Total Pageviews

Saturday, February 5, 2011

Castello e Faria Jr: as primeiras perguntas

Car@s estudios@s de Vinicius de Moraes e da Paixão,
Espero que a leitura da obra de José Castello (a biografia de Vinicius de Moraes) lhes esteja trazendo muitos temas para reflexão e muitos momentos prazer. Após discutirmos a paixão em sala de aula, assistir ao filme de Miguel Faria Jr. e ler, até agora, uma boa parte do livro de Castello, vocês provavelmente já se fizeram algumas perguntas a respeito desse material e da obra viniciana neles referenciada. Meu propósito aqui é compartilhar algumas das minhas próprias indagações, que poderão servir como exemplos ou ser úteis como quiserem (respondendo a elas, por exemplo).
1)    Qual é a relação de VM para com a criação poética, isto é, que papel tem o ato de escrever poesia na sua vida?
2)    É a sua vida comandando a sua arte ou o contrário, ou uma equação que se constrói de lado a lado, nas duas direções?
3)    Como pensar na obra de VM em relação ao modernismo brasileiro?
4)    O que levou VM a escrever poesia erudita e dela se afastar em certas ocasiões para, depois, abandoná-la por completo?
5)    Por que razão VM teria optado por se casar oficialmente nove vezes em um período de 42 anos?
6)    Qual é a importância do nascimento e morte desses casos de amor para a sua poesia?
7)    Que tipos de relação teriam o poeta e o homem de carne e osso VM para com suas musas?
8)    Que tipos de amor o poeta expressa por elas?
9)    Seria o amor de VM pelas mulheres marcado pelo egoísmo ou egocentrismo?
10)     Como o poeta retrata a paixão?
11)     Como VM lidava com os aspectos pragmáticos e cotidianos da vida?
12)     Que tipo de amigo era VM?
13)     Que aspectos da vida de VM estão relacionados com suas parcerias musicais?
14)     Por que razão teria acabado a parceria Vinicius de Moraes-Tom Jobim?

35 comments:

  1. 1) O documentário explicitou que a dissolução dos casamentos de Vinicius veio por meio de uma dissipação da paixão amorosa que ele sentia por suas mulheres. É a dissipação da paixão uma razão válida para acabar com um casamento?

    Eu acho que se fosse assim, todo mundo já ficaria divorciado! A dissipação da paixão é um elemento inevitável de qualquer relacionamento amoroso. Porém, não acredito que este desaparecimento implica também o fim da relação. Ao contrario, às vezes é só depois da paixão que uma relação saudável e mutuamente enriquecedora pode começar.


    2) Enquanto assistimos o documentário nós estudantes rimos muito e até ridicularizamos as decisões amorosas de Vinicius. Em que momento torna-se a busca contínua pela paixão uma busca ridícula?

    No trabalho do Castello, o autor menciona um momento tenso que Vinicius teve com a mãe, depois de anunciar para ela seus planos para se casar com Nelita. A mãe de Vinicius adverte que, ao romper um casamento, não é só a mulher divorciada que o poeta deixa para trás, mas “toda uma vida, com tudo o que nela acumulou” (240). Acho que se alguém tem que continuamente destruir as vidas dos outros para poder possivelmente atingir a experiência da paixão, esta busca torna-se em uma busca ridícula, com consequências devastadoras. Talvez por esta razão ríssemos tanto sobre a vida amorosa de Vinicius. Só pode jogar os dados da paixão algumas vezes; nove vezes já são demais.

    3) Mais que qualquer outra paixão, a paixão amorosa aparece ser a mais importante-- ou pelo menos a mais enfatizada--- paixão de Vinicius. Por que?

    A paixão amorosa parece ser a musa/fonte principal para todas as outras paixões de Vinicius (sua música, poesia, escrita, etc). Sua poesia gira em torno do amor e da sua extrema: a paixão. Acho que sem a inspiração tão profunda que Vinicius derivava da paixão, ele talvez não tivesse tornado em uma poeta tão celebrado. Alem disso, a paixão amorosa possui a capacidade de nos atormentar de uma forma distinta e especial, um fato que Vinicius provavelmente reconhecesse também.

    4) Tanto o documentário como o trabalho de Castelo tende a chamar Vincius de “poetinha.” Castelo discute como esse “label” tinha muito a ver com a criação de mito e a sua relação à paixão (149). Em que forma entrelaçam o mito e a paixão para criar um “poetinha”?

    Não tenho uma resposta boa para essa pergunta. Acho que quando um poeta se senta para trabalhar, ele sempre vai criando mitos enquanto escreve. Diria que, em geral, um poema tem que possuir um elemento mítico para poder apelar ao leitor. Obviamente para Vinicius o amor e a paixão não esclareciam todas as trevas na sua vida; de fato, essas emoções e experiências amorosas provavelmente o cegassem mais. Neste sentido, o sentimento detrás dos seus poemas de amor deve ser (em parte) um mito, ou pelo menos, uma mentira. Talvez o diminutivo de “poetinha” surgisse desta tendência; o fato dele continuar criando mitos de amor nos seus poemas faz com que ele seja considerado tanto ingênuo como sonhador, um “poetinha.”

    5) Que papel tinham os filhos de Vinicius na sua vida?

    Ao longo da biografia, há poucas referências aos filhos de Vinicius e ao cuido paternal que ele mostrava (ou não) para eles. Castello fala que Vincius era preconceituoso em relação às crianças e que os filhos do poeta sofriam da “síndrome do pai ausente” (229, 304). Em qualquer caso, seu desgosto para as crianças não impediu seu hábito de fazê-las. Acho interessante que por muito que Vinicius adorava a paixão, parece que não admirasse as consequências dessa paixão—os filhos.

    ReplyDelete
  2. Caley,
    Que bom ver suas perguntas e respostas --excelentes pontos de partida para nossas conversas aqui e em sala de aula! Um especial obrigado por ter sido vc a primeira a compartilhar seu material!
    D.

    ReplyDelete
  3. 1. Qual é a razão do seu medo em estar só?
    O VM sempre estava a busca da companhia, seja ela amorosa ou de simples convivência. A sua casa estava sempre aberta e todas as noites os amigos e conhecidos iam para lá para divertir-se ou ele ia para casa deles. Parecia que precisava de estar sempre com alguém, por isso as suas nove esposas, as suas amiguinhas, seus filhos e a sua querida bebida, um whisky, preenchia a sua vida e as suas noites. No filme deu a impressão que o VM sempre estava rodeado por pessoas. Será que estava a fugir da solidão ou de algo mais simbólico? Um homem tão cheio de emoção devia de ter alguns fantasmas no seu coração/mente. Clarice Lispector entrevista o VM e pergunta “Vinicius, você já se sentiu sozinho na vida? Já sentiu algum desamparo?” E ele responde “Acho que sou um homem bastante sozinho. Ou pelo menos eu tenho um sentimento muito agudo da solidão.”

    2. O VM e a sua busca da paixão.
    Os drogados buscam aquele “high” constante e querem reproduzir a excitação climática da primeira vez. Ao ver o filme, O VM, para mim, estava a busca da paixão do seu primeiro amor. Ele adorava as suas mulheres e as suas conquistas mas depois de um tempo jamais gostava delas e procurava outra mulher para satisfaze-lo. Ele ficava totalmente deprimido como um drogado, ficava bêbado e não ficava feliz até que não encontrasse uma outra mulher bonita e ainda mais jovem. As mulheres jovens pareciam preencher esse vazio da adolescência perdida e da inocência e da excitação total do primeiro amor. Mas ironicamente não penso que apesar de tudo que ele encontrasse essa paixão total que ele queria. Provavelmente era maior que a realidade.

    3. Os desastres da paixão do VM.
    Gostei da quinta pergunta da Caley no blog. O filme apresentou algumas das filhas do VM e as suas emoções continuaram a ser fortes. Não encobriram o seu pai mas sim falarem da realidade da sua ausência e até da sua ausência da realidade as vezes com o dinheiro e a verdade. Não foi fácil serem os filhos de um grande homem que era consumido pela paixão porque a realidade choca e infelizmente os filhos sentiram essas consequências. Também achei interessante que elas todas falarem do seu pai pelo seu nome “O VM” e não disseram pai. Achei também interessante que só foram filmadas três filhas e nenhum filho. Seria interessante se algumas das suas mulheres e conquistas teriam falado também no filme para apresentar o outro lado do homem. Gostei que ao ler VM um pensa num grande homem só capaz de grandeza, e de fato foi grande nas suas obras mas na sua vida foi um simples homem cheio de fraquezas.

    ReplyDelete
  4. Paula Schiavone (2a. parte)February 6, 2011 at 11:19 PM

    4. Um homem atormentado pela paixão e a vida.
    É interessante como um homem que fala de amor e paixão seja tão infeliz. Na entrevista de Clarice Lispector ele responde a duas perguntas de uma maneira atormentada. “Se a felicidade existe, eu só sou feliz enquanto me queimo e quando a pessoa se queima não é feliz. A própria felicidade é dolorosa. “ e “Eu só sei criar na dor e na tristeza, mesmo que as coisas que resultem sejam alegres.” O homem que fala de amor e paixões lindas só pode falar disso depois de emoções dolorosas. A dualidade da paixão que é a felicidade e dor ao mesmo tempo e é esta dualidade que ele é capaz de captar muito bem. Isto é uma das razoes que os leitores adoram a sua arte porque mostra a dualidade da realidade. Ele tem o pulso na vida diária em que todos nos podemos identificar.

    5. Os amigos de VM.
    Penso que, enquanto o VM não foi um bom pai e marido ele foi um excelente amigo. As suas colaborações intensas com artistas famosos levaram a sua arte a um outro lugar. Ele deu o seu todo. Os amigos artistas derem o seu todo e o resultado foi fenomenal. Será que a razão deste sucesso foi porque uma colaboração artística existe por um determinado tempo enquanto um casamento é por uma existência indeterminável sem fim? Cada artista da o seu todo e depois não exigem mais nada porque a sua criação esta satisfeita. A vida quotidiana, com as esposas e filhos, depois dessa criação artística exige mais e a este ponto já não da e por isso o VM sai da relação. A maioria dos amigos do VM foram do sexo masculino e isso também pode ser a diferencia de ter melhores relações com eles do que com elas.

    ReplyDelete
  5. 1) Castello, em muitos pontos de sua obra faz-se entender que o Amor e a Liberdade para Vinicius de Moraes andam juntos. Isso realmente pode ser aceito como verdade?
    Minha resposta a essa questão é contraditória, mas penso que o amor para Vinicius representava tanto a liberdade quanto a negação da mesma. Acredito que sua imaginação se sentia livre cada vez que se apaixonava. Sua inspiração fluía e as suas poesias nasciam de forma tão natural quanto um suspiro. A paixão trazia-lhe sim “liberdade” para fazer o que quisesse, sem pensar nas consequências, não se importando se estava casado, se tinha filhos ou compromissos com o trabalho. Por conta de suas paixões pediu transferência de seu trabalho no Itamaraty por muitas vezes para que pudesse viver sua paixão. Em uma ocasião escreveu uma carta ao Itamaraty dizendo: Preciso de fato voltar para o Rio. Não é um problema material, de dinheiro, ou de status profissional. Tudo isso é recuperável. É um problema de amor, pois o tempo do amor é irrecuperável.
    Por outro lado, esse amor também o aprisionava, aprisionava sua alma. Quando estava apaixonado, sentia que podia morrer se ficasse longe da sua amada; tinha a necessidade de sua presença ao seu lado o tempo todo (217). E segundo Castello, grande liberdade se segue quando a paixão se esvai. Aqui, já não suportando um amor “sem paixão”, Vinicius se sempre preso a esse amor e quer ser livre novamente.

    ReplyDelete
  6. 2) Vinicius tem medo da Morte? Qual é o papel que a Morte tem em sua vida?
    Vinicius responde a um jornalista que o indaga, já no fim de sua vida, se ele está com medo da morte, dizendo: Não meu filho. Eu não estou com medo da morte. Eu estou é com saudade da vida.
    Vinicius vivia sua vida ao extremo. Tudo em sua vida era grande, grandes paixões, grandes amizades, grandes angústias, grandes porres, grandes festas... E a vida para ele sem tudo isso não fazia sentido, era como se já estivesse morto.
    Acredito que já no fim de sua vida, quando começa as sessões de terapia com o psicanalista Younis Vinicius não tem a intenção de aceitar a morte, mas sim se preparar para ela. E talvez para ele a morte fosse uma “passagem” a uma outra vida, cheia de mistérios, reencontros com pessoas queridas, uma continuação da sua vida na terra. Por muitas vezes em sua poesia, Vinicius mostra um encantamento, chegando a vezes parecer uma obsessão, pela morte, descrevendo-a como uma mulher bonita que o seduz. Diante dela, ele perde todas as suas forças e se entrega (exatamente como acontece com todas as suas paixões). No poema “Romance da amada e da morte” (217), Vinicius fala da morte como se fossem velhos amantes. Ela não o assusta, mas o atrai.
    O final do poema “O Haver” (429) descreve seu sentimento em relação a morte de uma maneira espetacular, em meu ponto de vista: Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio/ Pelo momento a vir, quando emocionada/Ela virá me abrir a porta como uma velha amante/Sem saber que é a minha mais nova namorada.
    3) Vinicius se casou nove vezes, e sabemos que também teve várias paixões fora dos casamentos. Que ligação poderia existir entre suas paixões e sua poesia?

    A Paixão para Vinicius era como um “combustível” que o fazia viver e fazia girar tudo em volta dele. Vinicius precisava da loucura, do fogo, que a paixão causava para escrever seus poemas. Quando estava apaixonado era como se vivesse em outro mundo, paralelo com a realidade, mas sem nenhuma relação com ela. Não acredito que seus poemas nasciam por estar feliz, mas sim pelo sofrimento ardente que a paixão o envolvia. Quando essa paixão acabava, me parece que Vinicius sofria menos do que quando estava apaixonado. Os casamentos e os casos que teve com tantas mulheres era uma forma de manter esse fogo sempre aceso e suas inspirações sempre ativas.

    ReplyDelete
  7. 4) Através da obra de Castello podemos ver um Vinicius de Moraes “mulherengo”, “bêbado”, um pouco “paranormal”, “que tem medo fantasmas”, “acredita em duendes”, “vive em um mundo não real”. O que podemos pensar sobre esses Vinicius?

    Quando eu era pequena (e imagino que seja assim com a maioria das crianças), sempre acreditei que existissem dois mundos: um de conto de fadas, onde tudo era encantado, sempre tinha um final feliz e outro real, onde tudo era tão sério, cheio de responsabilidades. Por muitas vezes passava o dia vivendo no mundo encantado do conto de fadas, e como era bom ter um mundo só meu, tudo o que eu imaginava acontecia, do jeito que eu queria. Cresci ainda acreditando nesses dois mundos, mas agora um pouco mudado. O mundo da arte, da música, da poesia, dos romances, me fascina imensamente e é muito bom por um breve momento do tempo (ao se ler um romance, por exemplo) viver um pouco nesse mundo onde tudo é possível, tudo é místico, tudo é fantasia. Mas sei bem o limite entre esse mundo e o mundo real, onde tudo acontece pra valer, nada é de faz de conta, e pra cada comportamento há uma consequência.
    No meu ponto de vista, Vinicius nunca soube a diferença entre esses dois mundos, ou fazia o possível para não “saber”. A porta que separa esses dois mundos estava sempre aberta. Vivia a realidade como se fosse fantasia, o que ele queria, sonhava, fazia acontecer de qualquer forma. As três estruturas (Id, Ego e Superego) do aparelho psíquico descrito por Freud nunca não existiram para ele. Vinicius era só Id, buscando sempre o que lhe produzia prazer. Seus atos me leva a creditar que procurava o tempo todo por uma fuga para esse outro mundo e uma recusa do mundo real; e não era só na paixão que estava essa fuga, mas na bebida, na paranormalidade e até no fato de passar tanto tempo tomando banho de banheira. A paixão, assim como o álcool era uma espécie de “tele transporte” para seu “mundo”. Seus poemas nasciam do auge das paixões e das bebedeiras com os parceiros. Já encaminhando para o fim de sua vida passa horas tomando banho de banheira, o que ele mesmo explica que se deve ao fato de se sentir de volta ao útero materno.
    Vinicios tem uma necessidade “quase doentia”dessa fuga da realidade. E agora, faço uma outra pergunta pra quem puder responder: Por que essa dificuldade de Vinicius de lidar com a realidade? Será que algum fato de sua infância, não apontado por Castello, o causou algum tipo de trauma?

    ReplyDelete
  8. 5) Qual a relação de Vinicius com o dinheiro?
    Dinheiro tem ligação com responsabilidades e responsabilidades fazem parte da realidade. Vinicius por toda a sua vida teve problemas com relação ao dinheiro, por muitas vezes mostrando até certo desprezo por ele. O musical composto com o parceiro Carlos Lyra “A pobre menina rica” (226) conta a história de uma menina rica que se apaixona por um mendigo poeta. O amor entre os dois acaba quando o mendigo recebe uma fortuna e se torna rico. Nesse musical o dinheiro aparece como algo satânico.
    Vinicius, sempre que recebia algum dinheiro por algum trabalho feito, o embrulhava e um saco de plástico e o gastava com bebidas, pagando muitas vezes por rodadas e rodadas de bebidas a todos os clientes dos bares. Também quando se separava se suas esposas nada levava a não ser “sua escova de dentes”. Mesmo depois de se tornar muito famoso e ganhar muito dinheiro, nunca se importou com seu dinheiro. Suas esposas (Lucinha, Gesse) são quem organizam a sua vida financeira.

    ReplyDelete
  9. No documentário de Miguel Faria Jr., Tônia Carrero explica que Vinicius de Morães precisava do precipício da paixão e que era capaz de tudo para ter novamente a paixão. Essa declaração torna-se muito interessante para explicar os tipos de relação que o poeta e o homem de carne e osso VM teriam para com as suas musas. Vinicius usa o seu talento de poeta para conquistar as mulheres. Em O Poeta da Paixão, Castello escreve que: “Ao lado de Lucinha Proença, Vinicius se engrandece como poeta. Não tem nenhum pudor em fazer de sua poesia um instrumento de conquista e de sedução. Ao contrário. A vida, mais que nunca, move a arte-como o poeta sempre achou que devia ser” (210). Por outro lado, as mulheres inspiram Vinicius e lhe permitem escrever grandes poemas. É interessante lembrar aqui o comentário de Lídia Nunes que Castello relata em O Poeta da Paixão. Quando Nelita lhe fala das suas dúvidas, Lídia expressa: “O pior que pode te acontecer é ele escrever para você meia dúzia de poemas e depois você se tornar famosa” (239). No seu prefácio de O Poeta da Paixão, Castello explica que para Vinicius a poesia se ergue sobre emoções. Não é uma arte intelectual, mas sensorial. De modo que a relação do poeta para com as suas musas é uma relação intensa. As emoções que elas lhe fazem despertar levam a grandes poemas e assim temos de uma certa forma a vida comandando a sua arte.
    Castello dá-nos uma lista das mulheres de VM assim com uma definição da sua relação. Com Tati, temos o amor pela claridade. Com Regina Pederneiras o amor é drama e sofrimento. Segundo Castello, com Lili Boscoli estamos perante um amor extremo em que o homem busca uma mulher não para se encontrar, mas para se perder. Com Lucinha Proença, o amor deixa de ser um acto voluntário e se torna um sequestro da alma. Castello escreve que com Nelita a paixão é uma forma de obsessão. Com Cristina Gurjão a relação não é mais positiva, sendo essa caracterizada por um amor morno e desperançado. Com Gesse e Marta, o poeta procura o rejuvenescimento e a serenidade. De acordo com Castello, Gilda Mattoso é a relação em que se exercita o amor pleno, em que a paixão não é um fim, mas apenas um início. São mulheres diferentes que despertam em VM amores diferentes.

    ReplyDelete
  10. Nelita confidencia um dia: “É como se eu fosse casada com duas pessoas. Um homem que não bebe, que é amável, cozinha para mim, me enche de carinho; outro que bebe, me leva a discussões absurdas, tira a vida para me irritar” (243). Talvez o homem amável seja o poeta apaixonado e o homem que bebe seja o homem de carne e osso batalhando com os seus medos, principalmente o medo da morte, e as suas depressões. É também um homem que não se apega muito aos aspectos práticos da vida. Tanto no documentário como em O Poeta da Paixão, fica claro que a relação de VM com o dinheiro é quase de indiferença. Na verdade no que diz respeito aos aspectos pragmáticos e cotidianos da vida temos a impressão de que existe sempre alguém na vida do poeta que trata disso para ele. O casal Elói e Heloísa Lima está sempre pronto a recebê-lo em sua casa e até convoca para ele uma empregada. Castello relata também que Gesse Gessy soube organizar a vida do poeta com um rigor sem precedentes. Ela sai em luta pela cobrança dos direitos aurorais que lhe cabem e pelos quais ele raramente batalha (334). Castello explica que excluindo os anos de casamento com Gesse, “Lygia de Moraes será, ao longo de toda a sua existência, uma espécie de governanta zelosa e secretária incansável a comendar a vida do irmão”(345). Enquanto o poeta está ocupado a viver a Vida, há sempre alguém que toma conta da vida.
    Talvez o amor de VM pelas mulheres seja um amor marcado por um egocentrismo inconsciente. Em O Poeta e a Paixão, Castello lembra uma conversa entre Zequinha e VM. Na conversa que ele tem com Zequinha em relação ao amor, o poeta fica chocado quando Zequinha diz não acreditar tanto assim no que VM escreve sobre o amor. Castello escreve: “O poeta se choca. “Como não? Eu vivo para amar!” O sábio Zequinha prossegue: “É verdade. Mas não sei se devemos chamar isso de amor. Quem troca tanto de mulher, é porque não pode amar nenhuma. Você tem paixão, entusiasmo. Amor não sei se tem” (296). É o conceito de “precipício da paixão” destacado por Tônia Carrero.
    No entanto, VM casou oficialmente nove vezes num período de 42 anos. Talvez a razão pela qual ele optou por se casar nove vezes possa ser encontrada no poema “Soneto de fidelidade”. Segundo Castello, o terceto final do poema “Eu possa me dizer do amor (que tive):/Que não seja imortal, posto que é chama/Mas que seja infinito enquanto dure” descreve a visão que o poeta terá do amor ao longo de toda a vida: uma experiência avassaladora que traz a sensação de eternidade mas que acaba (109). Sendo assim talvez exista no poeta e, principalmente no início da relação, esta sensação de eternidade que o leva a querer casar.

    ReplyDelete
  11. Através do documentário biográfico e da leitura da obra de José Castello, tomámos conhecimento do impacto que Vinicius deixou não só na música brasileira bem como no círculo de amigos que ele “reconheceu”. Reconheceu sim, porque, segundo Vinicius, “os amigos não se fazem, reconhecem-se”. Maria Betânia chega a afirmar que crê de modo veemente que Vinicius veio a este mundo com uma missão única e cumpriu-a. Aqueles que tiveram a oportunidade de o conhecer e de fazer música com ele, tiveram uma experiência incrível. Não podemos deixar de parte certos pormenores da sua vida que o caracterizam e o distinguem.
    Por um lado, os seus amigos que participam no documentário falam eloquentemente desta grande personalidade que foi o Vinicius de Moraes. Chico Buarque, por exemplo, menciona que Vinicius compartilhava tudo com os seus amigos. Numa noite podia gastar uma quantia exagerada de dinheiro pagando bebidas para todos. Era sem dúvida um boémio inveterado.

    “Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver... Precisa-se de um amigo para se parar de chorar... Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive”.

    Ao longo da biografia, José Castello ao traçar a vida de Vinicius faz questão de enfatizar as diversas relações travadas entre Vinicius e os seus amigos. Sabemos que passavam as noites em soirées da alta sociedade ora fazendo amigos, trocando impressões, ora compondo letra e música. Castello fala-nos de muitos amigos que se tornam figuras-chave ao longo da vida de Vinicius, entre eles Manuel Bandeira e Octávio Faria (este último que, por sinal, passa a viver uma grande paixão platónica pelo poeta) . Segundo Castello, “Bandeira se torna o poeta, pai, áspero irmão a quem ele referirá ao longo da vida com uma mistura de reverência e orgulho. Vinicius também o chamará de paizinho, inaugurando com ele o gosto pelos diminutivos com que irá decorar, até a morte, seu amor pelos amigos.” (P.100). “Vinicius é um rapaz que cultiva o hábito de distribuir a sua alma aos amigos. E que sabe escolher esses amigos. A generosidade apenas o engrandece”.( P. 101). Parece-me que Vinicius sabia usufruir daquilo que os amigos tinham para oferecer; conhecimento, intelecto, talento....e, igualmente importante,....companhia. “Vinicius é um homem de muitas faces”, afirma Castello fazendo alusão à ideia de que companhias em excesso geralmente significam apenas uma forma disfarçada de solidão. “O poeta, porém, passará a vida coleccionando amigos e máscaras”.(P155). Penso que, para Vinicius, amigos, bebida e paixão foram elementos indispensáveis no tecer da sua poesia e para ir mais além, a essência do seu ser, da sua vida...sem os quais Vinicius não teria sido Vinicius.

    ReplyDelete
  12. Outra questão é o tentar entender o motivo que o levou a casar-se nove vezes...nove!!!! Depreendemos que, um indivíduo como Vinícius, possuidor de grandes emoções, de um talento incalculável, uma pessoa de uma sensibilidade incrível, tinha uma enorme vontade de viver intensamente, de ser feliz. E viver, ser feliz, para ele significava estar apaixonado. Logo, o conceito de felicidade reduz-se a amar muito e ser amado. Sentia aquele impulso constante de ir ao encontro de algo mais, algo novo, intenso. Vivia cada dia com uma intensidade como se fosse o último dia da sua vida. Escreveu, “É melhor viver do que ser feliz...”. Daí a sua vida ter sido uma constante procura dessa felicidade que era sinónimo de paixão e é como se ele confundisse amor com paixão, pois paixão é passageira, é algo que se desvanece com o tempo. No entanto, amor que pode advir dessa mesma paixão tem a capacidade de perdurar. Estou de acordo com a Caley ao duvidar que a dissipação de uma paixão seja motivo para acabar com um casamento. Os seus nove casamentos podem ser interpretados como resultado de uma busca em vão pelo impossível. Se bem que, sabemos que Vinicius tenha vivido essas relações intensamente. Neste sentido talvez seja injusto o meu comentário anterior, “busca em vão”. Sabemos também que essas mesmas “aventuras” serviram como fonte de inspiração para alguns dos mais belos poemas jamais escritos. Estas paixões eram de facto a chama que alimentava a sua poesia. Vinicius precisava desse constante precípicio da paixão para escrever....para viver. Que ter medo de amar não faz ninguém feliz é um facto, mas casar nove vezes, terá feito Vinicius feliz? Mas afinal de contas o que é a felicidade? Fica para uma próxima reflexão. Talvez este poema resuma o que foi dito.
    Quem já passou por essa vida e não viveu
    Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
    Porque a vida só se dá pra quem se deu
    Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
    Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não...
    Estava empenhado em viver.. o que quer que isso significasse. É como que se ele necessitasse de renovar a sua paixão assiduamente, sendo vitais o nascimento e a morte de cada um desses casos de amor, para dar continuidade à sua poesia. Daí a interligação profunda entre a sua vida/paixão e a sua arte de escrever , ambas se complementam e se constroem lado a lado.
    Uma coisa é certa, Vinícius viveu fazendo aquilo que amava, compartilhou tudo o que possuía e revolucionou a música brasileira, como ninguém antes o fizera, deixando uma “legacy” na cultura brasileira. Viveu rodeado de amizades, amou intensamente, sofreu de paixão (por escolha própria)... terá conseguido livrar-se da solidão que o atormentava? Terá encontrado a felicidade? Deixo a questão...

    ReplyDelete
  13. Pessoal,
    Que prazer foi ler esses postings!
    Obrigado a todos.
    Na sala de aula discutiremos esses e futuros contributos.

    ReplyDelete
  14. 1. Na página 13 da obra do Castello, o autor indica que, para V.M,. a poesia "não é uma arte intelectual, mas sim, sensorial." Isto quer dizer que há uma distinção entre a fonte de poesia, uma que vem do intelectual e outra que vem das emoções. Será que a poesia é uma arte sensorial e não intelectual?

    Concordo que, pelo que eu deduzi na biografia de V.M. escrito por Castello, e também através do documentário sobre a vida de V.M., que o poeta foi inspirado pelas grandes paixões da sua vida, pelas musas que entraram e saíram da sua vida. Com certeza que a fonte da sua poesia vem das emoções e da paixão. Porém, acho que a sua poesia também teve uma fonte marcada pela influência intelectual. A vida de V.M. foi marcada com uma família 'elite' e com uma escolarização e formação intelectual. Não é por acaso que a sua poesia também é intelectual, depois de contextualizar o poeta dentro de sua árvore genealógica e a sua escolarização particular e religiosa.


    2. Por que Drummond define V.M. como "o único de nós que teve a vida de poeta" (15)? O conceito de "poeta", neste sentido, é associado com uma vida de lazer, de muitas mulheres, de muitas viagens, e de muito álcool.

    Que pena que o conceito de 'poeta' é apenas associado com a vida de um malando! Isto cria uma imagem de poesia como um gênero que talvez não mereça ser levado a sério. Como a Caley já mencionou, os alunos da turma podem rir muito depois de assistir o documentário ou ler o livro do Castello, mas no final das contas, realmente vira algo ridículo. Talvez isto signifique "viver," para algumas pessoas.


    3. Será que há algumas semelhanças entre os estilos de escrever de Castello e o estilo de Gilberto Freyre em Casa-Grande & Senzala?

    Claro. O que poderia ser escrito em 3 páginas demora umas 40 páginas para explicar cada detalhe minúsculo. Isto é muito parecido com o estilo de Freyre, cheia de vocabulário colorido e romantizada. Além disso, os temas de família, tradição, mulheres descritas como objetos sexuais, e as primeiras experiencias sexuais com mulatas sao enfatizadas nos 2 livros. Castelo explica " o jovem Vinicius experimenta, pela primeira vez, as delícias do amor carnal...com a enigmática Rosário, uma mulata humilde... (42).

    ReplyDelete
  15. 4. Será que o conceito de 'paixão' é altamente glorificado?
    Paixão parece ser um conceito de extremos....por um lado, pode causar euforia inimaginável e por outro lado pode causar o 'derrame' total de emoções e de uma pessoa. Eu prefiro encontrar o equilíbrio do meio e ter paz no coração do que ter paixão....mas ao mesmo tempo, as minhas respostas aqui estão cheias de 'paixão.' Que conflito interno!

    ReplyDelete
  16. Como fã incondicional de Vinícius de Moraes, fiquei feliz ao saber que estava a ser oferecido um seminário exclusivo sobre o fenomenal poeta da paixão. Até ao momento, tem sido uma montanha russa de emoções e conhecimentos agradáveis, reveladores e de grande importância.
    1. Falando em fenomenal, qual a chave para entender este fenómeno da poesia?
    Segundo meus entenderes, a chave para perceber o fenómeno, ou seja, na parte em que ele pode ser entendido, acredito que está justamente nessa fusão de gosto esmerado, sentido de musicalidade e do ritmo, simplicidade verbal e naturalidade de expressão que Vinícius soube processar com aprimorada agilidade entre a ingénua frescura da tradição e da poesia do povo.
    2. Será que Vinícius era admirado apenas pela sua obra?
    Não, definitivamente que não. Vinícius era admirado não só pela sua obra. Antes de poeta ele foi uma pessoa querida e acarinhada por todos os seus companheiros, parceiros e amigos. Um homem que amava a sua cidade, um carioca de gema. Apaixonado pela vida. Aqui está a base de sua genialidade poética e não só.
    Antes de questionar, gostava de salientar um ponto importante que José Castello menciona no prefácio de seu livro Poeta da Paixão. Nas primeiras páginas, José Castello alerta o leitor para a definição de biografia, a tarefa do biógrafo e a importância do biografado. É para meu conhecimento e espanto, reconhecer que nunca tinha feito a leitura de uma biografia através desta perspectiva. José Castello diz que: “a tarefa do biógrafo começa, portanto pela constatação de uma impossibilidade. Escrever uma biografia é, digamos, logo uma tarefa impossível.”
    3. Porque será uma tarefa impossível? Ele também nos responde da seguinte forma: “se não damos conta de nós mesmos, o que autoriza um biografo a ter a ambição de dar conta do outro?” É no entanto “uma viagem, através de um outro, . . . e que supõe, de saída, uma ilusão: a do pleno conhecimento íntimo.” José Castello coloca-nos perante duas possibilidades na composição de uma biografia para aquele que insiste em ser biógrafo: ou este se agarra à sequidão dos documentos, à rispidez total das palavras, “à aparente objectividade de números, datas, cifras e assinaturas, e, fazendo pose de homem de ciência, ergue sua biografia sobre um amontoado de paradoxos que lhe trazem uma precária segurança, mas deixam escapar o principal, o saber, a alma do biografado” (11). José Castello escolhe o segundo caminho, do saber, da alma, “o do trato consciente da imperfeição.” E como o biografado é Vinícius de Moraes, foi com sua “paixão pela transitoriedade e elo riso, fundamentos de sua grande arte de viver,” que foi peça determinante na elaboração desta biografia. É, agora nítida, a compreensão do trabalho de um biógrafo que, foca em sua biografia o saber e a alma do biografado. Podemos no entanto afirmar que José Castello, não ornamenta a biografia de Vinícius com a “aridez dos documentos.” José Castello elucida o leitor da importância do simples. Dá ao leitor a oportunidade de melhor compreender os trâmites da vida do poeta num tempo real. A sua biografia é um relato de dados. É como uma escada que dá acesso a um certo andar. Cada degrau que se sobe ou desce representa o degrau da paixão do biografado. Nós, leitores, temos essa sensação. Subimos e descemos ao mesmo tempo que a paixão do poeta aumenta ou diminui. É difícil, ou até mesmo impossível chegar ao último andar. E, como sabemos Vinícius foi um apaixonado, “e a paixão sabemos desde os gregos, é o terreno do indomável” (11).
    Vou escrever agora um pouco sobre o documentário de Miguel Faria Jr: uma biografia do génio poeta Vinícius de Moraes que não foge a regra implícita na biografia de Castello.

    ReplyDelete
  17. 4. Até que ponto vem este documentário colmatar algumas questões que não tenham sido respondidas ao leitor de Vinícius?
    Este documentário não se restringe apenas à vida artística de Vinícius, sua vida pessoal, marcada por muitas paixões, nove casamentos e amizades duradouras, também retrata raridades em arquivos, depoimentos de amigos e familiares. Um ponto de partida para a reconstituição de uma trajectória sem paralelos no cenário cultural do país. A vida, os amigos, os amores de Vinícius de Moraes, autor de mais de 400 poesias e cerca de 400 letras de música. Este documentário alume a essência criativa do artista e filósofo do cotidiano e as transformações do Rio de Janeiro através de raras imagens de arquivo, entrevistas e interpretações de muitos de seus clássicos. Com depoimentos comoventes e curiosos de amigos e grandes personalidades brasileiras como Chico Buarque, Caetano Veloso, Ferreira Gullar, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Tônia Carrero, António Cândido, Edu Lobo, Francis Hime e Miucha. Interpretações de Camila Morgado e Ricardo Blat. Sem duvida que este documentário leva-nos mais perto do poeta. Dá-nos a sensação de presença desse génio entre nós. O espectador regride no tempo, perde a noção do presente e vive os momentos reais juntamente com o poeta e seus demais. O espectador passa a fazer parte desse cenário, dessa vida. O espectador/leitor vive a vida descrita no poema, nem que mais não seja por uns instantes. Eu vivo/sinto cada poema, cada canção. Um leitor/espectador apaixona-se ainda mais, porque, ao juntarmos à nossa leitura, que por vezes é imaginária, as imagens reais da essência criativa de Vinícius, completa indiscutivelmente o labirinto da vida de suas paixões. Torna-a tocável, admirável e avassaladora.
    5. Podemos então questionar. Que mensagem nos transmite este documentário sobre o casa descasa de Vinícius?
    Ao longo do documentário vemos e ouvimos de um Vinícius que estava bem enquanto casado. Após os casamentos desfeitos, ele ia embora praticamente com a roupa do corpo, mas levando consigo, no entanto, a certeza de que seu coração sempre estaria aberto para paixões novas e avassaladoras. Este era seu lema, encontrar (o que não era difícil) uma paixão nova, fresca. “Há sempre um novo amor a cada novo amanhecer, pra que chorar.” (Da canção Berimbau interpretada por Zeca Pagodinho). Vinícius tinha necessidade da mudança, dizia que “para viver um grande amor era preciso amar a segunda e a terceira namorada como se fosse a primeira.” Para Vinícius a paixão era a descoberta, a cegueira de que tudo era perfeito. Essa chama vai-se apagando e como tal há necessidade de ascender uma nova fogueira. Chico Buarque disse e muito bem, que Vinícius era desprendido de tudo, “não retinha sucesso, dinheiro ou mulher, ou coisa nenhuma, largava tudo na vida.” “Vai meu coração pede perdão apaixonado.”
    6. Será que Vinícius vivia sempre na ponta da navalha? Isto é, no precipício da paixão?
    É de meu entender que sim. No documentário de Miguel Faria, Tonia Carrero afirma, e muito bem, que Vinícius precisava desse precipício da paixão para o empurrar para esse mesmo precipício. Aqui, temos não só, o reencontro com a nova paixão como também com a poesia. Ele criava. E se não tivesse vivido da maneira que ele viveu (neste precipício), ele não teria sido mais feliz. “Ele era capaz de toda a baixeza para conquistar uma mulher, para voltar a reencontrar a paixão, esse fogo em chama que alimentava ele.” Casou nove vezes à busca dessa paixão, mas nunca a encontrou, por isso ele casou tanta vez. Ele viveu o tempo todo à busca da felicidade. Um ser humano insaciável e sedutor. “A hora do sim é o descuido do não,” e “pra que choram, choram se existe amor!” (Baden)

    ReplyDelete
  18. Concluo com alguns comentários feitos por quem conhecia bem o poeta. António Cândido disse: “Vinícius tinha horror à solidão, a maior solidão é do ser que não ama, que se serra em si mesmo, que se impede de mulher.” Vinícius era um homem sensível. Ele escrevia para fugir da emoção. “Escrever é fugir da emoção.” (Eliot) Gilberto Gil: “Vinícius trabalhou no cerne do afecto onde o diálogo se faz.” Vinícius estendia uma teia para atrair as pessoas. Carpe Diem de Vinícius. Vive a vida, a vida só se dá para quem se deu. Quem nunca curtiu uma paixão, não compreende Vinicius, não! Vinícius ajudou o povo brasileiro a ser feliz, quando ria, ria o corpo inteiro. Vinícius era um apaixonado pelo mundo, obcecado pelo dom de viver, ele sempre procurou fazer aquilo que lhe proporcionasse prazer.
    Quem pagará o enterro e as flores se eu me morrer de amores?

    ReplyDelete
  19. 1) De acordo com o comentário de Maria Betânia no documentário exibido em sala de aula sobre a vida de Vinicius, "o poeta veio ao mundo para nos ensinar". Qual seria esta lição? Certamente, é a lição de coragem para amar ou se apaixonar loucamente por tudo aquilo que temos e que fazemos na vida. Vinicius viveu o "Is just to love and be loved in return" em tudo o que fazia, na melhor forma que estava ao seu alcance como homem e poeta; a paixão pelas mulheres, pelos amigos e principalmente pela liberdade de fazer o que mais gostava – o seu envolvimento com a arte.

    2) O poeta Vinicius de Moraes encontrou a felicidade que tanto procurava?
    Se a felicidade não foi encontrada nas suas loucuras de amor, certamente ele a encontrou na criação poética, na música e nos momentos que passou com os amigos e parceiros.

    3) As paixões vividas pelo poeta foram inconseqüentes a ponto de causar danos a outros?
    Sim. Mas como tudo na vida oferece riscos, com a paixão, certamente não poderia ter sido diferente. As paixões do homem Vinicius se misturaram com as necessidades de criacao do poeta. Eram fontes de energia que enriqueciam e sustentavam suas poesias. Dessa forma, a vida real se mesclou com a vida artística do poeta em grande parte de sua carreira. O real e a poesia passaram a viver lado a lado.

    ReplyDelete
  20. 4. Vinicius de Moraes viveu uma vida feliz? ----Só ele poderia responder a esta pergunta. Depois de ler o livro pensei muito sobre esta pergunta. Os amigos adoravam-lhe, as mulheres adoravam-lhe, e o povo adorava-lhe mas ele parece que nunca estava satisfeito. À parte dos seus “quatro amigos parceiros” ele trocava amizades, trocava as suas mulheres, ele viveu em vários países nunca ficou muito tempo num lugar. O facto dele beber muito indica que ele não estava feliz. Ele precisava da bebida para se encorajar ou especialmente nos fins da vida, para esquecer. É possível que ele não estava satisfeito consigo mesmo ou com o homem que era. É claro que ele teve tempos felizes na sua vida. Eu penso que ele gostava muito de viver mas no fim não viveu muito feliz. Não sei porque mas talvez foi o sofrimento das suas paixões o que lhe fez infeliz.

    5. A minha ultima pergunta é uma que eu queria fazer ao Vinicius se ele estivesse connosco, o amor torna-se em paixão ou a paixão torna-se em amor? Como temos muitas definições de paixão esta pergunta é difícil de responder porque a paixão pode ser amor, e também pode ser ódio, a paixão pode ser muitas coisas, mas no fim não passa de ser um sentimento muito forte. Muitos dizem que não podemos ter amor sem paixão, será que podemos ter paixão sem amor? Na minha opinião o amor é o sentimento que conduz a paixão. Por exemplo pessoas más têm paixão, só que as paixões deles são más. A paixão do Hilter era construir uma raça de pessoas brancas com olhos azuis, embora isto ter sido uma ideia horrível foi a paixão dele, ele amava essa ideia, ele sonhava com ela como fosse o amor da sua vida. (talvez não, mas isto é só um exemplo). Para mim eu penso que o amor se torna em paixão por que de qual quer forma bom ou mau tem que ter um fogo para acender a paixão, e o amor é o fogo que acende a paixão.

    ReplyDelete
  21. 1. Ao ler a biografia do Vinicius de Moraes uma das coisas que me surpreendeu mais foi as grandes amizades que ele teve e a quantidade de pessoas famosas que passaram pela vida dele. É claro que essas pessoas inspiraram a sua vida e os seus trabalhos poemas/canções etc. de forma positiva e negativa. No lado negativo temos o caso dos seus encontros com os seus amigos onde costumavam beber muito, por fim, segundo o que lemos e vimos no filme esses rituais tiveram um grande efeito na saúde dele. No lado positivo parece que a bebida lhe dava coragem. Quando ele bebia ele não sentia-se tão tímido, até parece que ele se sentia mais à vontade com as pessoas. Os seus amigos musicais inspiraram-lhe e ajudaram-lhe transformar os seus poemas em música. Tudo e todos que passaram pela sua vida tocaram no coração dele. Lendo as suas obras vemos que esses encontros de amizade e de amor foram transmitidas nas suas obras, só basta olhar para os títulos.

    2. Por que razão VM teria optado por se casar oficialmente nove vezes em um período de 42 anos?---Quando li o prefácio do livro pensei muito nesta pergunta e depois de ler o livro cheguei à conclusão que ele casou oficialmente com elas todas porque amou-as e apaixonou-se por elas. Parece que ele quando se apaixonava por algo ele dava tudo o que tinha, as suas emoções todas e dedicava-se àquela pessoa ou obra. E também como ele teve valores religiosos para ele o casamento é a maneira religiosa de entregar-se a outra pessoa. As nove esposas de Vinicius têm um papel muito importante na sua vida e na sua relação com a paixão. Cada uma delas representa uma coisa diferente ou uma atracção diferente que para o Vinicius torna-se numa paixão nova e diferente. Elas representam beleza, fortaleza, juventude, mistério, drama, perigo. Muitas são temas dos seus poemas, outras são sentimentos que conduz a suas paixões. Eu penso que ele talvez não tivesse sido tão grande ou tão famoso se não tivesse amado como amou ou se não se tivesse apaixonado como se apaixonou.

    3. É a sua vida comandando a sua arte ou o contrário, ou uma equação que se constrói de lado a lado, nas duas direções?-------Eu acredito que o Vinicius nasceu para ser poeta. Lendo a genealogia dele podemos ver que a poesia e a música corria nas suas veias paternas e maternas. Na minha opinião á sua vida é que comandou a sua arte, um dos primeiros poemas que ele escreveu foi um poema de amor para a menina Cacy a sua namoradinha. E daí ele começou escrever o que se sentia sobre a sua vida, os seus amores, a sua religião, os seus amigos e as suas experiências. Ele escrevia conforme o caminho da sua vida ia comandando. Ele escrevia sobre os seus pensamentos, as suas emoções, as felicidades e tristezas da sua vida e também de que o que estava passando no Brasil ou em outros lugares onde vivia.

    ReplyDelete
  22. Onde começa e onde acaba a ficção em Vinícius de Moraes?
    José Castello inicia a sua biografia de Vinícius com um sugestivo: “O ar está cheio de murmúrios misteriosos. Uma tempestade de primavera desenha . . .” Mais à frente conta algumas das lendas sobre o nascimento do autor que quase parecem colocar o Vinícius numa espécie de pedestal mítico: “Uma lenda familiar diz que o bebê é tão franzino e feio que, ao vê-lo, sobressaltada, a mãe volta o rosto em direcção à parede” (25). Um leitor que nunca tivesse ouvido falar de Vinícius (e que não tomasse atenção às informações paratextuais) pensaria que estava perante um romance. De facto, a biografia escrita por Castello parece muitas vezes mais um texto totalmente ficcional – em que um narrador heterodiegético procura sistematicamente anular o carácter necessariamente subjectivo de uma narrativa biográfica ao mesmo tempo que claramente ficcionaliza a personagem – e a figura de Vinícius um herói mítico da arte e do amor. Para além disso, Castello frequentemente apresenta as suas próprias opiniões como dados adquiridos. Neste contexto, faz todo o sentido perguntar: onde começa e onde acaba a ficção neste texto biográfico? Obviamente que para responder a esta pergunta eram precisos dados que nós não temos aqui. No entanto a questão, mesmo sem resposta, leva-me ainda a uma outra questão que me parece também muito interessante:

    Até que ponto Vinícius não é uma personagem construída em grande parte pela própria vontade de Vinícius?
    Há uma tendência, quer no texto de Castello, quer no documentário que vimos, para considera-lo como alguém que viveu uma espécie de identidade pessoal autentica. Alguém que não se preocupou com as convenções sociais; alguém que não planeou a sua vida, simplesmente a viveu. No entanto, tendo em conta a ficção que se criou à volta do próprio poeta, não haverá no Vinícius real algo de também conscientemente ficcional? Algo que criou as bases para essa ficcionalização posterior? Se pensarmos na relação entre o homem e o poeta em Vinícius facilmente pensamos numa determinada tradição de artistas dionisíacos em que ele claramente se insere: uma tradição romântica que concebe o génio artístico como alguém que se destaca pelas suas características naturais. Porém, o Vinícius foi também um poeta que por vezes escreveu obedecendo a estruturas clássicas rígidas; foi um diplomata; foi também o homem que depois de uma juventude próxima de uma religiosidade extrema se aproxima do socialismo; e foi ainda um homem para quem, aparentemente, o lado cerimonioso do casamento teve um grande valor, apesar da efemeridade das relações. Não haverá em todas estas facetas, algumas delas paradoxais, uma tentativa de auto-construção consciente?

    ReplyDelete
  23. 3) Haverá alguma continuidade em termos de forma na maneira como Vinícius se relacionou com os seus amigos, com os seus parceiros artísticos e com as suas mulheres?
    Outro dos supostos aspectos da personalidade de Vinícius que, parece-me, foi repetido com alguma frequência no documentário sobre o poeta é o seu aparente grande valor como amigo; alguém que é amigo do seu amigo. Contudo parece que nem sempre foi assim; a sua história com Waldo Frank representa um outro lado mais sombrio: afinal Vinícius simplesmente quebrou a sua relação de amizade com ele deixando de responder às cartas que recebia dele. Esta atitude de desinteresse não está muito longe daquilo que ele descreve como o que pode levar ao fim de uma relação amorosa: o fim do interesse no outro que acontece com o fim da paixão. Parece-me que Vinícius foi sempre alguém que procurou o outro em função das suas próprias necessidades, isto no sentido mais negativo do acto. Isto é, todos nós muitas vezes procuramos nos outros algo de que necessitamos; porém também muitas vezes procuramos o outro sem ter qualquer interesse em receber algo em troca. Em relação a Vinícius parece que ele sempre queria algo do outro: mesmo que esse algo fosse apenas um conjunto de sensações, ou a simples inspiração artística, que o outro lhe poderia fornecer. Vinícius não podia trabalhar isolado, necessitava de impulsos externos como a paixão e a amizade. Penso que neste contexto se compreende melhor também a sua relação com os seus parceiros artísticos. O que ele procurava neles era afinal de contas a inspiração para criar; tal como as mulheres estes só poderiam fornecer inspiração enquanto despertassem o interesse, despertassem a paixão pela arte.

    4) José Castello diz, sobre Vinícius, que ele é um “homem-esponja” (120). Em que consiste essa dimensão do Vinícius?
    Vinícius mendigava inspiração por todas essas pessoas que depois acabava por abandonar. Da mesma forma, penso eu, ele procurava inspiração também em ideias, daí a sua religiosidade inicial e o seu socialismo posterior. Há no entanto algo curioso em relação a esta faceta de Vinícius. Apesar de ter sido um poeta que procurou absorver muito e de muitos lados, as temáticas da sua poesia não mudaram muito ao longo do tempo. Vinícius foi o poeta da paixão não só porque precisava da paixão para escrever, mas porque quase sempre, de uma forma ou de outra, escreveu sobre paixão. Penso que será em parte por isso que ele continua a ser chamado de o poetinha: pela pouca abrangência temática da sua obra.

    5) Qual a relação entre a religião e a paixão em Vinícius?
    Esta relação em Vinícius parece-me interessantíssima. Tal como penso que há uma continuidade na forma como o poeta se relacionou com as suas mulheres, os seus amigos e os seus parceiros artístico; penso também que há uma continuidade na maneira como a religião e a paixão marcam dois pontos fundamentais na sua carreira. A religião marca o primeiro desses pontos. A sua juventude, como Castello analisa com bastante profundidade, foi marcada por uma grande religiosidade, que serviu de tema para muitas das suas poesias iniciais. Mais tarde a paixão ocupou o seu lugar e tornou-se no tema mais focado. Ambas serviram claramente a Vinícius como formas de inspiração para escrever – o que as une; porém, penso eu, ambas serviram também para separar em duas a poesia de Vinícius: por um lado há aqueles poemas em que as paixões aparecem sublimadas (religião) e, por outro lado, temos aquela poesia das paixões carnais (paixão amorosa). Curiosamente, ou não, o Vinícius parece ter tentado viver a ambas as paixões (a religião e a carne) de forma profunda, entregando-se totalmente. Ou terá ele entregue-se mais a uma do que à outra? Ou, mais importante ainda, teria ele vivido as paixões carnais como viveu se não tivesse primeiro vivido a sua sublimação?

    P.S.: tenho consciência que acabei por fazer mais perguntas do que dar respostas. A culpa é do Vinícius...

    ReplyDelete
  24. 1) No documentário que a gente assistiu na semana passada, alguém falou alguma coisa interessante. A pessoa falou que naturalmente, Vinícius de Moraes era uma pessoa solitária e quieta. Mas pelo poder de uísque, ele se virava um homem apaixonadamente social. Em vez de solitário e quieto, ela aparecia alto, enérgico, e charmoso, e por isso ele se tornou viciado em álcool. Nós podemos achar conexões entre a relação de Vinícius com álcool e a sua relação com as mulheres?

    Eu acredito que tem uma conexão mesmo. Repara que na pergunta eu usei a palavra “apaixonadamente”. Paixão geralmente é uma palavra que se usa em relação ao sentimento compartilhado por dois amantes. Mas parece para mim que esse sentimento inspirava o Vinícius além das suas relações românticas. Sim ele amava apaixonadamente, mas também vivia apaixonadamente. Como eu já falei, o uísque ajudava com isso. Mas uísque não ajuda muito com a criação de poesia inspirada e fenomenal (ou nem sempre). Vinícius se tornou viciado em outra coisa que se permitia escrever apaixonadamente. Relações com mulheres. Vinícius é “o poeta da paixão” porque a paixão sempre inspirou ele, pela vida toda. Pelos sentimentos fortes que ele sentia, por vários mulheres, ele achava a inspiração parar virar uma pessoa apaixonadamente criativa. Um poeta apaixonadamente orientado. Por isso, ele também se tornou viciado em relação com mulher.

    ReplyDelete
  25. A vida de Vinicius de Moraes é a história de contradições.
    Um génio musical, ele teve um talento para a poesia e as palavras de amor. No mesmo tempo, ele teve problemas com a alcoól e as mulheres. Ele foi casado muitos tempos, e o conceito de amor perdido é muito forte nas suas canções e poemas.
    Nas palavras de Carlos Drummond de Andrade: “Vinicuis é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural.” (p. 11, Castello) Com certeza, o tema de paixão é muito forte nas obras de Moraes. Ele foi um poeta das “encruzilhadas.” “Versões díspares, relatos contraditórios, incongruências aparecem, de ponta a ponta, em sua história de vida. Vinicius foi, sem dúvida, um grande ator.” (p. 17, Castello) Essa idéia de Vinicius com um “grande ator” é muito interessante nas observações da sua vida. Por exemplo, suas viagens em Europa indiquam essa idéia de mudar frequentemente, de ter muitas identidades na sua poesia e musica. Um outro exemplo é sua abilidade de ter um interesse nas muitas mulheres no mesmo tempo, um exemplo de sua tendência de esconder uma verdade triste, cheia de melancolia.
    A conexão entre a poesia e a vida oferece uma interpretação da sua vida baseado no tema de paixão, um exemplo de Vinicius otimista, sem os pensamentos tristes. Para Vinicius, a paixão não é totalmente uma coisa perdida, mais ajuda ao senso da beleza na vida. Além disso, o tema de amor é muito forte nas suas obras, na sua poesia, na sua musica, um tema significante. Vinicius não era um homem solitário, e apesar das problemas com as mulheres nas muitas casamentos, ele teve muitos amigos durante toda a vida.
    Vinicius era uma pessoa séria tambem:
    Quando Vinicius fala em “alma,” não pensa certamente nessa metade immaterial do ser humano a que as religiões atribuem o toque de Deus e o dom da imortalidade. Fala da also absolutamente mortal – algo eterno, apenas, enquanto dura – que aparece sobretudo no amor e, mais ainda, em sua forma extrema: a paixão. (p. 14, Castello)

    Na realidade, os temas religiosos são perto do tema da paixão, a idéia de amor sem limites, para uma mulher e para Deus. Com certeza, o conceito da paixão religiosa e diferente de amor humano, mas tem similaridades. A união mística e religiosa é um exemplo de amor para Deus, enquanto o amor para uma mulher é uma confirmação dos sentimentos e emoções humanas. Para Vinicius, o reconhecimento da paixão era um idéia humana e divina.
    No fim, a importância de paixão na vida de Vinicius oferece uma introspecção nos seus conceitos do amor. Ele foi uma grande artista, com muitos pensamentos profundos. Na personagem de Vinicius, é possível de ver uma alma na presença dos seus emoções poderosos. Vinicius é uma testemunha ao conceito das contradições da paixão na vida.

    ReplyDelete
  26. 2) No livro do Castelo, Vinícius fala a Tati que “só o Shakespeare me acalma” (no meio dos fantasmas). Logo depois, Castelo declara que “Shakespeare termina sendo uma peça decisiva na formação do poeta” (Vinícius). Podemos achar similaridades entre os temas e estilo do Vinícius e do Shakespeare?

    Ainda não li muitas poemas do Vinícius, mas minha resposta para essa pergunta é sim e não. Na minha opinião, é difícil ser um poeta e não ter influência do Shakespeare. Se pode ser um compositor de Bossa Nova e não ter influência das obras do Vinícius? Então, sim, eu acho que dá para perceber o estilo do Shakespeare em algumas obras do Vinícius. Provavelmente mais nos sonetos. Vinícius mesmo falou que só na prisão do soneto se pode atingir a liberdade maior, e quem é mestre do soneto é o Shakespeare. Agora, em relação as temas de amor e paixão devem ter menos similaridades. O tema de amor em poesia muda bastante dependendo na cultura do país. Vinícius e Shakespeare escreviam bastante sobre amor, mas temos que lembrar que o Shakespeare era inglês durante século 16, e Vinícius era bem brasileiro. Por exemplo, as obras do Shakespeare falam bastante sobre amor spiritual. As obras que falam sobre sexo, por exemplo soneto 129, falam mais sobre sexo como um vício e um pecado. Eu não acho que Vinícius entendia muito bem a idéia de amor spiritual. Amor spiritual é aquele amor que não morre, e provavelmente não tem muito a ver com paixão. O tema de amor nas obras do Vinícius aborda mais amor que acontece num momento. Amor que aparece e desaparece como uma explosão – poderoso, perigoso, mas fugaz. Imortal o amor do Vinícius não era... Só na sua poesia.

    ReplyDelete
  27. Vinicius: é ele um homem/ser humano comum, ou pelo contrário, estamos perante um ser diferente em todos os aspectos?
    Vinicius de Moraes é sem sombra de dúvida um homem especial que se destaca de cada um de nós, não somente pela sua genialidade enquanto poeta, compositor, escritor, jornalista ou dramaturgo, mas sobretudo enquanto ser humano. De facto estamos perante uma pessoa que demonstra ter uma sensibilidade diferente em todos os momentos da vida humana, fazendo dessa sensibilidade a chave do seu sucesso. Pela leitura da biografia de Castello, temos o privilégio de conhecer uma vida recheada de momentos de autenticidade, isto é, o “poeta da paixão” foi acima de tudo um homem apaixonado pela vida e com tudo o que ela lhe ia oferecendo nos mais diversos momentos. Não estamos perante um ser humano semelhante a cada um de nós, comuns mortais, mas sim perante uma alguém que demonstra continuamente a todos aqueles que o rodeiam de que a simplicidade é de facto a melhor maneira de se estar neste mundo, apesar de esta sua característica lhe ter trazido alguns dissabores ao longo da vida, como foi o caso do seu afastamento da vida diplomática.
    Com o poeta, não só aqueles que tiveram a honra de fazer parte da sua vida, mas também todos nós que o lemos e que apreciamos a forma como o mesmo compõe de maneira distinta, nas mais variadas fases da vida (estas sim, únicas), aprendemos a apreciar tudo o que o mundo e a vida nos oferece e, mais importante ainda, aprendemos a avaliar a nossa vida, realizamos como esta nada mais é do que um fugaz momento.O “poeta da paixão” tinha à flor da pele uma sensibilidade extrema que lhe possibilitou uma busca aberta e em nada preconceituosa, daqueles que eram para ele os elementos mais importantes da vida: a juventude, através da sua própria reinvenção e, a verdadeira definição de paixão e amor, estes últimos e, na minha opinião, apenas encontrados no final da sua vida e quando o mesmo afirma “estar com saudades da vida”.

    ReplyDelete
  28. É a poesia de Vinicius condicionada pelo tema da morte?
    O poeta foi influenciado ao longo do seu percurso poético (e para mim é de facto um percurso poético, pois a música é ela em si poesia) pelo medo que sentia da morte e, em muitas das suas peças poéticas podemos ver esse medo espelhado. Simultaneamente e, tal como Castello tão bem refere, era uma pessoa que tinha um lado mais negro que se revelou sobretudo no final da sua vida e, quando a doença tomava já conta da vida, sem esquecer que o medo que tinha de deixar a vida se tornava cada vez uma realidade incontornável.
    Mas não foi apenas ele que se dedicou a este tema ao longo da sua vida, muitos outros poetas e escritores e, até quantos de nós não tem um medo incontrolável do desconhecido? E o que é a morte senão um salto sem retorno para o desconhecido? A morte reflecte acima de tudo o desconhecimento do que somos, de onde viemos e para onde vamos, atravessando cada um de nós à sua maneira e revelando-se consoante a personalidade de cada um. Pois bem, Vinicius era um homem de tal maneira sensível que até nos locais mais sagrados tinha direito a um lugar de destaque e, a maneira como olhava para a vida e para a morte, nada mais é do que uma maneira corajosa de se expor, de expor aquilo que de mais recatado e secreto temos: o medo do desconhecido, embora o poeta o transmita de maneira algo distinta e para alguns de maneira absurda ou até mesmo ridícula.
    Deste modo, podemos concluir que a morte, o medo de que dela se sente e até mesmo a vontade de saber mais sobre este tema, atravessam a vida do poeta e do compositor, sem nunca deixar que isto o torne num ser mais negro de forma constante, mas sobretudo, dá-lhe forças para continuar e até rir da vida da melhor maneira possível. A morte é sem qualquer sombra de dúvida o aspecto mais difícil de compreender na existência humana e, através das suas superstições, crenças e medos, Vinicius de Moraes foi um exíguo transmissor do que a mesma acarreta para a condição humana, contornando-a de forma subtil, mas encarando-a sempre através dos seus poemas de despedida a cada um daqueles que ia partindo e, já no final da sua vida encontrando a paz e considerando-a até como a sua “nova namorada”, aquela de quem não poderia fugir.
    Pessoalmente considero que é no final da vida que o poeta realiza de forma inequívoca o que é a vida, ou seja, um ciclo que termina na morte e do qual nenhum de nós poderá alguma vez escapar, deixando para trás os vícios, os prazeres e sobretudo aqueles de quem gostamos. Vinicius viu partir tantos, conversou com tantos depois da morte e pressentiu que a hora deles tinha chegado, pressentido anos mais tarde a sua própria hora e dando-nos, a nós, simples passageiros desta vida, um pouco de paz sobre a mesma, mas deu-nos acima de tudo uma lição de vida: viver ao máximo durante esta passagem, sobretudo não tendo medo e assumindo as nossas próprias acções e o que delas resulta, tal como ele fez com a bebida.

    ReplyDelete
  29. Os seus casamentos são eles o reflexo de um homem inconformado?
    Os nove casamentos de Vinicius de Moraes são o reflexo da sua maneira de estar na vida, ou seja, o poeta desejava acima de tudo a felicidade e os bons momentos, procurando continuamente o elemento-chave da vida: a paixão.
    Não me parece que estejamos perante um homem inconformado com a vida, mas muito mais perante alguém que sabe avaliar os seus próprios sentimentos e que, quando considera que a paixão acabou e com ela a inspiração (note-se de que este é o poeta que escreve intensamente sempre que uma nova paixão invade a sua vida) é necessário partir, descobrir logo que possível uma nova paixão que o inspire e lhe traga de volta a sua “veia artística”.
    Os casamentos de Vinicius são o espelho daquilo que é o poeta, uma pessoa que nunca pára de procurar o novo, o desafio e se possível o que de mais secreto a vida lhe possa oferecer, através do perigo de uma mulher casada ou tão mais jovem que nem ela sabe como reagir aos galanteios de um tão experiente e tão sedutor homem, como o poeta se revelou ao longo da sua vida.
    O que é a paixão para Vinicius? Sentimento fugaz?
    É antes de mais o sentimento pelo qual o poeta rege a sua vida, sem nunca esquecer que este é um sentimento que é acima de tudo “uma caixa de Pandora”, um corrupio de surpresas e de momento imprevisíveis que lhe temperam a vida. O poeta tem a clara noção de que esta sua “dependência” deste sentimento tão forte irá sempre moldar a sua vida e as suas escolhas, sendo que estas serão mais ou menos dilatadas no tempo, consoante a paixão se mantém, mais ou menos tempo, acesa. Mas a paixão, é como ele próprio o sabe um sentimento fugaz e, é nessa busca constante daquilo que lhe trará a plenitude de sentimentos que o poeta atravessará a sua vida fugindo entre casamentos, sem nunca se permitir estar sozinho, momentos esses em que entra em profunda depressão, pois olha para a vida como se de um espaço vazio se tratasse.
    Com isto, penso que a paixão em Vinicius é antes de tudo o motor da vida, sempre dependente do amor, sentimento este que o poeta nunca se permite viver em pleno, uma vez que não lhe dá tempo para se instalar e assim o poder admirar e porque não, saborear. O amor distingue-se assim da paixão, uma vez que seria um sentimento mais duradouro e que penso que o poeta só reconhecerá quando analisa a sua vida e vê em Tati o verdadeiro amor da sua vida.

    ReplyDelete
  30. Porque se rodeia o poeta sempre de tanta gente, fugindo aos moldes da sociedade e, sempre que possível, gente mais nova em idade e ideias?
    Vinicius como tantos outros génios da arte, tem uma necessidade incontrolável de se sentir mimado e reconhecido pela sociedade, embora esse reconhecimento seja para ele visível através daqueles que com ele partilham momentos de criação e de conversa mais ou menos filosóficas. A certa altura Castello dá-nos a conhecer um comentário menos simpático e até maldoso de Vinicius de Moraes sobre Neruda e os seus discípulos, mas na realidade também ele se rodeou sempre de pessoas que o admiravam e para quem era honra poder conversar e ouvir o poeta. Ao mesmo tempo, observamos que também Vinicius procura uma ou outra pessoa para com ele trabalhar, sobretudo pelas suas características artísticas e pessoais, na minha opinião, uma vez que é através dessas pessoas e daquilo que elas lhe trazem de novo que o poeta se reinventa constantemente, superando-se e surpreendendo todos.
    Estamos perante uma figura que tem uma necessidade incontornável de se recriar, na busca de novos sons, como foi o caso da Bossa Nova, rodeando-se para isso daquilo que poderemos chamar de sangue novo: artistas que lhe davam a conhecer novos mundos e para os quais o poeta contribuía através da sua incrível musicalidade, desafiando-se e aos outros, o que lhe traria tantas vezes críticas e falta de compreensão por parte dos seus mais velhos amigos e colegas, aqueles que se mantinham tradicionalistas e que consideravam que o poeta não deveria afastar-se dos moldes mais clássicos da poesia, sobretudo quando se aproxima daquelas formas que não eram consideradas arte superior. O “poeta da paixão” é uma vez mais, figura de destaque que marcou a diferença, através da forma como procurou e como usou os mais novos como fonte de inspiração, sabendo-se hoje que esteve sempre um passo mais à frente daquela que era a tendência para cada uma das épocas que atravessou ao longo da sua vida. Mas destaca-se ainda mais por ter sabido sempre cultivar essas amizades, recheando-as de verdadeiros ensinamentos sobre o que é a mais pura e verdadeira das amizades.

    ReplyDelete
  31. 3) Será que Vinícius já sabia, antes de entrar numa relação, que ela ia acabar?

    Muita gente provavelmente acha que a resposta dessa pergunta é obvia. Vinícius era namorador malandro e nunca quis ficar com só uma mulher. Mas eu não sei. Por que se casa então se não quer só uma mulher? É possível que ele estivesse procurando amor de verdade toda vez que ele entrou numa relação? Talvez seja muito diferente no caso do grande poeta, mas a gente conhece muitas pessoas erradas antes de achar a pessoa perfeita, não é? É muito difícil entender a cabeça do Vinícius. Agora, ele fala alguma coisa numa poema que me faz duvidar que ele quer só uma mulher. No “Soneto de fidelidade”, ele escreve “Eu possa me dizer do amor (que tive):/ Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure.” Eu não sei se ele está falando que o amor vai acabar porque nós vamos terminar, ou que nós não vamos viver para sempre então nosso amor vai morrer também. Seria engraçado se ele escrevesse uma poema chamada “Soneto de fidelidade” que fala que ele não quer mais manter a fidelidade.

    ReplyDelete
  32. 1. Quais qualidades fazem com que ele seja tão irresistível ao povo? Ás mulheres?

    Não acho que VM era um brasileiro típico da época em que vivia; ele era uma pessoa mais misterioso em várias maneiras. É possível que alguém que não esteja tão facilmente definível poderia também ser o mais intrigante? Neste caso, eu acho que sim. Provavelmente, o elemento misterioso do seu caráter particularmente intrigavam as mulheres. As mulheres, como muitos homens, gostam de desafios e muitas vezes se sentem a necessidade de conquistar o coração de um homem, e o que é mais gratificante do que a conquistar o coração de alguém tão misterioso e com tanta profundidade mental como um artista, um poeta ou um músico? Em muitas das suas relações mencionadas, a mulher ficou fascinada pela vida poética dele e a mente que ele cultivava como artista. Entretanto, estou com certeza de que deve haver outros elementos trás a sua habilidade de intrigar as pessoas. VM foi representado no documentário como um homem com carisma e uma habilidade talentoso para encantar até mesmo os mais difíceis de pessoas (i.e. os pais de uma menina jovem, com quem VM eventualmente se casou, que inicialmente desaprovavam o estilo da vida de um poeta). Também do documentário, nós aprendemos que VM amava seus amigos, e que ele era sempre a pessoa quem ligava para os seus amigos para ver se tudo estava bem com eles. Parece que ele, tantas vezes, deu de si mesmo—no seu trabalho, no seu amor e nas suas amizades—e acho que esta falta de resistência pessoal compunha uma grande parte da essência carismática de VM. Então, talvez fosse uma mistura de muitos elementos e interpretações diferentes que fizeram VM tão irresistível para aquelas pessoas que ele intrigava.

    2. Qual é o significado da sua falta de estagnação? Por exemplo, a falta de fidelidade com as mulheres, a tendência de sempre viajar, as suas parceiras sempre em mudança, etc.

    Estou pensando que um tema comum com as minhas perguntas e respostas terá a ver com as tentativas constantes de VM de fugir da realidade. É verdade que o mundo é impiedosamente exigente e imprevisível. Talvez, mesmo sem querer, VM tenha adotado uma perspectiva budista de viver a vida cotidiana como seria os últimos meses da sua vida. Então, o que é que vocês fariam se a qualquer momento de qualquer dia, a sua existência neste mundo cessasse? Continuaria com o mesmo parceiro, ficaria na mesma cidade, se importaria saber mais uma história de uma pessoa? Muitas pessoas não se importariam; porem, minha suposição é que VM é igual aos outros neste caso. Eu não necessariamente aprovo nem quero justificar as suas decisões e açoes, só talvez quero sugerir que o que ele fizesse com a sua vida é que a maioria de nós só sonhamos em fazer com a nossa.

    ReplyDelete
  33. 3. Por que é que Vinícius gasta todo o dinheiro que ele ganha?

    Da perspectiva de um aluno de pos-graduação, o fato dele gastar todo seu dinheiro me parece completamente absurdo. Eu sei que eu e muitos outros só desejam ter o rendimento disponível para poder gastar nas contas de patronos desconhecidos num restaurante então, como é possível que alguém poderia ser tão despreocupado com a única coisa que faz o mundo girar? Embora que fosse famoso e ganhasse um salário apropriado, sempre era incapaz de mantê-lo. De fato, como evidenciado pelo documentário, ele odiava o dinheiro. Mas, foi por causa do ódio que ele jogou todo fora? Eu gostaria de pensar que ele fizesse isso por causa da bondade no seu coração, que foi só uma outra maneira para ele espalhar o seu amor e encanto. Entretanto, eu acredito que há uma razão mais sombria para sua falta de mesquinha monetária. Assim como todos os outros aspetos da sua vida, parece que o dinheiro era apenas mais uma paixão para dispor uma vez que fosse obtido. A carregar o peso de algo já conquistado, parece tão árduo para alguém quem tão fortemente desejado a viver a vida desleixadamente e despreocupado. Talvez o dinheiro fosse apenas mais um obstáculo conquistado que ele não queria carregar mais. Em nunca guardar o seu dinheiro, ele se libertou não apenas da riqueza monetária mas também de tudo que poderia ancorá-lo e mantê-lo em um só lugar. O lado mais leve de interpretar a sua incapacidade de não guardar dinheiro poderia ser que ele era só generoso, nunca preocupado com si mesmo e só com os outros. Talvez ele pensasse que poderia aumentar a felicidade dos outros por dar o seu dinheiro. Como todas as questões que dizem respeito ao VM, essa também parece ainda permanece um mistério.

    4. Por que Vinícius não revelava muita informação sobre si mesmo, mas era tão curioso sobre as vidas dos outros?

    Como foi mencionado na minha resposta à primeira pergunta, VM parecia sempre dar de si mesmo em aspetos diferentes da sua vida. Parece que ele fez isso tantas vezes que talvez o usasse como um mecanismo para esconder de si mesmo. Evidente pela sua tendência para uísque, VM frequentemente tentou de fugir da realidade. VM fez assim através de vários meios: amor, álcool, poesia, música, etc. Em particular, outras pessoas pareciam ser o veículo através do qual ele transmitiu sua criatividade e paixão. Através dos outros, VM foi capaz de cultivar o seu talento artístico e encontrou consolo na monotonia da vida cotidiana, além de ter a oportunidade de desenvolver tópicos para a sua escrita. Foi óbvio que a utilização dos outros não era a única motivação na sua curiosidade sobre eles. Para alguém que queria viver a vida como se fosse seu último dia na terra, parece natural que agarraria qualquer oportunidade para aprender sobre as pessoas na sua vizinhança.

    ReplyDelete
  34. 5. Por que VM chorou e só quis ficar nos passeios de crianças quando visitou a Disneyland?


    As montanhas-russas e os passeios para os adultos provavelmente lembraram VM da realidade—assustadora, imprevisível—uma dimensão que ele tantas vezes tentou fugir através do álcool, do seu desejo pelas mulheres e também do processo “out of body” de escrever poesia. Uma perspetiva mais lógica de interpretar essa trepidação seria que ele sentia um tipo de recaída de estresse pós-traumático por causa da sua experiência de “quase morte” enquanto estava numa viagem de avião tumultuada no passado. Entretanto, da leitura de Castello e do documentário, parece que sua psique e o que poderia provocar seu medo é uma questão um pouco mais profunda. Talvez esteja uma combinação de raciocínio lógico e psicológico que provocaram seu lapso súbito ao medo e à tristeza. O processo que incitou esta reação poderia ter começado com seu medo inato de altura por causa da sua experiência traumática, enquanto sua negação da realidade poderia ter provocado seu temperamento triste e derrotado. Paralisado com ansiedade pelos passeios assustadores, VM poderia ter visto seu medo como uma representação da vida e de toda a sua imprevisibilidade; pois ele poderia ter encontrado consolo nos passeios de crianças, porque eles sintetizam sua maneira despreocupada de viver a vida e sua falta de apego à realidade e aos obstáculos da maioridade.

    ReplyDelete
  35. Castello informa que Vinícius não era imunizado contra um tipo de pessimismo quando um futuro assustador ameaça: “Estávamos no ano infernal de 1963. O país entrara na ebulição que pronunciava o golpe militar do ano seguinte, e um poeta, enquanto isso, desistia da arte, sentado em um barzinho do centro do São Paulo. Tudo fazia sentido. Talvez sentido demais—e por isso se tornava insuportável” (71). O ato de desistir da arte mostra que Vinícius realmente estava inconsolável por causa da sombra do golpe iminente. Mas o medo, a melancolia eventualmente despertou sua alma de lutador:

    A tristeza em Vinícius sempre funcionou como um motor de arranque. Uma motivação subliminar que escapa àqueles mais acostumados a enxergar a verdade nas aparências, mas sem o que nada funcionaria. O país guarda de Vinícius de Moraes a imagem de um homem alegre, obstinado pelo prazer, irreverente. É bom que seja assim, mas essa não é toda a verdade. (71)

    O gênio criativo de Vinícius aparece mais definitivamente na abilidade de tornar tristeza em alegria, mesmo se por um momento só. Uma derrota rende uma pequena vitória. No mesmo ano, por exemplo, Vinícius compôs o hino da União Nacional de Estudantes.

    ReplyDelete