talvez possamos encontrar um fim feliz assim como Tan Hong Ming e Umi.

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  17. Peter Sufrin – Teatro em Versos
    Nas muitas maneiras, o filme “Orfeu Negro” é, no mesmo tempo, a história de carnaval, o mito grego de Orfeu e Euridice, é um retrato do pobre gente nas favelas do Rio.
    O filme é um exemplo da vida na favela do tempo passado – em geral, o retrato no “Orfeu Negro” não tem o problema sério do violencia de hoje, e os personagem do Rio, são, em geral felizes. Ē possível de ver “…o mito primitive para uma realidade igualmente primitive mas ao alcance de quem tenha olhos par aver: o morro, a favela, o lugar da discriminação onde são confinados em sua pobreza atávica os negros, que só têm uma alegria, o breve “momento de sonho.” (p. 10, Teatro em Versos.)
    Além disso, a representação da vida na favela no filme é muito artistica. Por exemplo, os caráters no filmes são formosas, e a paisagem é linda. Agora, a realidade das favelas no Rio é totalmente differente. Por exemplo, no filme “Cidade de Deus,” o retrato da vida nas favelas é carregada com a violência e drogas. Os problemas das favelas de hoje são sérios, completamente differente do filme “Orfeu Negro.”
    Sem dúvida, nas palavras de Carlos Augusto Calil, “Orfeu da Conceição” é uma obra-prima: “Com sua sinceridade e coragem, e uma calorosa fraternidade com os negros, Vinicius conseguiu realizar seu intento: produzir uma ‘legenda cheia de vida, tragédia, música, poesia e trepidação’. (p. 12, Teatro em Versos) Com a idéia de imitar a história grega, Vinicius tentava de mostrar a realidade triste do povo na cidade: “Vinicius procura ampliar seu significado sem investir no significante, cujos reais contornos desconhece. No seu ato, o desafio à poesia é representado pelo impalpável; seu eixo gira em torno de mistério, do fato não esclarecido.” (p. 13, Teatro em Versos.) Vinicius, com poeta, diplomata, e dramatista, quer mostrar seus talentos de revigorar arte com um retrato da vida:
    “Na obra teatral – realizada ou frustrada – de Vinicius de Moraes emcontramos todas as suas virtudes e virtualidades. Para aplicar sua fome de absoluto, nela se jogou por inteiro, correndo riscos, com o mesmo desassombro com que expunha sua personalidade à vista de todos. Fiel à sua fantasia de poeta feito dramatista, no teatro projetou as idealizações de que se nutria para lutar contra a negação do humano.” (p. 16, Teatro em Versos)
    Sobre tudo, é facíl de ver a “natureza de poesia” no texto da obra “Orfeu da Conceição”: “Eu quero Eurídice…sem Eurídice não poss viver. Sem Eurídice não há Orfeu, não há música, não há nada…o que resta de vida é a esperança de Orfeu ver Eurídice, de ver Eurídice nem que seja pela última vez!” (p. 89, Teatro em Versos) Esse exemplo do texto de “Orfeu da Conceição” revela a tendência de Vinicius de “escrever poesia na presentação teatral.” E possível de ver a “poesia” de amor nas palavras de “Orfeu da Conceição, e mais uma vez, Vinicius mostra sua abilidade de representar poesia na linguagem do seu teatro.
    Um outro exemplo de sua preoccupação com mulheres, na poesia e no texto de “Orfeu da Conceição”: “Mulher, ai,ai, mulher, Sempre mulher dê no que der, Você me abraça, me beija, me xinga, Me bota mandinga, Depois faz a briga, Só pra ver quebrar! Mulher, seja leal, Você bota muita banca, E infelizmente eu não sou jornal.” (p. 73, Teatro em Versos) Provavelmente, a história de amor perdido foi feito para Vinicius, com suas idéias trágicas das mulheres.
    Para concluir, a criação de Vinicius é uma grande interpretação do mito grego: “A ação dramatic pontilhada de acontecimentos dos quais o horror participa ativamente, não torna, em absolute, a legenda do Orfew grego ou do Orfeu negro uma história negativa do ponto de vista de sua aceitação humana e artistic…que representa a luta de um homem – no caso um ser quase divino, pela excelência de sua qualidade pessoal e artística – para realizar, pela música, uma integração total na vida so seu semelhante, posteriormente na vida da mulher amada e, desaparecida esta, em sua própria morte.” (p. 48, Teatro em Versos.)

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  18. Peter Sufrin – Livro de Letras
    “Vinicius foi um homem sem limites, que não admitiu poupar a vida como se ela fosse um estoque limitado e frugal de emoções, que não permitiu que a avareza triunfasse sobre a generosidade. Tournou-se, com os anos, um homem abundante, que não tinha nenhu respeito for sentimentos melidrados com o medo, o comedimento ou a mesquinhez.” (p. 9, Livro de Letras)
    Com certeza, Vinicius era um homem de “generosidade.” Ē possível de ver isso na poesia dele, com seus temas de amor perdido, de esperança de amor perfeita, na sua carreira de diplomata, na suas idéias socias: “Vinicius deixou uma bagagem poética – poemas, crônicas, ensaios, peças de teatro, ficção, letras de música – que reflete essa travessia do século.” (p. 10, Livro de Letras.”
    Nas suas palavras, Vinicius se descreve como um poeta principalmente. Na sua carreira com diplomata, Vinicius sempre lembrava seu destino como poeta, na vida pessoal e nacional do Brasil. Drummond concorda: “Vinicius é o único poeta brasileiro que viveu com poeta. Ele vivia intensamente e era de sua vida que arrancava a poesia. Quanto mais veloz era a vida, mais numerosos os parceiros, mais envolventes as mulheres, melhor a sua poesia. Essa multiplicidade emprestava ao poeta aquela imagem de que ele não acabaria nunca. Aquela coragem imortal.” (p. 11, Livro da Letras.)
    Com certeza, é impossível de separar as aspirações de Vinicius com poeta e com diplomata. Os conceitos de paz, amor, e generosidade são evidente na poesia e na diplomacia desse homem, no fim, um abraço da humanidade. Castello diga: “Não importa, na verdade, se as palavras do president foram exatamente essas: o poeta tinha explodido interiormente, não suportava mais o papel do diplomata sério que escrevia seus poemas na sombra da noite.” (p. 11 Livro de Letras) No fim, Vinicius viveu só uma vida, uma vida de cumprimento, alegria e a tristeza, mas sempre honesto com ele mesmo. Mais uma vez, Castello diga: “Aquele disordem, só muito mais tarde Lyra seria capaz de entender, era a outra face de um sentiment de caos interior, com seus dois preços: a criatividade e a confusão. Era também uma forma exterior tomada pela melancolia, sentimento incômodo que Vinicius carregava consigo, mesmo nos momentos de maior felicidade.” (p. 66, Livro de Letras) Um homem de sentimentos profundos, Vincius sempre viveu sua vida lutando com amor, com música, e com poesia. Para Vinicius, “A tristeza sempre funcionou como um motor de arranque. Uma motivação subliminar que escapa àqueles mais acostumados a enxergar a verdade nas aparências, mas sem o que nada funcionaria.” (P. 71, Livro de Letras)
    No fim, Vinicius é um enigma, difícil a penetrar, só com as palavras de poesia que revelam seus pensamentos profundos de amor e de sociedade: “…Vinicius era uma pessoa tomada por uma força mística que suplantava a potência artística…Vinicius costumava ouvir as canções de olhos fechados, como se estivesse sintonizado em alguma outra camada imperceptível da melodia, em busca do fio que, uma vez puxado, faria o sentido aparecer.” (p. 72, Livro de Letras.”
    Na poesia de Vinicius, é possível de ver a concepção duma alma torturada, só com o conforto de uísque de ajudar sua dor. Por exemplo, na poema “Poema Ausência,” ele diga: “Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos, Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir, E todos as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves das estrelas, Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.” (p. 155, Livro de Letras) O tema de amor perdido é muito forte na poesia de Vinicius, sempre com a esperança de um amor lindo. Ele é um poeta de paixão, do sujeito de amor sempre no passado e no futuro.

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  19. Esta semana vou fazer um comentário a uma das minhas letras/músicas favoritas da dupla Vinícius e Tom Jobim: “A felicidade.”
    Uma das primeiras coisas que salta à vista no poema de Vinícius é a forma como ele trata a felicidade como um estado transitório e frágil. Este aspecto é absolutamente óbvio logo no início quando lemos/ouvimos: “Tristeza não tem fim / Felicidade sim . . . Voa tão leve . . . Precisa que haja vento sem parar.” A felicidade que Vinícius começa a descrever logo desde os primeiros dois versos e continua depois através do poema é, tal como o amor que também sempre acaba, um estado ilusório que é necessário procurar, pelo qual é preciso lutar. Mais à frente esta ideia é sublinhada de forma literal quando o sujeito poético diz “A felicidade é uma coisa boa / E tão delicada também . . . E é por ela ser assim tão delicada / Que eu trato sempre dela muito bem.” Ao ler estes versos lembro-me de um outro texto de Vinícius em que o amor e a fidelidade são tratados de forma semelhante. Refiro-me ao “Soneto de fidelidade.” Neste soneto Vinícius começa por anunciar o seu propósito de cuidar do amor que sente para que este não se perca, não morra: “De tudo ao meu amor serei atento / Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto.” Tal como o amor que Vinícius procura cuidar por ser transitório, a felicidade é também um estado que não dura para sempre. Tal como o amor, a felicidade é também apenas um momento que importa fazer durar o máximo tempo possível. Mais: a felicidade que Vinícius descreve é também uma ilusão, como o Carnaval e como o amor, que se transforma em lágrimas quando termina dolorosamente: “A felicidade é como uma gota / De orvalho numa pétala de flor / Brilha tranquila / Depois de leve oscila / E cai como uma lágrima de amor.” A felicidade de Vinícius vive nos olhos da pessoa amada, como refere a estrofe que não foi musicada, e morre como o próprio amor. No fundo, talvez paixão e felicidade sejam a mesma coisa para o poeta.

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  20. Vinícius de Moraes neste poema/letra mostra uma vez mais a sua consciência aguda do transitório. Penso que aquilo que ele procurou constantemente na sua vida, no amor, nas suas parcerias musicais, não foi mais do que felicidade e paixão. Como ficámos a saber no documentário sobre a sua vida, ele não ficava ligado aos movimentos musicais que criou, nem se deu ao trabalho de tentar ganhar dinheiro com a sua arte, para além daquele indispensável para viver. Aquilo que ele queria tirar da arte era, pelo menos pelo que parece quando olhamos para a sua vida, era a felicidade. Da mesma forma ele abandonava os casamentos quando eles já não lhe podiam dar a ilusão. Vinícius talvez odiasse a mediocridade dos sentimentos vagos e tranquilos. Ele queria o que podia arrebatar. Queria montar constantes carnavais em si: através das suas paixões, da música, da poesia, das amizades. Algumas pessoas encontram a felicidade na calma, na rotina, em saberem o que os espera no dia seguinte. Vinícius talvez odiasse essa perspectiva. A felicidade para ele era um estado de ilusão que tinha que o levar até aos pontos mais altos. Talvez por isso, para si, a tristeza também fosse imensamente grande. Por a felicidade o fazer subir tão alto, as quedas devem ter sido dolorosas.
    Para terminar há um outro aspecto que me parece interessante nesta música e na sua relação com o poema. Parece-me que há um conflito constante entre melancolia e felicidade na própria música que a tornam num reflexo quase perfeito do sentido do próprio poema. Note-se, por exemplo, como os versos com que o poema se inicia, e que se repetem ao longo da música, “Tristeza não tem fim / Felicidade sim,” ora são ditos em tom melancólico, ora são ditos num certo tom alegre e optimista de Bossa Nova. Nesta oscilação no tom e no ritmo reside o próprio sentido do poema: felicidade como um estado transitório que surge rodeado de tristeza. É de forma melancólica que se inicia a canção e é também assim que termina, sugerindo que a paixão e a felicidade são meros intervalos da tristeza.

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  21. Ao ler O Livro de Letras, temos a nítida impressão de que outros poetas, compositores, músicos, ao passarem pela vida de Vinicius ganham sua luz própria, ou talvez, aprendam a brilhar com a mesma intensidade do poeta. Em muitos casos, estes artistas podem definir sua carreira em a.V e d. V (antes e depois de Vinicius), como nos casos de Tom Jobin, Baden Powell e Toquinho, que passam a ser mundialmente famosos, durante e após a parceria com Vinicius de Moraes. A ligação do poeta com esses gênios da música popular brasileira é intensa e profundamente marcada por mudanças tanto a nível profissional como pessoal. Da mesma forma em que Vinicius transformou a vida de Tom Jobin, Baden e Toquinho, assim como a de muitos outros artistas, a sua vida não teria sido a mesma sem as inúmeras contribuições de seus queridos parceiros. Cada um deles, de uma forma muita especial tocou a vida do poeta, transformando-o, ensinando-o e tornando-o único, como foi.
    Castello teve uma grande sensibilidade ao escolher os títulos referentes a cada um dos parceiros de Vinicius, que para mim reflete fielmente a relação entre Vinicios e cada um deles.

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  22. Tom Jobim ou o Sentimentalismo
    No caso de Tom Jobin, Castello aponta em O Poeta da Paixão, que “[...] Antonio Carlos Jobin não se torna apenas em um compositor de grande prestígio. Muda como homem.” (221) Em pequenas coisas, como trocar a cerveja pelo uísque, mas também “[...] Tom aprende que a poesia é a arte da não-razão.”(221). Mesmo depois de rompida a parceria entre eles, a ligação sentimental nunca diminuiu em intensidade e há rumores que nos levam a acreditar que após a morte de Vinícius, Tom, que já não bebia há anos, volta a beber de desgosto e por fim acaba ficando doente (câncer). Por outro lado, ao encontrar Tom Jobim, Vinicius, por volta dos 43 anos de idade, vivia uma crise de identidade, estava insatisfeito com a sua carreira no Itamarati e procurava mudar de rumo, mudar de vida. Encontrou em Tom o que procurava e sua vida deu uma reviravolta, como diz Castello, “[...] modificava a qualidade dos dias e o arrastava para uma aventura no cotidiano, pontuada por emoções triviais, sentimentos comuns, muitas vezes puro sentimentalismo – tudo aquilo que deveria ficar fora do xadrez racional do Itamarati.” (22) A parceria entre Tom e Vinícius é uma lenda, um mito nacional.

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  23. Baden Powell ou o Encantamento
    O mesmo aconteceu com Baden, que antes da parceria com Vinicius havia gravado uma única canção e tentava a sorte em shows de calouro, e após a parceria com Vinicius foi consagrado um dos maiores violonistas brasileiros, conhecido mundialmente chegando a gravar 40 discos no exterior. Vinicius também marcou sua vida para sempre, de uma forma que muitas vezes, como diz Castello, sua vida, seu comportamento se confundia com os de Vinicius. Após a morte de Vinícius, Baden muitas vezes expressava a sua saudade, em gritos de dor durante os seus shows, “[...] Volta Vinicius! [...] Sem você, meu Vinicius, eu não sou ninguém! Sem você, meu parceiro, eu não sou ninguém! (59) Em contra partida, Castello diz que o encontro entre Baden e Vinicius foi marcado pelo susto, mistério, desencontro, e como bem diz o título, pelo encantamento. Vinicius encontrou em Baden aquilo que lhe faltava, eram muito diferentes, mas de uma maneira sublime se complementaram. Vinicius acrescenta novos estilos a sua música, “Baden levou Vinicius de volta – ou não seria uma volta, mas um avanço – ao mundo do samba de raízes africana, desprovidos dos refinamentos da classe média.” (58)

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  24. Toquinho ou o Resgate
    Já o encontro com Toquinho aconteceu após ser cassado do Itamarati. Vinicius queria iniciar uma nova época em sua vida, que se afastasse de tudo o que tinha vivido como no Itamarati. Já sendo visto como um artista decadente e fora da sua época ao encontrar Toquinho, encontra também um “cúmplice”. “Vinicius e Toquinho se tornam sócios numa recusa – a da falsa grandeza – e numa afirmação – a do presente perpétuo, sem promessas e sem glórias, mas também sem rituais de salvação, onde tudo o que importa é a alegria”. Toquinho e Vinicius fizeram mais de mil shows juntos e Toquinho permaneceu ao lado de Vinicius até o o último minuto de sua vida.

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  25. Samba da Benção
    A canção que para mim marca a parceria de Vinicius e Baden é o Samba da Benção, que como em inúmeras outras canções fala sobre a necessidade de ser feliz, alegre “É melhor ser alegre que ser triste/Alegria é a melhor coisa que existe/É assim como a luz no coração.” Mas também da importância que a tristeza tem em nossas vidas “Mas pra fazer um samba com beleza/É preciso um bocado de tristeza/É preciso um bocado de tristeza/Senão, não se faz um samba não.” Como podemos ver em toda a história de Vinicius, a felicidade e a tristeza apesar de serem opostas aparecem o tempo todo como complementos. De fato se paramos para pensar um pouco, não podemos saber o que é a felicidade se não conhecemos a tristeza e vice versa. Ainda nesta canção Vinicius fala que uma mulher parece bem mais sensual, mais interessante se mostrar alguns traços de sofrimento, de um coração machucado. Talvez porque tendo ela já sofrido por amor, saiba reconhecer melhor os carinhos e o amor de um outro homem.
    No final da música Vinicius, associando-se ao amigo Baden, diz ser o branco mais preto do Brasil e em seguida agradece aos orixás e os seus amigos e antigos parceiros.

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  26. Eu queria fazer uma analise da música Berimbau, uma música que menciona a Capoeira e a cultura da Capoeira, da perspectiva de um capoeirista. Eu achei que as letras teriam a ver com a Capoeira mesmo. Depois de pensar um pouco mais, é mais provável que as letras são completamente aleatórias, mas o tema de contradição tem muito a ver com a Capoeira.

    “Quem diz muito que vai, não vai/e assim como não vai, não vem”

    Quando eu vi essa letra, a primeira coisa eu pensei foi que esse é um poema sobre malandragem. Na Capoeira, o melhor jeito de enganar o adversário é fazer ele pensar que se vai fazer alguma coisa, e não faz. Percebendo um ataque, adversário vai responder com um movimento que tenta se aproveitar. Para não cair numa situação onde se fica vulnerável, é melhor que se faça uma finta para enganar o adversário. Ou seja, é melhor que se diga que vai, e não vai. Como o movimento não foi completamente feito, se não fica vulnerável na volta. Então, assim como não vai, não vem. Isso é malandragem.

    “Capoeira que é bom não cai/e se um dia ele cai, cai bem”

    A outra regra na Capoeira é que não pode cair. Um bom Capoeirista sempre tem roupa limpa. Mas no caso que um capoeirista vai cair, ele deve cair com graça e estilo. Parece que nessa música, Vinícius usa Capoeira para falar sobre amor e a vida. Se pode falar também que, na vida, se deve tentar ficar em pé mas se um dia cai, tenta cair com graça.

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  27. Durante a época que eu estava começando a aprender português, eu reparei uma coisa – palavras em português que têm a ver com comida muitas vezes têm a ver com mulheres também. Na música Samba do Café, Vinícius brinca com as conexões entre café brasileiro e mulheres brasileiras. Parece na música, que o poeta está conversando com alguém que não é estrangeiro, e explica com se faz um café bom como no Brasil. Um café bom tem vários características que mulheres e Brasil em geral têm também. Qualquer pessoa que conhece café brasileiro sabe que é sempre doce, “como se fosse um beijinho de um mulher”. Doce, como o amor do povo brasileiro pelo país. Tem que ser forte como o bem que o povo brasileiro tem pelo país. O café bom tem que ser também pretinho, e cheiroso, talvez como as baianas que Vinícius gostavam tanto? Essa música comemora o orgulho do brasileiro pelo país, que foi incentivado pelo regime naquela época, e também compara duas coisas amadas no Brasil, café e mulheres.

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